Caros amigos,
Eis
abaixo um artigo de Elio Gaspari, publicado na Folha de S. Paulo,
edição de domingo, 27/03/2011. O jornalista versa sobre a geração
espontânea de um grande conflito trabalhista nos canteiros de obras
empreitadas pelo governo federal. Digo geração espontânea porque não foi
provocado por nenhum sindicato ou central sindical.
Vejam
o relato do ridículo posicionamento de um representante da CUT, por
sinal, muito parecido com o comportamento dos dirigentes da Contraf em
nossas campanhas salariais. Pois é, a cada dia fica mais claro o papel
chapa branca da CUT no movimento sindical. Ora bolas, fazer discurso
para trabalhadores explorados como escravos que não podem parar uma obra
do PAC porque atrapalha o governo é o cúmulo do absurdo a que uma
central sindical pode se prestar.
Atenciosamente,
David Sá Barros
Presidente SEEB-MA
ELIO GASPARI
A peãozada deu uma lição aos comissários
Nutridos pela Viúva, os comissários acharam que conversa de peão era coisa de pobre, e acabaram atropelados
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REAPARECEU
NO MEIO da mata amazônica, dentro do canteiro de obras da Camargo
Corrêa, o eterno conflito dos trabalhadores da fronteira econômica com
as arbitrariedades e tungas a que são submetidos por grandes
empreiteiros, pequenos empresários, gatos e vigaristas.
Num
só dia, incendiaram-se 45 ônibus e um acampamento na obra da
hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. Em poucos dias, a peãozada zangou-se
também nos canteiros de Santo Antônio (RO), nas obras da Petrobras de
Suape (PE) e em Pecém (CE). Ocorreram problemas até em Campinas (SP).
Estima-se que entraram em greve 80 mil trabalhadores da construção
civil. Esse setor da economia emprega 2,4 milhões de brasileiros.
Do
nada (ou do tudo que fica escondido nas relações de trabalho nos
acampamentos), estourou um dos maiores movimentos de trabalhadores das
últimas décadas. Sem articulação, redes sociais ou ativismo político,
apanhou o governo de surpresa. Assustado, ele mandou a tropa da Força
Nacional de Segurança. Demorou uma semana para que o Planalto acordasse.
Numa
época em que os sindicalistas andam de carro oficial, o representante
da CUT foi a Rondônia com um discurso de patrão, dizendo que os
trabalhadores não podiam parar uma obra do PAC. (Essa mesma central
emitiu uma nota condenando o bombardeio da Líbia.)
Paulo
Pereira da Silva, marquês da Força Sindical, disse que nenhuma das duas
grandes centrais está habituada a lidar com multidões. De fato, nas
obras de Jirau e Santo Antônio juntam-se 38 mil trabalhadores. Há
sindicatos na área, mas eles mal lidam com as multidões dos associados.
Disputam sobretudo o ervanário de R$ 1 milhão anual que rende a coleta
do imposto sindical da patuleia.
As
lideranças políticas e sindicais nascidas no rastro dos movimentos de
operários do final dos anos 70, quando pararam 200 mil trabalhadores no
ABC por conta de um barbudo chamado Lula, mudaram de andar. Preocupados
com a distribuição de cargos e de Bolsas Ditadura, esqueceram-se dos
sujeitos que precisam da cesta básica.
Não perceberam que as mudanças sociais ocorridas no país haveriam de chegar aos alojamentos dos peões das grandes obras.
Ou
as grandes empreiteiras se dão conta de que devem zelar pela qualidade e
pelo cumprimento de seus contratos trabalhistas, ou marcas como a da
Camargo Corrêa, da Odebrecht e da OAS ficarão marcadas pelas patas dos
gatos que entram no recrutamento de seus trabalhadores.
Entre as reivindicações de Santo Antônio estava a instalação de banheiros exclusivos para mulheres. Alô, doutora Dilma.
Nenhuma
dessas empresas foi fundada por um empreendedor genial nem tentou um
empreendimento de ambição comparável à Fordlândia. Foi na matas da
Amazônia que, no século passado, Henry Ford atolou seu projeto de
extração e industrialização da borracha.
Maus
modos, incompreensão e complexo de superioridade resultaram numa
revolta que destruiu boa parte das instalações do empreendimento. Isso
em dezembro de 1930. (As grandes empreiteiras deveriam obrigar seu
diretores a ler "Fordlândia", do professor americano Greg Grandin.)
Felizmente
os tempos mudaram, e a Força Nacional de Segurança disparou balas de
borracha. Em 1996, diante dos sem-terra de Eldorado do Carajás, a PM
paraense disparou tiros de verdade e matou 19 pessoas.
Edição Blog do Pessoa