“Somos imortais porque não temos onde cair mortos”.
(Olavo Bilac)
No início desta semana, estando eu e minha esposa Maria
do Amparo, em nossa fazenda localizada no município de Caxingó –
Piauí, recebi do Sr. José Luís de Carvalho, Presidente da Academia
Parnaibana de Letras, a triste notícia de que tínhamos perdido um dos
nossos confrades, o ilustre advogado, professor e empresário, Francisco de
Assis Cajubá de Brito.
De início, pensei: devo me deslocar a Parnaíba para comparecer
ao velório e dar meu último adeus ao cortês companheiro de
foro e de letras. Pensei melhor e atendendo meu modo de pensar diante de
acontecimentos desta monta, resolvi não fazer a viagem. Nunca me agradou
guardar na memória a imagem de um amigo morto. Se lá eu fosse, com certeza que
ficaria na minha mente, para sempre, aquela fisionomia que eu jamais
gostaria de presenciar.
Preferi deixar fixada na minha
lembrança outra evocação que haverá de se repetir todas as vezes que
adentrar ao auditório da Academia Parnaibana: o momento da posse do
companheiro em nosso sodalício.
Foi a dele, a do doutor Cajubá, a primeira posse
ocorrida no Auditório Testa Branca. Espaço que levantei em um dos meus
mandatos como presidente da nossa instituição, vencendo a escassez de recursos
financeiros, mas com a determinação e a esperança de que, a partir de
sua inauguração, ocorrida em outubro de 2006, teriam os homens de letras
um local digno e gratuito para suas posses. Lembrarei até que no meu
pronunciamento naquela inauguração, recitei um quarteto que foi
registrado em ata pelo então Secretário, o colega Israel Correia, como uma
engenhosa paródia:
“Esse auditório da APAL
Que hoje se inaugura
Tem mais amor e ternura
Do que areia, cimento e cal”.
Ocorre que referida posse não foi apenas a primeira a acontecer
naquele auditório, foi também a única. Depois do Dr. Cajubá ninguém mais
preferiu aquele simpático ambiente genuinamente literário para
festejo do seu ingresso no silogeu parnaibano. Acharam mais acertado
procurar outros ambientes mais nobres, segundo seus equivocados
entendimentos, mesmo que tendo, para isso, pagar as taxas
cobradas.
Diante disso ficará também, junto com a saudade, a lembrança de que o ilustre colega falecido não demonstrava imoderado desejo de atrair admiração ou homenagens, pois se assim pensasse teria tomado sua posse em um auditório maior, mais rico e mais imponente, onde coubessem muitos convidados e onde fosse servido farto coquetel regado com salgadinhos, canapês e beberete. Sua condição financeira, como todos sabem, suportava tranquilamente tal despesa.
Também não restará esquecido que entre os acadêmicos que rejeitaram aquele espaço – mais poético e apropriado – preferindo outros, maiores e mais afamados, existem aqueles que, baldos de posses, mas fartos de vaidades, esqueceram-se de suas condições de pobres. E isto nos faz lembrar, finalmente, a lenda de muito tempo citada na ABL, atribuída ao grande parnasiano Olavo Bilac : “Somos imortais porque não temos onde cair mortos”.
Parnaiba, 06022022.
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