Tomei um susto quando, em alguns anos passados, encontrei num dos Povoados da Ilha das Canárias, Município de Araioses (MA), uma menina de quatorze anos, a sua mãe de vinte e nove e a sua avó, de quarenta e nove anos, todas grávidas, sem maridos e ainda morando de favor, num povoado, onde na ocasião ainda não tinha nem energia e em situação precária. Tudo isso para receber um incentivo do atual modelo de gestão federal, “uma bolsa”.
Também assisti um diálogo, dentro de uma agência bancária, de uma senhora que contava como vantagem, que tinha abandonado o seu marido porque ela queria ter mais filhos para receber uma bolsa dada pelo atual modelo de gestão federal, e o seu marido não queria, pois o casal já tinha quatro filhos.
Relato esses casos, porque acompanhei o desenrolar da morte de um jovem de dezesseis anos, Mailson de Sá, dia 10, na Avenida São Sebastião, em Parnaíba (PI), por conta de um celular e os responsáveis foram outros jovens com menos de dezoito anos, pelo que se sabe, são de classe social baixa, que não tinham condições de comprar um celular ou simplesmente queriam roubar para vender depois.
Os milhares de filhos dessas mulheres que foram e estão sendo incentivadas a colocar muitas crianças no mundo por conta das “bolsas” estão prestes de completar 12 anos. Esses jovens, na sua maioria, sem uma boa formação, sem uma profissão e até mesmo sem condições financeiras da base familiar, vão querer, daqui a dois ou três anos, ter celulares, tênis da moda, motos, roupas de marca, divertirem-se, assim como os outros jovens da sua idade. A pergunta é: como eles vão conseguir tudo isso? Quais as perspectivas desses jovens?
E o pior é que esses jovens estão conscientizados que podem fazer o que quiserem, com quem quiserem e na hora que quiserem (matar, roubar, destruir, incendiar, estuprar, assaltar...) que estarão sempre protegidos pela lei, por várias instituições e pessoas que acham que eles, pelo fato de não terem completado ainda 18 anos, não podem pagar pelo que faz. Será que isso não é um estímulo para esses jovens? Mas a sociedade está pagando muito caro, por erro de quem? Por omissão de quem? Por conivência de quem?
Lá no futuro nós vamos condenar esses jovens que não tem nada, que não são nada, que não sabem de nada e vamos simplesmente dizer: eles não valem nada! E nós até lá não vamos fazer nada.
(*)Professor Eudes Barros (UFPI)Mestre em Administraçãoeudesbar@yahoo.com.br