Brasília, 22 de outubro de 2025. O crepúsculo da tarde chegava quando entrei no gabinete do deputado Flávio Nogueira, no oitavo andar da Câmara dos Deputados. Deparei-me com uma cena curiosa, que registrei com o celular: o parlamentar estava sentado, pés apoiados sobre a mesa de trabalho, o olhar fixo no horizonte de Brasília que se descortinava pela janela. Reconhecido como um verdadeiro workaholic, ele se permitia, por alguns minutos, mergulhar na solidão do silêncio, contemplando a paisagem da capital.
À sua frente, o cenário clássico de Brasília: prédios públicos, o lago Paranoá e os cerrados do Planalto Central. Conhecedor da História, Flávio Nogueira talvez imaginasse a epopeia de Juscelino Kubitschek, que transformou em realidade o sonho de construir Brasília em apenas 1.112 dias. Sabia que contemplava uma paisagem muito diferente daquela encontrada por JK, quando o então presidente visitou a região pela primeira vez, em 2 de outubro de 1956 — uma imensidão de terra vermelha, habitada por onças, lobos-guará, tamanduás-bandeira e árvores retorcidas.
Em seu momento de contemplação silenciosa, o deputado parecia recriar mentalmente o cenário da construção da nova capital, em uma área isolada e sem conexão com o restante do país. Naquela época, tudo o que chegava aos canteiros de obra vinha por avião. Aos poucos, as primeiras estradas de terra batida começaram a surgir, cortadas por caminhões que traziam materiais e trabalhadores. Um verdadeiro exército de mais de 60 mil pessoas — os “candangos”, vindos de todas as regiões do Brasil, sobretudo do Nordeste — ergueu a cidade que se tornaria símbolo da modernidade brasileira.
A quietude de Flávio Nogueira diante da janela contrastava com a intensa rotina parlamentar que havia vivido nas horas anteriores: pela manhã, uma apresentação na Confederação Nacional da Indústria (CNI); depois, debates em comissões e no plenário da Câmara; e, à tarde, audiências em ministérios. A pausa diante do pôr do sol em Brasília foi, talvez, um raro happy hour diferente — contemplativo, em que o pensamento alimentava a sede de conhecimento.
Por Délio Rocha, assessor de Comunicação



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