O Piauí quase que duplicou o número de armas registradas em posse de cidadãos, no período de um ano, ao mesmo tempo em que as mortes violentas cresceram, a despeito do maior isolamento social durante a pandemia. Essas são algumas das conclusões da mais recente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado nesta quinta-feira (15) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Conforme os dados do Sinarm, sistema da Polícia Federal que cadastra posse, transferência e comercialização de armas de fogo, e que foram usados como base para a pesquisa, houve no Estado exatos 3.303 novos registros em 2020, um aumento de 272,4% em um ano. A maioria desses registros é de cidadãos privados. Trata-se da segunda maior alta percentual, ficando atrás apenas de Alagoas (691,3%).
No geral, os dados mostram que em três anos, o Piauí mais que dobrou o número de armas de fogo nas mãos de civis. Em 2017, o Sinarm contabilizava menos de 5,4 mil registros de armas ativos. Ao final de 2020, o número subiu para 11.820, ou seja, um aumento de mais de quase 120%. Isso equivale a uma nova arma de fogo registrada a cada quase três horas no Piauí.
Para o sociológo Benedito Carlos, que tem especialidade em segurança pública, o resultado da ação do governo Federal, em facilitar o acesso as armas, resultou no problema. "Não houve preparação política, social, cultural e psicológica para uso de armas de fogo no país. O despreparo total só poderia ter esse desfecho. Por acidentes, brigas de trânsito, conflitos entre vizinhos, usar uma arma de fogo é prático, objetivo e dá poder a essas pessoas", pontuou, destacando que os outros Poderes da República precisam intervir, discutir melhor, refazer leis. "Estamos vivendo momentos de aguçamento do caos social. Armas pioram tudo", completou.
Além da explosão do número de armas nas mãos de civis piauienses, outros dados chamam a atenção na pesquisa. É que após dois anos de reduções, as mortes violentas voltaram a apresentar números crescentes no Piauí. Ano passado formam registradas 707 assassinatos no Estado, um acréscimo de 20,1% em comparação a 2019, quando foram mortas 587 pessoas, menor índice desde 2013.
“Infelizmente não há o que se comemorar. O anuário tem a ingrata missão de trazer notícias ruins”, afirmou David Marques, coordenador de projetos do fórum, em entrevista ao El País. Ele destacou ainda para a piora generalizada nos dados referentes à segurança pública e destaca os desníveis existentes entre as regiões do país, afetadas pela deterioração socioeconômica trazida pela crise sanitária.
Ainda segundo os dados, o crescimento no número de registros ocorreu no Brasil como um todo, mas em algumas unidades da federação o aumento foi muito maior que a média nacional. Onze unidades tiveram aumento superior aos 100% desde 2017, como o Distrito Federal, que saltou de 35.693 registros para 236.296 em 2020, um aumento de 562%. Na média nacional, o crescimento foi de 100,6%.
Por João Henrique Bezerra
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