6 de dez. de 2025

Parque Nacional Sete Cidades pode dobrar de tamanho e ampliar proteção da biodiversidade no Piauí

Reportagem: Tânia Martins | Edição: Luan Matheus Santana

Não houve opiniões contrárias, apenas indagações e solicitações de alguns proprietários e comunidades situados em áreas que serão parcialmente desafetadas, devido à sua relevância biológica para a conservação da biodiversidade — como nascentes, córregos, lagoas e registros de animais ameaçados. “Nosso objetivo é atender ao interesse ecológico e público; proteger a conectividade ecológica, a paisagem, espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção, os mananciais hídricos e o patrimônio arqueológico”, explicou o analista do ICMBio, Leonardo Brasil, durante a apresentação da proposta. Segundo ele, proprietários que não concordarem com a desapropriação ainda poderão solicitar ajustes no mapa para solução de impasses, em até 15 dias após a consulta pública.

Criado em 1961, o parque é a primeira unidade de conservação do Piauí e motivo de orgulho para a população dos municípios do entorno — não apenas por sua importância biológica, mas também paisagística, arqueológica e geológica. É marcado por formações rochosas com painéis de pinturas rupestres, piscinas naturais, cachoeiras e trilhas interpretativas singulares. Esses atrativos fazem de Sete Cidades um dos parques mais visitados do Nordeste para o turismo de natureza, registrando aproximadamente 40 mil visitantes por ano, como em 2024, quando ultrapassou a marca de 39 mil visitas.

Mapa da proposta de ampliação do Parque Nacional de Sete Cidades em 2025

Desde 1979, quando foi elaborado o primeiro plano de manejo por técnicos do então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, extinto em 1989), já se sugeria a ampliação da área em 5.100 hectares, devido à sua importância biológica por abrigar espécies ameaçadas de extinção, como onça-parda, gato-mourisco, gato-maracajá, morceguinho-do-cerrado, mocó, veado-catingueiro, jacu, além de espécies da flora típicas dos biomas Cerrado e Caatinga. Em 2007, o ICMBio retomou o processo de ampliação, realizou levantamentos fundiários e identificou quinze famílias vivendo no limite da unidade. Na época, houve aquisição dessas propriedades pelo Governo Federal, porém o processo foi interrompido com a saída da então ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, sendo retomado agora, com seu retorno à pasta.

“Durante os trabalhos de campo realizados com o objetivo de subsidiar o processo de ampliação do PARNA de Sete Cidades, constatou-se a relevância ecológica das áreas propostas para inclusão, com destaque para as localidades de Bananeira, Bom Gosto, Boqueirão, Salto de Pedra/Buraco, áreas utilizadas predominantemente para a criação extensiva de gado solto por pequenos produtores do entorno”, explica o documento sítese, apresentada para jusitifcar a ampliação. O documento afirma ainda que um dos eixos centrais da proposta consiste na minimização dos impactos sobre a população residente, garantindo que o processo de ampliação ocorra de forma socialmente justa e viável. “Os levantamentos de campo indicam que as áreas propostas apresentam baixa densidade populacional ou ausência de ocupação permanente, sendo a maioria das edificações identificadas composta por construções abandonadas ou desocupadas”, diz.

Casarão colonial em pedra, remanescente da Fazenda Bom Gosto, datado do século XIX na localidade Bom Gosto, área proposta para ampliação do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí.

Segundo o chefe do Parque, Waldemar Justo, a nova proposta foi aprimorada, priorizando a incorporação de áreas com elevado grau de conse rvação ambiental e baixo potencial de conflito social. “Nosso objetivo é ampliar a área em 10.565 hectares, elevando a UC para 16.565 hectares”, afirma, justificando que o parque desempenha papel fundamental na conservação da biodiversidade e que seu isolamento em relação a outras unidades o torna vulnerável, especialmente para a manutenção de espécies ameaçadas, em particular os grandes mamíferos.

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