A lenda de Alice em Luís Correia (Histórias , Estórias, Casos e Causos do Piauí)

Em Luís Correia se conta a lenda de Alice, uma jovem muito bonita filha de uma família importante. Ao que dizem era ela um pouco arredia e desobediente com seus pais, como, aliás, o são muitos jovens.

Certo dia, desapareceu nas águas do mar e nunca mais foi vista. Seu pai, preocupado, ainda teria pago alguns pescadores para que tentassem encontrá-la em meio às ondas, mas ela não apareceu.

Foi então que espalhou-se pela cidade uma história de que dias antes a menina, enraivada de seus pais, teria dito que jamais iria novamente com eles à praia e que se isso acontecesse Deus poderia transformá-la em uma serpente do mar.

O boato, por sua vez, deu lugar às frequentes aparições de uma serpente marinha beirando o litoral da cidade, de modo que o povo logo concluiu que Alice havia sido encantada.

Dizem que para desencantá-la é preciso quatro objetos virgens: uma faca, um espelho, um pente e uma toalha. Munido destes, o corajoso que resolver ajudá-la deverá esperar na praia em noite de lua cheia, à meia noite, contar sete ondas, e na sétima onda, abrir com a faca, de onde sairá a serpente.

Após esse ritual, o pretendente terá que cortar o rabo dela a qualquer custo e correr sem olhar pra trás. Alice então desencantará e cobrirá sua nudez com a toalha ali deixada e penteará seus longos cabelos mirando-se no espelho, tornando-se, novamente, a bela e rica jovem daquela cidade.

Muitos já tentaram, mas não obtiveram êxito, de modo que alguns já saíram mortalmente feridos dali ao travarem embate com a serpente. Volta e meia algum corajoso ainda tenta cumprir com o ritual, pois dizem que quem desencantar Alice casará com ela, que é muito bela, e, ainda, se tornará herdeiro da fortuna de sua família.

 

FONTE: QUEIROZ, Áurea. Lendas do Piauí. Teresina: Halley, 2013.

TEXTO: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO

ILUSTRAÇÃO: DOUGLAS VIANA