Francisco das Chagas Ribeiro, 78 anos, um dos mais antigos artesãos de Parnaíba, Litoral do Piauí, está vivendo na pobreza. F.Ribeiro (como é conhecido pelos parnaibanos) tem amargado as limitações impostas pela saúde já fragilizada, mas principalmente o descaso. As idas quase diárias ao Porto das Barcas e Praça da Graça, no Centro, onde vendia seu artesanato, foram interrompidas há pelo menos um ano quando ele passou por uma cirurgia de catarata. Hoje o artesão passa boa parte do tempo na casinha simples que divide com um dos filhos, a sobrinha e cinco netos menores, no bairro Broderville.
Descendente dos índios tupinambás, F.Ribeiro herdou a habilidade de talhar e esculpir peças em madeira. Durante muitos anos ele confeccionou personagens do nosso folclore e buscou no cotidiano do nordestino a inspiração para boa parte de suas criações. Nascido na cidade de Camocim, Ceará, em Parnaíba o artesão ficou conhecido pelos cachorros magros e longos que esculpia e pelos quais tem mais afeto. A arte santeira também passou pelas mãos habilidosas do artista.
Com a voz já um pouco estremecida, seu F.Ribeiro fala com orgulho do seu trabalho e faz questão de destacar que suas peças já foram levadas para diversos lugares do mundo como Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Japão e Bélgica. No entanto, o artista nunca teve o privilégio de ganhar uma exposição individual com suas esculturas, muito menos acumular fortuna com a venda das peças.
As poucas ferramentas que ainda tem e usa vez ou outra para talhar a umburana (árvore de madeira nobre) ele guarda em uma pequena caixa de papelão. F.Ribeiro mostrou à reportagem do G1 um exemplar do Cabeça-de-Cuia (lenda piauiense) ainda por receber alguns acabamentos. Do lendário personagem, ele conta com riquezas de detalhes toda a história.
As poucas ferramentas que ainda tem e usa vez ou outra para talhar a umburana (árvore de madeira nobre) ele guarda em uma pequena caixa de papelão. F.Ribeiro mostrou à reportagem do G1 um exemplar do Cabeça-de-Cuia (lenda piauiense) ainda por receber alguns acabamentos. Do lendário personagem, ele conta com riquezas de detalhes toda a história.
“Já fiz vários desse. Também gosto de fazer o Gritador, de Pedro II e as pessoas sempre perguntam pela história e eu conto todinha. A vista tá meio ruim, mas é isso que gosto de fazer e não queria parar”, disse com riso meio tímido.
Boa parte das despesas da casa é paga com o salário de R$ 724 que o artesão recebe da aposentadoria. A sobrinha é inscrita no programa Bolsa Família e o filho de F.Ribeiro ganha em média R$ 100 por semana descarregando caminhões. Mesmo diante das poucas posses, o artesão não reclama muito e faz questão de manter a serenidade em meio às dificuldades.
No entanto, o filho Dimas de Sousa Ribeiro, 37 anos, que herdou do pai o ofício de artesão, faz questão de relatar o drama vivido pela família e reclama da falta de incentivos do poder público e também de reconhecimento. As mãos ásperas mostram que Dimas por muito tempo talhou a madeira assim como o pai, mas viu o estímulo ir embora diante de tanto descaso. Descaso, que segundo ele, até fez com que um livro fosse publicado com a informação de que seu pai havia morrido.
“A gente percorre uma distância muito grande para pegar a madeira, carrega o peso, passa em média dois dias para deixar uma peça pronta e quando vamos vender ninguém quer valorizar. Cansei de sair daqui com peças e passar o dia todo para no final do dia vender por R$ 15 só pra não voltar pra casa sem nada. É uma situação difícil e aqui ninguém dá valor. E é assim que vive um dos maiores artesãos de Parnaíba. Teve até um livro que escreveram e deram ele como morto. Vê se pode?”, reclama o filho.
Para Dimas, a esperteza dos atravessadores (revendedores) também desestimula, já que as peças vendidas são repassadas pelos lojistas por quase o triplo do valor. “A gente dá um preço e eles fazem cair pela metade, mas quando vão vender valorizam a peça e saem ganhando. Acho injusto com o nosso trabalho”,avalia o filho de F.Ribeiro.
