
Reportagem: Tânia Martins | Edição: Luan Matheus Santana
Não houve opiniões contrárias, apenas indagações e solicitações de alguns proprietários e comunidades situados em áreas que serão parcialmente desafetadas, devido à sua relevância biológica para a conservação da biodiversidade — como nascentes, córregos, lagoas e registros de animais ameaçados. “Nosso objetivo é atender ao interesse ecológico e público; proteger a conectividade ecológica, a paisagem, espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção, os mananciais hídricos e o patrimônio arqueológico”, explicou o analista do ICMBio, Leonardo Brasil, durante a apresentação da proposta. Segundo ele, proprietários que não concordarem com a desapropriação ainda poderão solicitar ajustes no mapa para solução de impasses, em até 15 dias após a consulta pública.
Criado em 1961, o parque é a primeira unidade de conservação do Piauí e motivo de orgulho para a população dos municípios do entorno — não apenas por sua importância biológica, mas também paisagística, arqueológica e geológica. É marcado por formações rochosas com painéis de pinturas rupestres, piscinas naturais, cachoeiras e trilhas interpretativas singulares. Esses atrativos fazem de Sete Cidades um dos parques mais visitados do Nordeste para o turismo de natureza, registrando aproximadamente 40 mil visitantes por ano, como em 2024, quando ultrapassou a marca de 39 mil visitas.

Desde 1979, quando foi elaborado o primeiro plano de manejo por técnicos do então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, extinto em 1989), já se sugeria a ampliação da área em 5.100 hectares, devido à sua importância biológica por abrigar espécies ameaçadas de extinção, como onça-parda, gato-mourisco, gato-maracajá, morceguinho-do-cerrado, mocó, veado-catingueiro, jacu, além de espécies da flora típicas dos biomas Cerrado e Caatinga. Em 2007, o ICMBio retomou o processo de ampliação, realizou levantamentos fundiários e identificou quinze famílias vivendo no limite da unidade. Na época, houve aquisição dessas propriedades pelo Governo Federal, porém o processo foi interrompido com a saída da então ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, sendo retomado agora, com seu retorno à pasta.
“Durante os trabalhos de campo realizados com o objetivo de subsidiar o processo de ampliação do PARNA de Sete Cidades, constatou-se a relevância ecológica das áreas propostas para inclusão, com destaque para as localidades de Bananeira, Bom Gosto, Boqueirão, Salto de Pedra/Buraco, áreas utilizadas predominantemente para a criação extensiva de gado solto por pequenos produtores do entorno”, explica o documento sítese, apresentada para jusitifcar a ampliação. O documento afirma ainda que um dos eixos centrais da proposta consiste na minimização dos impactos sobre a população residente, garantindo que o processo de ampliação ocorra de forma socialmente justa e viável. “Os levantamentos de campo indicam que as áreas propostas apresentam baixa densidade populacional ou ausência de ocupação permanente, sendo a maioria das edificações identificadas composta por construções abandonadas ou desocupadas”, diz.

Segundo o chefe do Parque, Waldemar Justo, a nova proposta foi aprimorada, priorizando a incorporação de áreas com elevado grau de conse rvação ambiental e baixo potencial de conflito social. “Nosso objetivo é ampliar a área em 10.565 hectares, elevando a UC para 16.565 hectares”, afirma, justificando que o parque desempenha papel fundamental na conservação da biodiversidade e que seu isolamento em relação a outras unidades o torna vulnerável, especialmente para a manutenção de espécies ameaçadas, em particular os grandes mamíferos.


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