Acabo de concluir a leitura do precioso livro ‘Vale do Sossego”, de autoria de Sergia Alves, que nos encanta com sua linguagem poética.
É maravilhosa a proposta de criação do ‘Centro Cultural ‘no antigo Vale do Sossego, porque possibilita ‘mudança de hábitos e educação’, beneficiando comunidades locais.
Essa iniciativa serve de inspiração para situações semelhantes, ainda tão presentes na memória afetiva de famílias nordestinas que, sem saber como proceder para preservar sua própria história, acaba testemunhando seu fim através de inventários dolorosos, destruidores de laços afetivos, e que esfacela o patrimônio por vezes conquistado com sacrifício durante anos de trabalho.
Chama-nos atenção a resignação com que duas mortes trágicas (p. 73 e 190) foram assimiladas pela família dos protagonistas, que não tomou atitude para identificar e punir os assassinos. O que justifica este comportamento? Descrença no aparato judicial? A inação, a inercia, não acabam indiretamente privilegiando os agressores, os criminosos com a impunidade?
O livro chama nossa atenção para a rigidez com que gerações de brasileiros foram (ou ainda são?) criados. Muitos não conseguem ser feliz porque não se libertam dos traumas sofridos desde a infância. Os que conseguem superar estes problemas, a exemplo dos gêmeos Mina e Júlio, são sobreviventes, vencedores dessa realidade.
Mesmo não sendo fácil, em tais situações é necessário assumir por tarefa “recuperar sentimentos esmagados entre o dizer e não ser ouvido, o dizer e ser mal-entendido, o dizer e ser punido, ou o não ouvir para não se ferir”.
Enfim, ler ‘Vale do Sossego’ é prazeroso, pela beleza e suavidade de sua escrita, que nos envolve e nos faz pensar sobre o quanto a repressão, o preconceito, a injustiça, a desigualdade social e a impunidade nos fazem mal.
O desafio de viver, superando desigualdades, mesmo reconhecendo que o mundo não é justo, se faz necessário até mesmo para dar melhor sentido à vida, na permanente luta pela transformação de uma sociedade organicista para uma sociedade determinista, em que se privilegia a busca de atender ao bem comum.
“O dia acordou com a barra da manhã prometendo o esplendor de um sol ainda raro por aqueles dias” (p. 117). Que os nossos dias sejam plenos de luz, de esperança e de realizações, porque viver é preciso.
“Vale do Sossego” dignifica e engrandece a literatura piauiense. Parabéns, Sergia Alves.
Fernando Basto Ferraz
Fortaleza, 17 de novembro de 2025



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