9 de mar. de 2025

O Brasil e O Senhor dos Anéis!

Prof. Dr. Geraldo Filho (010/03/25)

 

Entre 2001 e 2024 chegou ao cinema a obra de ficção monumental do grande professor de filologia e literatura inglesa, da Universidade de Oxford (Inglaterra), J.R.R. Tolkien (John Ronald Reuel Tolkien, 1892-1973), mais conhecida como O Senhor dos Anéis.

 

Ela apareceu em duas trilogias: a de O Senhor dos Anéis (filmes de 2001, 2002 e 2003); em seguida a de O Hobbit (2012, 2013, 2014); e, por último, e em andamento, em forma de série, Os Anéis do Poder-1ª temporada (2024), com previsão de continuidade em 2025.

 

Uma das alternativas para me livrar das preocupações profissionais e da vida (sobretudo em um país estressante como o Brasil, que teima em chafurdar no atraso e na ignorância, cujo presidente assassina a gramática ao inventar o feminino “jabutia”, refletindo o nível de sua acuidade mental!) é o cinema! Confesso, no entanto, que não dei atenção aos filmes ou a obra literária de Tolkien por considerá-la muito infantil! O que vi na propaganda dos filmes (elfos, orks, reino de anões, magos, árvores falantes, etc.) não estimulou a curiosidade pelos livros.

 

Sobre a literatura ficcional inglesa eu aprecio desde muito jovem o Período Arthuriano (no contexto descrito por As Brumas de Avalon, da americana Marion Zimmer Bradley, lançado a partir de 1979, em 4 volumes), cuja força dramática e referencial histórico inspirou clássicos como Ivanhoé (livro de 1819, de Sir Walter Scott) e mais recentemente Guerra dos Tronos (5 volumes entre 1996-2011, do americano George R. R. Martin).

 

No entanto, em um final de semana creio há uns sete anos, vasculhando canais fechados e de streaming, deparei com a trilogia de O Hobbit, a ser exibida em sequência em um deles, e sem muita expectativa comecei a assistir! Logo percebi que por trás da adaptação da obra literária para o cinema (como é comum a toda adaptação do tipo, em geral o cinema mutila a obra original!) havia muito mais conteúdo interessante, e fui me convencendo disso na medida em que se sucediam os filmes!

 

Depois dessa experiência inicial com o universo criativo de Tolkien localizei a primeira trilogia, O Senhor dos Anéis, assistindo também em sequência. Então, durante os últimos anos comecei a rever as duas trilogias e a assistir ao começo de uma nova etapa, Os Anéis do Poder (2024), só que com um diferencial, que amplifica cada vez mais meu entendimento e interpretação da obra do autor: como todo pesquisador sério de ciências, de qualquer área, é necessário ir às raízes do fenômeno, no caso aqui literário, e eu fui, começando a ler e estudar os 12 volumes de A História da Terra Média e o Silmarillion, a obra publicada de J.R.R. Tolkien, com os comentários do seu filho Christopher Tolkien.

 

Descobri a procura de Tolkien por criar uma mitologia, busca confessada por ele ao reconhecer que diferente de outros povos como os nórdicos, gregos e egípcios, por exemplo, os ingleses não tinham mitos que explicassem sua origem. Assim, como pesquisador de línguas antigas, mergulhou nas origens do inglês arcaico e suas lendas e passou a construir uma cosmogonia (relação de deus com a criação do universo) e uma teogonia (relação de deus com o mundo terreno). E é aqui, amigos, que volto meu olhar para o mundo e o nosso país, e percebo a genialidade e profundidade de Tolkien ao projetar nos personagens a realidade precária e atormentada da condição humana, movida em geral por duas forças que, segundo Michel Henry (em outro artigo abordarei este autor), constroem e destroem: o amor e o ressentimento.

 

A criação do Universo, da Terra e dos seus habitantes, relacionados como filhos de Ilúvatar (os valar, os elfos e os homens), é uma alegoria mitológica inspirada no Velho Testamento e em todo o drama semidivino e humano inerente, que envolve um arcanjo decaído em pecado (Lúcifer, que inveja e ambiciona o Trono de Deus) e o homem (que pela fraqueza diante da tentação demoníaca sucumbe ao mal da inveja e da ambição, e perde o Paraíso!).

 

Melkor (depois denominado Morgoth) é um valar (tal como um arcanjo), que apesar de se assemelhar aos demais da mesma categoria em poder inveja os irmãos e a seu criador Ilúvatar, ambicionando submetê-los ao seu próprio poder e tirania. Com esse objetivo, e por reconhecer a impossibilidade de realizar esse desejo egoísta pela força da guerra, se contenta em sabotar a criação divina na Terra, semeando e cultivando a intriga (mediante sua arma favorita: a mentira que estimula a vaidade).

 

Melkor obteve sucesso, instigou parte dos elfos contra Ilúvatar (Deus) e os valar (arcanjos); criou inimizade e rivalidade entre os elfos; depois entre elfos e homens; e finalmente entre os homens. Ou seja, estava estabelecido o modelo arquetípico da estratégia de tomada e manutenção de poder político baseada na divisão da sociedade mediante a mentira e a intriga!

 

Melkor (no cinema aparece mais Sauron, porém este é apenas um serviçal de Melkor) é o nome alegórico de Lúcifer na ficção de J.R.R. Tolkien, ele é a representação do Mal! Mas é também a personificação de todos os políticos corruptos e aproveitadores, que manipulando a ingenuidade das pessoas ignorantes e incultas (mesmo aquelas endinheiradas ou com diplomas universitários) as iludem com promessas de um país maravilhoso, igualitário (o paraíso socialista ou comunista de Karl Marx e Paulo Freire), no qual se pode comer picanha à vontade; e para tomar uma “cervejinha” se justifica roubar celulares, pois isso não seria crime; e para tomar dinheiro dos “gringos” abestados, americanos e europeus, basta inventar que no Brasil tem milhões de pobres passando fome ou que a floresta amazônica (que não pega fogo devido à umidade elevada) está ardendo por culpa dos grandes produtores rurais! Bem, vocês sabem de quem eu estou falando! Inclusive, como Melkor, aumentando a semelhança, ele também tem um serviçal como Sauron, careca! Mas este último também parece com Lorde Voldemort, de Harry Potter, da genial escritora inglesa J.K. Rowling!

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