Poucas horas depois de chegar em Teresina, a família do adolescente de 17 anos, morto no Centro Educacional Masculino na noite desta quinta-feira (16/07), sepultou o corpo do rapaz no cemitério do bairro Promorar, zona Sul da capital. A família chegou a pedir para uma assistente social fazer a liberação do corpo, mas precisou vir de Castelo do Piauí para realizar os procedimentos junto ao IML.
A decisão de sepultar o corpo do adolescente em Teresina partiu da família, que temia tumulto e represálias, caso o enterro acontecesse na cidade de Castelo, onde a população está em polvorosa e até comemorou a morte do rapaz. Ele era um dos sentenciados pelo envolvimento no estupro coletivo contra quatro adolescentes da cidade que fica no norte do Piauí.
Mais cedo, uma assistente social foi à TV e fez um apelo à população da cidade para que a mãe do jovem pudesse pelo menos enterrar o corpo do filho. “Deixem que essa mãe, que já perdeu o filho de forma tão bárbara e cruel, possa enterrá-lo em paz. Sabemos que a cidade está em polvorosa, que já falaram em queimar o corpo do menino, mas faço este apelo por essa mãe”.
OAB FALA EM FALTA DE CONTROLE
A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Piauí, emitiu nota sobre a morte do adolescente de 17 anos, dentro do Centro Educacional Masculino, e repudiou o procedimento adotado pela direção do Centro em ter deixado os quatro menores sentenciados por estupro coletivo, no mesmo alojamento.
Segundo a nota, o ato foi feito “demonstrando total falta de controle e planejamento do Estado, além da necessidade de maiores investimentos em segurança, educação e ações que visem a ressocialização dos internos”.
Jovem morto é o mesmo que aparece em um vídeo dando à polícia detalhes do crime em Castelo do Piauí
A Ordem pede a apuração da responsabilidade dos agentes que deveriam zelar pela segurança do menor vitimado, bem assim como a segurança dos demais. “A OAB-PI tem cobrado a punição daqueles que cometem ilícitos, inclusive com o acompanhamento de diversos casos através de suas comissões. Contudo, a apuração e punição deve ocorrer segundo a legislação vigente, em respeito ao Estado Democrático de Direito”, diz a nota.
SEM NENHUM ARREPENDIMENTO
O gerente de internação da Secretaria de Assistência Social, Herbert Neves, disse que os menores apontados pela morte de Gleidison Vieira da Silva, não demonstraram nenhum remorso ou arrependimento. A declaração foi dada em entrevista à TV Clube. Ainda segundo o gerente os três adolescentes assumiram participação na morte do garoto.
Gleidison era um dos menores sentenciados pela morte e tentativa de assassinato de quadro garotas em Castelo do Piauí, que foram ainda violentadas sexualmente. Ele foi espancado até a morte e sofreu graves lesões na cabeça.
Hoje com 83 adolescentes internos - mesmo com a capacidade máxima sendo de receber apenas 60 jovens - a direção do CEM não teve como colocar os infratores em ambientes diferenciados, como deveria.
Anderlly Lopes, Diretor de Atendimento Socioeducativo da Sasc, disse em entrevista à TV que foram seguidas todas as recomendações necessárias e que um diálogo entre os próprios adolescentes e a direção definiu que eles deveriam permanecer juntos. Ele acredita que o crime foi premeditado durante as 24 horas em que os jovens permaneceram no CEM. "Acreditamos que eles estavam aguardando para cometer essa barbárie", disse.
Jovem de 17 anos foi uma das vítimas do estupro coletivo. Ela não resistiu e acabou morrendo no hospital
O secretário da Sasc Henrique Rebelo disse que foram tomadas todas as medidas de proteção aos garotos, já que os demais internos fizeram um forte protesto contra a ida dos menores para o CEM. "Eles foram colocados em uma ala apropriada, e manifestaram o interesse de permanecer juntos, já que os demais recusavam a recebê-los. Eles informaram que estavam cientes e desejosos em ficar juntos, mas não imaginávamos que os mesmos tivessem esse grau de periculosidade, no sentido de que pudessem se engalfinhar e terminar nesta situação. São jovens extremamente complicados", disse Rebelo.
Agora os adolescentes deverão ser encaminhados para outras unidades do Estado. Por enquanto eles voltarão ao Centro Educacional de Internação Provisória (Ceip).
O juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e a Juventude, acompanhou todo procedimento durante a madrugada. "Há um entendimento geral de que lá no CEM, se colocados com os demais, eles matariam estes adolescentes. E o que fizemos? Procuramos um dos melhores e mais seguros alojamentos, mas infelizmente mesmo lá três dos quatro mataram o mais velho. Então, onde colocá-los é difícil", ressalta.
Ele lembra que os menores tem uma sentença proferida contra eles e que precisa ser cumprida, e ressalta a crueldade com que o adolescente foi morto. "Eles bateram a cabeça da vítima no chão e na parede. Na verdade, eles já estão ameaçados de morte. Isso já estava previsto, em qualquer lugar", diz, afirmando que irá sugerir ao governo que amplie o CEM para que seja proporcionado maior isolamento para esse tipo de menor infrator.
Fonte: 180 graus