Resquícios do vírus Sars-Cov-2 pode ficar no tecido peniano após a cura da infecção por COVID-19 por cerca de seis meses e causar disfunção erétil. A conclusão vem de um estudo publicado recentemente pelo periódico “World Journal of Men's Health”, feito pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos.
Outra academia que comprovou tal anomalia foi a Universidade de Roma, em março deste ano. A entidade trouxe estudos preliminares que comprovam a correlação.
Segundo o urologista do núcleo de medicina sexual do Hospital Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) Carlos Bautzer, o vírus causador da COVID-19 apresenta uma predileção pelo endotélio, que é o revestimento interno dos vasos sanguíneos. “Dessa maneira, acontecem diversos fenômenos vasculares relacionados com a doença, como trombose, isquemia (diminuição da passagem de sangue pelas artérias que levam o sangue ao coração) e dificuldade de trocas gasosas.”
“Para que a ereção ocorra, é necessário que o sangue chegue a estruturas penianas denominadas ‘corpos cavernosos’, que se inundam com uma quantidade maior de sangue após estímulos erógenos e ocorre um represamento desse sangue.Desta maneira, ocorre a ereção.
Para que aconteça uma dilatação destes vasos, chamadas artérias cavernosas, existe um estímulo de nervos que provocam a liberação de substância chamada ‘óxido nítrico’, produzida no endotélio dos vasos dentro dos corpos cavernosos, que promove a dilatação de vasos e o aumento do fluxo sanguíneo para dentro dos corpos cavernosos.”
No então estudo recém-publicado, os dois pacientes que desenvolveram disfunção erétil após a infecção por COVID-19 apresentaram uma quantidade menor de produção de óxido nítrico pelo endotélio nos corpos cavernosos, quando comparados com outros dois pacientes que tinham disfunção erétil por outro motivo. “Esta pode ser uma das explicações para que ocorra disfunção erétil após a infecção”, aponta o urologista.
Nos casos de alterações da função erétil após infecção de COVID-19, os pacientes devem ficar atentos a alguns sinais, a fim de reconhecer a impotência. “Redução das ereções matinais e noturnas, dificuldade em obter e manter ereções em atividades sexuais, aumento do grau de ansiedade e preocupação em ser capaz de manter ereção em atividades sexuais e redução do interesse sexual são alguns dos sintomas que podem ser indício de disfunção erétil em consequência da infecção pelo vírus”, afirma Carlos Bautzer.
Nesse cenário, o urologista recomenda que a ajuda especializada seja procurada o quanto antes, a fim de reduzir o efeito da falta de ereção no tecido cavernoso que pode levar a atrofia e fibrose, o que dificultará ainda mais a capacidade de reversão da dificuldade erétil. O tratamento, então, deve ser feito com medicações orais, como inibidores da fosfodiesterase tipo 5, para ajudar a manter o fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos e evitar a fibrose dos tecidos cavernosos.
“Se estas medicações forem insuficientes, podem ser injetadas medicações vasodilatadoras diretamente nos corpos cavernosos para promover a dilatação dos vasos e levar a ereção. Além disso, se for diagnosticado hipogonadismo (falta de testosterona), pode ser realizada reposição, com cuidado para não ultrapassar os níveis de normalidade. Isso deve ser observado de perto, pois o excesso de testosterona pode levar ao aumento do hematócrito que pode aumentar os eventos trombo-embólicos, que já ocorrem na COVID-19”, afirma.
E depois do tratamento, é possível ter vida normal?
Segundo o urologista, a presença de limitações está relacionada ao grau de fibrose e cicatriz que podem ficar nos corpos cavernosos destes pacientes, bem como a presença ou não de alterações hormonais. “Se as medicações orais ou injetáveis nos corpos cavernosos não forem suficientes, uma prótese peniana poderá ser utilizada para que o paciente possa ter atividade sexual.”
*Com informações do Correio Brasiliense.
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