Peças em acervos
Algumas esculturas do artesão chegaram a ganhar um cantinho especial no museu particular do artista plástico parnaibano Carlos Guido, falecido em 2008 após ser assassinado em sua casa. Carlos, que também era escultor, mantinha um grande acervo em casa e tinha carinho especial por artistas locais.
“A gente percorre uma distância muito grande para pegar a madeira, carrega o peso, passa em média dois dias para deixar uma peça pronta e quando vamos vender ninguém quer valorizar. Cansei de sair daqui com peças e passar o dia todo para no final do dia vender por R$ 15 só pra não voltar pra casa sem nada. É uma situação difícil e aqui ninguém dá valor. E é assim que vive um dos maiores artesãos de Parnaíba. Teve até um livro que escreveram e deram ele como morto. Vê se pode?”, reclama o filho.
Para Dimas, a esperteza dos atravessadores (revendedores) também desestimula, já que as peças vendidas são repassadas pelos lojistas por quase o triplo do valor. “A gente dá um preço e eles fazem cair pela metade, mas quando vão vender valorizam a peça e saem ganhando. Acho injusto com o nosso trabalho”,avalia o filho de F.Ribeiro.
Peças em acervos
Algumas esculturas do artesão chegaram a ganhar um cantinho especial no museu particular do artista plástico parnaibano Carlos Guido, falecido em 2008 após ser assassinado em sua casa. Carlos, que também era escultor, mantinha um grande acervo em casa e tinha carinho especial por artistas locais.
“O tio Carlos tinha um apreço muito grande pelos artistas da terra e pela arte no geral, mas aqui nunca valorizaram muito os artesãos. Ele gostava da arte do senhor Ribeiro e tinha um carinho por ele”, lembra a advogada Claúdia Teixeira, amiga de Carlos Guido e que chegou a ficar com algumas esculturas que não foram vendidas.
A advogada ainda lembra que algumas pessoas que chegaram a se rotular de artistas compravam as peças de F.Ribeiro e raspavam o nome que ele gravava na escultura. “Muitas pessoas começaram a se passar por artistas e vendiam caro as peças. Lembro disso e vejo que ainda há um desprezo muito grande na área das artes e a valorização só vem como forma de ganhar dinheiro, fazer comércio”, destaca Claúdia.
Na Cooperativa Artesanal Mista de Parnaíba (Campal) ainda há algumas peças de F.Ribeiro que hoje fazem parte do acervo. Segundo Maria das Neves, o artesão passou a produzir menos e deixou de vender as esculturas na sede da cooperativa assim que passou pela cirurgia. “Ele é um dos mais antigos aqui, mas parou de fazer as peças porque estava com problemas de visão. Nunca mais veio por aqui”, disse.
Com cerca de 50 associados, a Campal também enfrenta dificuldades com a queda nas vendas. A participação em feiras acontece em média três vezes por ano e os produtos em exposição na loja da cooperativa no Porto das Barcas não têm rendido muitos lucros.
Para a diretora do Programa de Desenvolvimento do Artesanato do Piauí (Prodart), Jaqueline Melo, o governo tem fomentado o setor com feiras e exposições coletivas nas quais os artesãos têm a oportunidade de divulgar suas produções. “Essa tem sido a política do Prodart. O mercado é um pouco difícil e a ideia é dar ao artista a oportunidade para ele se segurar financeiramente fora do período de veraneio, poder receber encomendas e fazer seus negócios quando há eventos em outros estados”, disse.
Com cerca de 50 associados, a Campal também enfrenta dificuldades com a queda nas vendas. A participação em feiras acontece em média três vezes por ano e os produtos em exposição na loja da cooperativa no Porto das Barcas não têm rendido muitos lucros.
Para a diretora do Programa de Desenvolvimento do Artesanato do Piauí (Prodart), Jaqueline Melo, o governo tem fomentado o setor com feiras e exposições coletivas nas quais os artesãos têm a oportunidade de divulgar suas produções. “Essa tem sido a política do Prodart. O mercado é um pouco difícil e a ideia é dar ao artista a oportunidade para ele se segurar financeiramente fora do período de veraneio, poder receber encomendas e fazer seus negócios quando há eventos em outros estados”, disse.
Fonte: Globo.com