4 de fev. de 2021

Como era a vida no campo

 

Por:Benedito Gomes(*)

Em conversas com amigos, falamos de nossos queridos agricultores, homens da roça, trabalhando com enxada, machado, foice e outros fortes equipamentos simples e eficientes.
O trabalho na roça tinha inicio em julho com a escolha do local, que estivesse com mais de dez anos do último roçado.

Iniciávamos com a broca, derruba, queima, corte, coivara e cerca. Já em dezembro, ai então chegava a chuva e começávamos o plantio.

Nos anos 40, 50, 60…o agricultor não ganhava um real no seu dia a dia de trabalho. Não havia aposentadoria rural, nenhum auxilio governamental. Criávamos pequenos animais: um leitão, quando ele atingia 40 ou 50 quilos, vendíamos, com mais algumas galinhas, uns paneiros de farinha e, com esse dinheiro, comprávamos tecidos para fazer roupas: alguns metros de riscado para camisa, metros de mescla para calças e metros de chita para vestidos.

Nas mãos de uma boa costureira, estes simples tecidos eram transformados em belas e coloridas indumentárias com as quais íamos a missa aos domingos e a procissão no dia da padroeira.

Conversávamos também sobre o trabalho na roça, na farinhada, no carro de boi, o trabalho naquela época não era dia a dia, era noite a noite, sem energia, sem maquina era tudo feito no braço. Para ficar mais simples, resumir em poesia:

Ali só havia trabalho
O único divertimento
Sem salário
E sem aumento

No sol, na chuva, no vento
A roça e o carro de boi
Em julho a farinhada
Noite inteira acordada
Fazendo farinha fina

Muito grande a escuridão
A única iluminação
Vinha de uma lamparina

Como não tinha relógio
Não havia hora marcada
Acordava e olhava o tempo
Se em noite estrelada
Pela posição dos astros
Já era de madrugada
Logo o galo cantava
Começava o expediente
Noite escura e nós, a gente
Enfrentava sem medo
Transportando tijolos ou telhas
As vezes lenha ou madeira
Tirada com sacrifício
Na cerca da capoeira

O dia vinha raiando
O corpo sujo e cansado
Pelo o trabalho pesado
Pedia alimentação

A primeira refeição
Estava chegando á mesa
Tão simples, tão necessária
Sol nascendo a manhã clara
A cena se repetia
Um bule de café
Uma cuia com farinha
Era tudo o que tinha
Para começar o dia

Sentados ao redor da mesa
Cada um com sua tigela
Uma alegria singela
De esperança e certeza
O dia continuava
Com chuva, com sol ardente
Com frio ou tempo quente
Mais tarde a noite chegava
Armava a rede e deitava
Para o corpo descansar
Não dava nem pra sonhar
Pois chegava a madrugada
E uma nova jornada
Já tinha que começar

(*)Benedito Gomes
Contador – UFPI

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