27 de out. de 2023

Lisângelo Cavalcante conquista 3º lugar em concurso literário da AMLEC

No último dia 26 de outubro, o comunicador e gerente do BB Lisangelo Cavalcante, conhecido como Lee, conquistou o 3º lugar no II Concurso Literário "Conte um Conto", da Academia Maçônica de Letras do Estado do Ceará (AMLEC), com seu conto "Onde está meu soldadinho", escrito em homenagem ao seu saudoso pai. 

A premiação dos melhores contos ocorrerá no próximo dia 24/11, em comemoração, também, do aniversário de 27 anos da Arcádia. O evento acontecerá no Templo da Verdade, Às 19h30.


Confira o conto de Lisângelo: 

                                                                                          ONDE ESTÁ MEU SOLDADINHO?

Lembro-me, como se fosse hoje, quando meu pai chegou do trabalho e eu estava muito triste no canto do quarto. Era um quarto enorme, onde eu vivia e convivia com meus brinquedos e minhas aventuras. Naquele dia específico, eu perdera meu melhor brinquedo: meu soldadinho. Um pequeno boneco de plástico, vestido como soldado, empunhando uma espada e apontando-a para frente, como se me chamasse para segui-lo. Simplesmente não o encontrava mais. Ele se fora e aquilo me magoou demais. Preocupado, meu pai se aproximou e perguntou o porquê de tanta tristeza. Eu o respondi com outra pergunta: - Pai, onde está meu soldadinho? Percebendo quão triste eu estava, ele então deitou naquela grande rede, que parecia dividir o quarto em dois, e me convidou para embarcar: - Venha, filho! Não fique triste. Vamos voar, viajar pelo mundo e trazer de volta seu soldadinho. - Você sabe onde ele está? - Perguntei, levantando-me do meu canto e seguindo até ele. - Sim! Ele está aqui, em algum lugar... Meu pai me ergueu e me pôs sentado ao seu lado, uma vez que minha estatura na tenra idade ainda não permitia meu "embarque" na grande rede sem sua ajuda. - Aperte os cintos, filho. Nossa viagem vai começar!... Dizendo isso, ele deu o primeiro impulso, fazendo com que a rede começasse a "decolar". Aos poucos, a possante nave ganhava altura. E começamos nossa viagem em busca do meu soldadinho... Eu me agarrava em seu corpo, enquanto balançava. Cada vez mais forte... Cada vez mais veloz... Cada vez mais alto... De um lado ao outro do quarto, a rede rangia seu motor, que pulsava com força máxima... Apesar da emocionante decolagem e de ser bem divertido brincar com meu pai, a tristeza pela perda do meu soldadinho não me permitia sorrir. - Pai, onde está meu soldadinho? -Insisti. - Ele está aqui, em algum lugar... Enquanto a rede seguia pelos ares, ele insistia que aquele era nosso avião e que a gente viajaria pelo mundo todo, se preciso fosse, para encontrarmos meu soldadinho. Se procurássemos bem, nós o encontraríamos em algum lugar do mundo... Fomos sobre os oceanos, passamos pelas montanhas e pelas pirâmides. Cruzamos florestas e enfrentamos tempestades. Todos os continentes foram explorados. Vimos os ursos e os pinguins; as águias e os morcegos... A paisagem e o vento conseguiram transformar meu sisudo rosto num mar de alegria. As lamúrias, aos poucos, transformaram-se em sorrisos, que passaram às gargalhadas; que se transformaram em puro êxtase... O movimento daquela velha rede já não era mais previsível. Como os ponteiros de um relógio, que conduzem o tempo num "tic-tac" infinito, o vai e vem ganhou dimensões eternas, onde o que importava era apenas a viagem em si. Nada mais. Eu me segurava como podia, enquanto os braços fortes do meu velho garantiam a minha estabilidade. Por um longo tempo nós ficamos ali, juntos, viajando pelo universo, sem rumo certo, em busca de um soldadinho desaparecido. Sentindo-me totalmente seguro, permiti-me abrir os braços e receber o abraço forte do tempo e as carícias maternas do vento em meu rosto, enquanto o "renc-renc" dos motores impulsionavam nossa história... Depois de uma longa e prazerosa viagem, a grande nave foi perdendo altitude. As paredes do quarto já não se aproximavam mais com tanta força. Aquele quarto já nem era tão grande quanto parecia. A velha rede estava cansada agora. O ranger dos armadores já não tinham o mesmo tom. O vento no rosto e as emoções da viagem foram diminuindo... diminuindo... diminuindo... Até parar por completo. Inerte, olhei para o telhado, como quem observa as estrelas. Como quem observa os planetas ou busca o brilho do sol. Sentia-me realizado, completo, quase perfeito. Ao fim, pus meus dois pés no solo, olhei para aquele pequeno ser que estava ao meu lado - como se o conhecesse há muitos anos - e perguntei: - Filho, onde está meu soldadinho?...  

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