8 de abr. de 2023

Adeus para aquela que um dia sonhou ser a “Praça dos Poetas”!

Finalmente está no chão frio da calçada na região histórica de Parnaíba, igual um mendigo encontrado morto na madrugada ou um assaltante abatido pela polícia, uma das maiores aberrações e exemplos do mau uso do dinheiro público e da inutilidade, a Praça dos Poetas, onde antes e durante muitos anos foi o terminal urbano de transporte público.

Foi construída a toque de caixa e sem qualquer orientação, assim sem pé nem cabeça, na administração do prefeito Paulo Eudes Carneiro. Desde o início nos primeiros anos da década do ano 2000, os próprios poetas já sabiam que não era tempo e lugar pra aquela arrumação porque a categoria estava em processo lento de extinção.               

Nunca serviu pra coisa nenhuma e todo mundo sabia muito antes que seria um elefante azul e branco no centro de Parnaíba. Não foi por falta de aviso. Não deu outra. Pode até se dizer hoje e agora que foi uma verdadeira perversidade com os poetas, alguns poucos que acabaram tendo seus nomes colocados em placas naquela praça, que enquanto viva mais parecia um cemitério abandonado, uma casa malassombrada.

            Se fosse uma pessoa, assim de carne e osso, teria tido vida curta, pouco mais de vinte anos. Tão curta como a vida desses rapazinhos que entram no mundo do crime, das drogas e do roubo de celular em qualquer lugar do Brasil. E morreu sem alcançar seus objetivos, o de ser um espaço onde se pudesse ler um livro, contemplar a paisagem da cidade em movimento. Até foram construídos bancos e mesas com cobertura pra se jogar xadrez. Nada adiantou.

Parnaíba em Nota: Praça dos Poetas segue abandonada (23/06/2014)

Mas como dar espaço pra que alguém pudesse ler um livro se nem livraria aqui tem? Aqui tem livraria? Dirão alguns que tem sebos. Aqui ninguém gosta de ler, logo não precisa ter livraria nem biblioteca. E se não tem livraria pelo menos tem banca de revista. No centro da cidade têm duas. A Banca do Louro e outra da praça de Santo Antônio. Estranho se dizer que Parnaíba é uma cidade universitária e não tem livraria, biblioteca pública. Tem uma na avenida São Sebastião, mas é um segredo de se saber o que tem, mais parecendo as catacumbas dos faraós no Egito.

A Biblioteca Pública, essa que havia há anos instalada na rua Duque de Caxias, com um acervo do tempo das caravelas, a sala mal conservada e caindo o reboco das paredes e que ficava no térreo do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, foi deslocada pra um ponto da rua Marechal Pires Ferreira, lugar onde não tem e nunca teve clientela e os funcionários passam o dia todo cochilando e com a mão no queixo. No seu lugar foi instalado um abrigo pra moradores de rua. Eu nem preciso falar mais nada.

Agora a conversa é de que no lugar da finada praça será construído um shopping popular. Essa coisa de popular, do povo e outros nomes apelativos, é pura demagogia. Mas quem conhece Parnaíba já nem deveria estranhar certos comportamentos de seus administradores e políticos, sua classe empresarial, suas lideranças sociais, os seus ditos intelectuais com ideias segregacionistas, ufanistas e narcisistas.

A praça dos poetas, que ninguém gostava dela, aquela que tomou o espaço de um necessário terminal de transporte urbano, dentro de mais alguns anos vai ter quem tenha saudades. Porque aqui em Parnaíba é assim, se acaba pra depois ficar se lembrando.

Pádua Marques(*)  romancista, cronista e contista, jornalista. Membro da Academia Parnaibana de Letras – Cadeira 24.

 Por:Pádua Marques(*)


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