7 de ago. de 2022

Histórias do Piauí: Motorista Gregório o santo popular de Teresina


Créditos: Rafael Nolêto

Senso de justiça, reconhecimento e milagres fizeram de um motorista paraibano um santo criado pela fé popular de Teresina. Trata-se do motorista Gregório Pereira dos Santos.

 Ele morreu às margens do rio Poti e, devido a como tudo aconteceu, tendo sido na época a sua morte um grande abalo na sociedade, foi construído um monumento no lugar onde morreu, o Monumento do motorista Gregório.

Ford T, modelo que motorista Gregório dirigia - imagem reprodução

Esse ponto fica na avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina, e se incorporou no turismo histórico e religioso da capital, sendo cultuado por muitas pessoas.

Mas por quê?

Aqui no Conheça o Piauí você confere os detalhes por trás desse monumento religioso, turístico e dessa santificação.

A chegada de Gregório ao Piauí

Gregório era natural da Paraíba e, ainda quando residia por lá, conheceu o comerciante Jaime Teodomiro, que era de Barras, no Piauí, e tinha ido para a Paraíba comprar um automóvel, o Ford T. Barras é onde fica um trecho turístico do rio Longá.

Só que Teodomiro não sabia dirigir e na época, em Barras, ninguém sabia também, tendo sido o seu veículo o primeiro de sua cidade. Foi então que ele convidou e contratou Gregório para ser motorista dele em Barras. Assim, o jovem paraibano aceitou e, aos 19 anos, passou a residir em Barras, a 120 km de Teresina. 

Já tendo passado algum tempo, Teodomiro passou o carro para a paróquia da cidade piauiense. Dessa forma, Gregório passou a ser oficialmente motorista da paróquia.

 Cumprindo sua função, em 14 de outubro de 1927, dia em que Barras receberia a visita do bispo da época, o bispo Dom Severino Vieira de Melo, Gregório dirigia o Ford T levando o juiz de Direito José de Arimathéa Tito, o coronel Otávio de Castro Melo e o padre Lindolfo Uchôa para receber o bispo na entrada de Barras.

Quando então passava por determinada rua, uma criança saiu correndo de dentro de uma casa e passou de uma vez em frente ao veículo dirigido por Gregório. O motorista ainda tentou frear para evitar o atropelamento, mas não adiantou. A criança acabou morrendo.

Florentino Cardoso, o de chapéu - imagem reprodução

Todos que estavam no automóvel viram que Gregório não teve culpa. A população também defendeu o motorista. Mas o seu destino parecia estar ali traçado. O menino era filho do delegado da cidade, Florentino Cardoso, homem que viria a ser o assassino de Gregório.

Cadeia de Barras onde o motorista Gregório foi preso

Como se deu a morte de Gregório

O delegado Florentino, ao saber da morte do filho, prendeu Gregório e deixou o motorista dias sem água e sem comida. O juiz Arimathéa Tito, que estava dentro do veículo na hora do acidente e viu que o motorista não teve culpa, expediu um habeas corpus para que Gregório fosse liberado. 

Árvore onde motorista Gregório foi acorrentado

Florentino disse que cumpriria a ordem, mas assim não fez. O delegado levou Gregório acorrentado no pescoço para Teresina, todo tempo sem comer e beber. Assim que chegaram na capital, Florentino acorrentou Gregório em uma árvore às margens do rio.

Jornais da época noticiando a morte de Gregório

Tão perto de água, mas sem conseguir beber, Gregório implorava para que matassem sua sede. Foi então que o delegado matou Gregório a tiros. Muitos populares viram esse crime, o fato se espalhou, tendo sido inclusive noticiado na imprensa, causando a indignação frente a uma injustiça com Gregório.

Monumento do motorista Gregório - crédito/imagem: Rafael Nolêto

De motorista a santo milagreiro

A história da morte de Gregório, a motivação e como se deu, logo se espalhou pela cidade e imaginário popular, que fizeram com que o jovem motorista não fosse esquecido.

Muitas pessoas passaram a ir para o local onde ele morreu para fazer peregrinação, levar água, velas, rezar, pedir ajuda, agradecer por graças alcançadas. Até que em 1983, foi construído o monumento no lugar onde morreu. Ele tem o formato de uma gota d’água.

A sua canonização tem sido uma luta de várias pessoas que falam ter recebido de Gregório graças alcançadas. Inclusive, um fato interessante é que Gregório é o único santo que as pessoas rezam com água e não com vela.

Além do monumento na avenida Marechal Castelo Branco, em Teresina também há outros pontos que são tidos pela população como de homenagem a Gregório: a árvore do martírio, a que ele foi acorrentado; o túmulo do motorista, que fica no cemitério São José; e o cruzeiro na avenida Frei Serafim.

Árvore do martírio - crédito/imagem: Rafael Nolêto

E você sabia sobre o que havia por trás desse monumento em Teresina? Mesmo que você não acredite nos milagres ou não siga alguma religião, vale muito a pena conferir esse ponto que relembra a história de Gregório.

Fonte: Conheça Piauí l Edição: Jornal da Parnaíba

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