Por: Pádua Marques(*)
Na semana passada um fato me chamou à atenção e me fez parar pra refletir como é a natureza humana quando se trata de ganhar alguma coisa. Foi iniciada uma campanha nas redes sociais, não dessas de pano ou de palha e que servem pra se deitar após o almoço, sobre um pedido à Azul Linhas Aéreas, agora cobrindo Parnaíba. Para que acrescentasse mais um dia, salvo engano às sextas-feiras, no mapa de pouso e decolagem no agora movimentado aeroporto do bairro Catanduvas.
Isso porque muita gente acha que, já ainda nem passa perto de ter completado um mês da regularidade dos voos pra Parnaíba, tem procura mais que suficiente pra que a companhia acrescente mais um dia no seu mapa de cobertura. É bom que se diga pra esses apressadinhos e afoitos além da conta de que dentro da mentalidade organizacional de uma empresa, tudo é calculado, medido, avaliado á exaustão e somente quando há realmente certeza mais certa que a morte é que se tomam decisões. Nada de se impressionar com o primeiro trovão de dezembro ou com o primeiro peixe trazido pelo anzol na correnteza. E me lembro de um ditado bem antigo de que, cautela e caldo de galinha ao molho pardo fazem a gente lamber os beiços. Alguém pode a essa altura dizer que sou pessimista e que encontro dificuldades até em comprar a prestação sem entrada em tudo que é Armazém Paraíba. Não é uma coisa nem outra e muito menos outras mais e mais outras menos. Mas toda essa euforia de quem vê avião pela primeira vez até que se justifica.
Nós passamos um bom, e olhe bom tempo, sem saber o que diabo era avião naquele bonito e até bem conservado aeroporto desembarcando e embarcando gente. Gente que vem nos visitar por curiosidade ou no caso dos conterrâneos, porque jurou pra si mesmo um dia somente voltaria à boa terra se fosse por cima e esse cima, pra bom entendedor era num avião. O certo é que a tal campanha pelas redes sociais acabou chegando aos ouvidos da companhia, que de pronto respondeu ser ainda impraticável alterar em mais um dia seu mapa de cobertura. Sendo assim fica como começou.
E aí me lembro, sem querer ofender ou ser preconceituoso. Esse costume de pobre quando tem uma coisinha a mais já ficar se pabulando e arriscando naquilo que mal conhece. Lembra aquele camarada esgalamido que pela primeira vez vai num desses restaurantes que servem comida no quilo e se põe a colocar tudo o que vê num único prato como se nunca tivesse visto comida na vida. E o prato de tão cheio fica derramando pelas beiradas. E ele ali comendo, engolindo quase sem mastigar. Aquele taipeiro, aquele mondrongo, aquela bola de comida na bochecha e que acaba fazendo com que aqueles que estão com ele passem vergonha.
Não é assim que se procede não. Olhe a educação e a fila. Igual aquele sujeito que somente porque recebeu o cartão e que lhe dá direito a receber seu salário no final do mês, já chega na fila do banco botando boneco, falando alto, chamando o gerente, cobrindo de nome feio o terminal, reclamando do ar condicionado e dos funcionários do banco. E quando chega sua vez de usar o caixa eletrônico não deixa de esfregar o cartão na camisa ou nos cabelos. Igual aquele sujeito que quando tem uma coisinha a mais na burra, coisa do décimo terceiro no final do ano, fica comprando tudo aquilo que vê e em roda de conversa fica puxando nome de família. Aquele sujeito que por não ter sido atendido como gostaria numa repartição pública abre a boca pra dizer que é ele quem paga o salário do diretor ou do atendente.
Pois não é que havia gente reclamando de atraso do voo embora já estivesse vendo o avião triscando a cabeceira da pista? Já tinha gente reclamando que não tem taxista que fala duas ou mais línguas, sala reservada pra clientes endinheirados ou famosos? Eu tenho certeza de que daqui pra mais uns dias vai ter gente gaiata nessa Parnaíba reclamando que não pode mais dormir á tarde porque é incomodado com o barulho do avião. Pior era quando não tinha e não tinha nem expectativa, a mais remota que fosse.
A gente precisa entender as coisas e ter humildade e paciência. Não é porque pousou há menos de um mês o primeiro avião em Parnaíba que a gente queira assim num estalar de dedos que no outro dia tenha linha direta pra tudo que é canto. Não é assim não! Olhe que Deus, que é Deus, que é outros quinhentos, criou o mundo em seis dias e no sétimo estava com a língua de fora. Deu foi trabalho todo esse mundo ele fazer sozinho. Imagine a Azul que mal começou a pousar em Parnaíba! Portanto vamos dar um tempo. Vamos fazer feito o caboclo quando está caçando preá no mato ou esperando tatu sair do buraco. Sempre tomando chegada E tomando paciência.
(*)Pádua Marques é escritor e jornalista