Eu ainda morava em
Parnaíba quando o presidente Richard Nixon foi apertar a mão de Mao Tse Tung e
conversar ao pé do ouvido com o elegante, polido e diplomático
primeiro-ministro Chou En-Lai em Pequim. Isso há uns 43 anos, mas lembro
perfeitamente, como se fosse hoje, que a China era pro Ocidente, feito aquele
morador da nossa rua, até nosso vizinho do lado, que sai todo dia pra trabalhar,
nos cumprimenta à distância. Faz o básico permitido pela civilidade, mas que a
gente não sabe como é por dentro a casa e muito menos o quintal da casa dele.
Aquele feito do
presidente norte americano mexeu com todo mundo. Anos depois eu já trabalhava e
estudava no Rio de Janeiro e costumava aos finais de semana andar pelo centro.
Gostava de frequentar livrarias ali pelas ruas da Carioca, Gonçalves Dias e da
Assembleia. Numa dessas ocasiões observei pela vitrine um livro cujo título me
chamou a atenção, “Quando a China Despertar...”, do francês Alain Peyrefitte.
Eu não cheguei a comprar este livro devido minhas parcas economias de
estudante.
Mas resumindo, falava
sobre a expectativa do Ocidente em relação ao país mais populoso do mundo e sua
economia para o futuro. Estava baseado na descrição do imperador Napoleão
Bonaparte em 1816 de que a China não estava fadada à decadência. “Quando a
China acordar... o mundo tremerá...”, teria dito. O certo é que passados tantos
anos a profecia de Napoleão e tão bem analisada na obra de Peyrefitte está se
cumprindo. A China, pelo menos até a semana passada era o país invejado e
copiado por tantas outras nações, desde a Ásia, África até Cocal de Telha,
Timon e Morro Cabeça do Tempo.
Pois muito bem. Essa
semana eu estava lendo uns portais de Parnaíba, que coincidentemente comemorava
seus 171 anos de elevação à categoria de cidade, quando me surpreendi com as
declarações do economista e professor aposentado Djalma Lacerda falando sobre o
espantoso crescimento de Parnaíba em relação ao cenário nacional. Segundo os
dados do IBGE apontados pelo professor, em 2011, Parnaíba teve um crescimento
real no seu PIB de 9,71%. No ano
seguinte teve uma pequena queda, ficando nos 8,89%, mas ainda superior à média
brasileira.
Ainda segundo o
professor Djalma Lacerda, e nisso ele tem razão, pois ninguém pode negar, há um
significativo fortalecimento dos setores do comércio e dos serviços e novas
indústrias, mesmo pequenas se instalando, dois shoppings centers. Só isso já
foi motivo de muita gente sair pelas ruas e calçadas da Parnaíba soltando
foguete e chutando balde de lixo com o sorriso de orelha a orelha. Eu acho
presunçoso e apressado esse ufanismo em já considerar este momento como mais um
ciclo econômico da Parnaíba.
Sem querer colocar
areia de cemitério no otimismo de muitos, acho que devemos ter cautela. O
momento ainda não deve ser encarado como As Mil e Uma Noites na Parnaíba. O
momento econômico brasileiro, e o de Parnaíba por extensão, devem ser avaliados
sob todas as correntes. O conjunto de situações internas e externas, seja na
economia e na política, merece antes uma reflexão mais aprofundada e sem essa
de soltar traque e bomba de quinhentos debaixo de lata de óleo. Reconheço que
este crescimento instantâneo ainda precisa ser reavaliado.
Houve crescimento sim,
mas ainda faltam no tecido econômico parnaibano alguns ingredientes importantes
como indústria produzindo e o comércio tendo mercado certo e duradouro, vias de
escoamento, percentual de emprego e reserva de mão de obra, capacidade de
investimentos, capital e tantos outros. Não podemos contar como desenvolvimento
pleno apenas pela observação apressada da quantidade de escolas e população
estudantil de níveis médio e superior. Ainda falta é muito e pelo que ainda vão
falar tem é légua pela frente até alcançar o fim da muralha onde a Parnaíba está
dentro.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor