Por: Pádua Marques(*)
Nessa semana que passou os prefeitos brasileiros tiveram colocada uma, como se diz em linguagem de cangaço, faca na goela ou no meio das pernas. É que o Governo Federal deu por findo o prazo pra que estes prefeitos a partir de 02 de agosto extingam de uma vez por todas com os lixões a céu aberto no Brasil. Acabou aquela conversa de prefeito andar na calada da noite ou no silêncio da boca da tarde procurando um beco pra jogar porcaria no meio da rua feito quem não tem coisa pra fazer.
Agora de acordo com a legislação essas prefeituras devem fazer um Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos e enterrar de vez os famosos lixões, implantar a coleta seletiva, fazer compostagem e destinar apenas os rejeitos pra os aterros sanitários. Já estava na hora. É que a tal Lei dos Resíduos Sólidos havia sido aprovada ano passado, mas muitas e muitas prefeituras botaram uma pedra em cima da obrigação de tomar atitude a esse respeito e a coisa foi ficando feito promessa pra santo naquela base do, é hoje, é amanhã.
A Confederação Nacional dos Municípios divulgou faz pouco tempo uma pesquisa em que a situação, quando o assunto é manejo e destinação de lixo, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil tem resultados bem melhores do que no Norte e no Nordeste. Isso pra quem conhece o Brasil não chega a ser coisa de arregalar os olhos. Das 26 capitais e do Distrito Federal, 16 não têm aterro sanitário e ainda usam os lixões. E aqui no Piauí, terra de cerca baixa, ainda de acordo com a pesquisa da CNM, apenas seis municípios possuem aterro sanitário. Em compensação 17 outros usam lixão.
O lixão de Parnaíba já foi assim
Lixão, pra quem não conhece ou está se fazendo de desentendido é aquele montão assim de tudo em quanto não presta e que as prefeituras, pra mostrar serviço, acharam de criar nas áreas afastadas das suas cidades, mas que acabam levando muita gente miserável pra catar resto de comida. Quem já viu pela televisão já deve ter se horrorizado e perguntado o que é que aquelas pessoas tanto procuram naquele meio de imundície e até brigando com urubu e cachorro sarnento. Mas é aquilo mesmo que muita prefeitura fez e a coisa foi ficando daquele tamanho.
Agora depois que estão sendo chamadas na grande, as prefeituras estão com as orelhas baixas dizendo que possuem pouco dinheiro pra investir nas obras exigidas e cumprirem a lei. E tem prefeitura que ainda se dá ao desplante de abrir a boca pra dizer que nem conseguiu elaborar o plano de resíduos sólidos. Os cofres estão mais espremidos do que tubo de pasta de dente em casa de pobre Nesta semana eles meteram o pé na carreira no rumo de Brasília tentando uma prorrogação. O Governo Federal já andou sinalizando que não vai abrir nem pro trem carregado de sal da Belamina. Mas nessa altura dos acontecimentos e do momento político ninguém duvida de nada.
Agora a gente fecha os olhos praquela cena, que mais parece a visão do Juízo Final. Todas aquela pessoas, velhos, homens, mulheres e crianças no meio daquele monturo imenso catando alguma coisa pra vestir ou pra colocar na panela. E são feios pela sujeira e o odor que exalam. Não é brincadeira a vida imunda dessa gente. Ali não é um monturo qualquer não. Nada de parecer aquele pouquinho de lixo que a gente jogava detrás de casa tipo casca de banana, farelo de pão, papel de embrulho, penico furado, borra de café, chinela japonesa, garrafa de cachaça ou de cerveja, despertador quebrado, pilha enferrujada. Ali é uma montanha de lixo que dá de dez em altura na estátua de padre Cícero de Juazeiro.
E ocorre olhar pra aflição dos prefeitos neste instante e lembro estes miseráveis como políticos. Bem que poderiam estar no amado sossego de suas casas, assistindo a novela depois do Jornal Nacional ou aos domingos o Fantástico, na Globo. Estão agora enterrados até o pescoço na obrigação de encontrar uma solução, um canto, aonde vão ter de dar destino ao lixo produzido pela população. Mas por outro lado o eleitor vai ter de também neste exato momento ficar coçando a cabeça pra escolher e ter sucesso na hora de votar. Porque se existe coisa pior que o lixo doméstico certamente que é o lixo político. Porque se existe pior destino da confiança do eleitor é o aterro, o lixão que o mau politico vai fazer do seu voto.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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