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Imagem da Igreja de São Sebastião na manhã de hoje |
Há um vazio
em mim que silencia tudo a volta para ouvir, em pensamentos, uma voz que se
calou há pouco.Uma voz que, enquanto existiu, foi sinônima de luta, alegria,
aventura, entusiasmo e respeito. Uma voz que hoje fala por intermédio das
lembranças. Por um conjunto de lembranças que se prefiguram nas ruas de
Parnaíba, nos bares, nas universidades, nas conversas com os amigos em comum, nas
leituras, enfim. Lembranças que embalam a saudade...
Rubem Alves
certa vez disse que a “morte é onde mora a saudade”. Por isso choramos,
lamentamos, procuramos justificativas como forma de consolo e, no fundo, o que
resta são as inúmeras recordações daquele que nos deixou. Foi difícil escrever
isto! Foi difícil, sobretudo pela grande
quantidade de motivos que tenho para sentir saudades dele. Como disse Drummond,
“tenho razão para sentir saudade de
ti, de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso,
voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança”.
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Livreto da missa de sétimo dia acompanhado de um terço |
Entre as inúmeras lembranças, as
últimas, talvez, tenham sido as mais marcantes de todas: lembro-me de alguém que era pura gentileza. weltman, num
dos seus últimos gestos para conosco, deu uma prova cabal de sua sincera devoção
à amizade. Debilitado, sem conseguir
discernir com clareza o que se dizia para ele ou, mesmo, reconhecer as pessoas
que estavam ao seu lado, Iweltman esperou por alguns de nós. Há prova maior de
amizade do que alguém, num tremendo esforço para se manter vivo, esperar a
visita dos amigos?
Nunca vi o
Iweltman calado por muito tempo. Fosse pra esbravejar, pra contar piada, pra
ensinar alguma coisa, ele sempre tinha algo genial a dizer. Por isso, também,
nunca conheci alguém tão inteligente quanto ele. E digo isso como uma opinião
honesta de alguém que nunca se sentiu inteiramente capaz de acompanhar os
passos dele. Ele falava e nós parávamos para ouvir. Ele falava e Parnaíba
parava para ouvir. Ele esbravejava e muitos se incomodavam, mas paravam pra ouvir.
Ele nunca cansou de falar! Mesmo debilitado, Iweltman viajou pra falar. Proferiu
palestras, deu aulas, lançou um livro, emocionou professores, alunos, amigos e
familiares e, em momento algum, deixou de falar.
Ironicamente, seu discurso mais
eloquente foi em silêncio. Poucos viram. Eu vi! Poucos compreenderam. Eu
compreendi! Calmo, terno, deitado e sem dar trabalho a ninguém,Iweltman, calado,
fez seu discurso triunfal: cercado de familiares e alguns poucos amigos, ele silenciou.
Para alguém que passou a vida inteira falando, há protesto mais sincero e
inquietante do que o silêncio?O silêncio de Iweltman é a manifestação mais
evidente de que ele vive hoje perto de cada um de nós!
Frederico Osanan, Adailson Galeno e
amigos.