18 de jul. de 2022

EM TEMPO: COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DE FONTES IBIAPINA

 

Objetos usados na produção literária de Fontes Ibiapina
na exposição levada a efeito pela Academia Piauiense
de Letras - APL

        Em decorrência das restrições impostas pelas autoridades  da saúde,  no sentido de se evitar aglomerações durante este período de pandemia provocada pelo Coronavirus,  não foi possível celebrar em 2021 o Centenário de um dos maiores escritores piauienses: João Nonon de Moura Fontes Ibiapina, nascido em Picos no dia 14 de junho de 1921.

        Fontes Ibiapina residiu em Parnaíba onde exerceu a magistratura e deixou uma grande legião de amigos e admiradores. Fez parte dos intelectuais que fundaram a Academia Parnaibana de Letras - APAL tendo o primeiro presidente da entidade, por dois mandatos consecutivos.

        Somente em junho deste ano, dos dias 20 a 25,  a Academia Piauiense de Letras - APL,  da qual Fontes Ibiapina  é membro, celebrou o centenário do escritor com palestras, peças teatrais,  exposição de objetos pessoais, lançamento de livros  e chá para os convidados.

         Na coluna  denominada AMPLO DIREITO, na edição de nº 4066 de 30 de junho de 2022, do Jornal Norte do Piauí,  escrita pelo advogado e acadêmico Roberto Cajubá de Britto , o ilustre causídico parnaibano homenageia o imortal escritor com a seguinte crônica:

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DE FONTES IBIAPINA        

        "Eu tinha 15 anos quando num domingo nos reunimos em casa para assistir, na Rede Globo, o programa Som Brasil. Naquele dia, o Juiz da Comarca de Parnaíba, Dr. Fontes Ibiapina, seria entrevistado por Rolando Boldrin, apresentador conhecidíssimo e um dos nomes mais respeitados da cultura popular, que ainda hoje é líder de audiência na TV Cultura.

        Meu pai e meu irmão, na condição de advogados, mantinham uma convivência cordial, com admiração ao Dr. Fontes Ibiapina e naquele dia nos programamos com atenção, para não perder a entrevista. Eu, ainda menino, fiquei impressionado, e orgulhoso, com a desenvoltura de nosso Juiz à época.

        Vibrávamos com cada “estória” contada na entrevista, e o sucesso dela aumentava a convicção de que, pelos reconhecidos méritos intelectuais do Dr. Fontes Ibiapina, a Comarca de Parnaíba estava muito bem servida, embora já tivéssemos essa certeza.

         Esta não foi a única vez que o Juiz Fontes Ibiapina destacou-se no cenário nacional, pois teve obras publicadas por grandes editoras e ganhou diversos concursos literários, dentre eles o concurso MOBRAL de Literatura – Crônicas e Contos, do Ministério da Educação, em 1982. Recebeu em 1973, Menção-Honrosa no Prêmio Mobral de Literatura, e em 1984 seu romance, Palha de Arroz, foi escolhido por cineastas de São Paulo para tornar-se roteiro de cinema, cujo filme chegou a ser registrado na EMBRAFILME, mas não foi exibido por questões orçamentárias, provocadas pela crise no setor.

         Fontes Ibiapina, era um Juiz íntegro e extremamente competente. Agia com rmeza de caráter e independência, mas para isso não precisava se encastelar, pois dialogava permanentemente com advogados, era bastante acessível e, com sensibilidade de escritor, atendia muito bem a todos, sempre com humor aguçado e rara inteligência.

        Enfim, Fontes Ibiapina era proativo, procurava inteirar-se da realidade e participar ativamente da vida social em benefício da coletividade. Dizia que “na vida de um Juiz acontecem muitas mudanças, novos ambientes”. Como bem reconheceu o Desembargador Edgard Nogueira, em discurso, mais do que um simples Juiz, Fontes Ibiapina reunia “incontestáveis condições de professor e homem de letras, pronto para ajudar no difícil trabalho de formação da mocidade”.

        Em Parnaíba, no cumprimento de sua missão de “formador da mocidade”, Fontes Ibiapina foi professor nos tradicionais colégios São Luiz Gonzaga e Padre Vieira, e, por curto período, na Faculdade de Letras da UFPI. Foi também um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Parnaibana de Letras - APAL. Como Juiz, Ainda hoje é lembrado pela segurança jurídica que transmitia em suas decisões. Era titular da Vara de Família e foi Diretor do Fórum.

        Numa época em que ser escritor era tão “difícil que só minhoca em terra seca” e que “não se encontrava de louça um caco em matéria de auxílio, ou mesmo sequer um tico de estímulo por parte dos Poderes Públicos dos homens que carregam o rei na barriga”, Fontes Ibiapina “tinha panos pras mangas”, “botou o acanhamento para um lado da caravana” e escreveu “exatos 266 textos, entre contos, romances, ensaios, folclore e teatro, além de centenas de outros que produziu para diversos meios de comunicação”, conforme nos conta Enéas Barros, seu neto e biografista, no livro “Nonon – O Menino da Lagoa Grande”. Semanalmente publicava artigos de crítica nos jornais de Parnaíba.

        Em Antologia da Academia Piauiense de Letras, Wilson Carvalho Gonçalves relaciona algumas obras de Fontes Ibiapina, dentre elas os romances Sambaíba (1961), Palha de Arroz (1968), Tombador (1971) e Vida Gemida em Samambaia (1986); os contos Chão de Meu Deus (1958), Brocotós (1961), Pedra Bruta (1964), Congresso de Duendes (1969), Mentiras grossas de Zé Ratinho e Quero, Posso e Mando; no campo do folclore Paremiologia Nordestina (1975) e Passarela de marmotas, e no teatro a peça O Casório de Pafunça, tendo deixado várias obras inéditas.

         Entre os dias 20 e 25 de junho a Academia Piauiense de Letras celebrou o centenário de Fontes Ibiapina, com palestras, apresentação de peças teatrais e lançamentos de três livros do escritor. Mais do que justo exaltar este gênio do Direito e da Literatura, que continua a contribuir com a “formação da mocidade” pelo exemplo e por serem as suas obras fontes de pesquisa e preservação da memória nordestina." 

Roberto Cajubá da Costa Britto, escritor, advogado, professor universitário,  membro da Academia Parnaibana de Letras - APAL, cadeira nº 15 que tem como patrono Simplício Dias da Silva. 

Fonte: Blog do Professor Gallas

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