19 de jan. de 2013

NADA SE COMPARA AO SEU GESTO CONOSCO



Imagem da Igreja de São Sebastião na manhã de hoje 
            Há um vazio em mim que silencia tudo a volta para ouvir, em pensamentos, uma voz que se calou há pouco.Uma voz que, enquanto existiu, foi sinônima de luta, alegria, aventura, entusiasmo e respeito. Uma voz que hoje fala por intermédio das lembranças. Por um conjunto de lembranças que se prefiguram nas ruas de Parnaíba, nos bares, nas universidades, nas conversas com os amigos em comum, nas leituras, enfim. Lembranças que embalam a saudade...
            Rubem Alves certa vez disse que a “morte é onde mora a saudade”. Por isso choramos, lamentamos, procuramos justificativas como forma de consolo e, no fundo, o que resta são as inúmeras recordações daquele que nos deixou. Foi difícil escrever isto! Foi difícil, sobretudo pela grande quantidade de motivos que tenho para sentir saudades dele. Como disse Drummond, “tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança”.

Livreto da missa de sétimo dia acompanhado de um terço
            Entre as inúmeras lembranças, as últimas, talvez, tenham sido as mais marcantes de todas: lembro-me de alguém que era pura gentileza. weltman, num dos seus últimos gestos para conosco, deu uma prova cabal de sua sincera devoção à amizade.  Debilitado, sem conseguir discernir com clareza o que se dizia para ele ou, mesmo, reconhecer as pessoas que estavam ao seu lado, Iweltman esperou por alguns de nós. Há prova maior de amizade do que alguém, num tremendo esforço para se manter vivo, esperar a visita dos amigos?
            Nunca vi o Iweltman calado por muito tempo. Fosse pra esbravejar, pra contar piada, pra ensinar alguma coisa, ele sempre tinha algo genial a dizer. Por isso, também, nunca conheci alguém tão inteligente quanto ele. E digo isso como uma opinião honesta de alguém que nunca se sentiu inteiramente capaz de acompanhar os passos dele. Ele falava e nós parávamos para ouvir. Ele falava e Parnaíba parava para ouvir. Ele esbravejava e muitos se incomodavam, mas paravam pra ouvir. Ele nunca cansou de falar! Mesmo debilitado, Iweltman viajou pra falar. Proferiu palestras, deu aulas, lançou um livro, emocionou professores, alunos, amigos e familiares e, em momento algum, deixou de falar.
Ironicamente, seu discurso mais eloquente foi em silêncio. Poucos viram. Eu vi! Poucos compreenderam. Eu compreendi! Calmo, terno, deitado e sem dar trabalho a ninguém,Iweltman, calado, fez seu discurso triunfal: cercado de familiares e alguns poucos amigos, ele silenciou. Para alguém que passou a vida inteira falando, há protesto mais sincero e inquietante do que o silêncio?O silêncio de Iweltman é a manifestação mais evidente de que ele vive hoje perto de cada um de nós!


[1] Discurso lido por ocasião da missa de sétimo dia do amigo Iweltman Mendes. Igreja de São Sebastião, Parnaíba, 19 de janeiro de 2013.

Frederico Osanan, Adailson Galeno e amigos.

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