Parnaíba, como cidade histórica, é muito estranha quando relega a um último plano o que há de mais belo em seu passado; mais rico da sua história. É o caso do centenário Cajueiro de Humberto de Campos, do qual certamente não falam nas escolas e nossos intelectuais não se preocupam em colocá-lo sempre em evidência.
A Academia Parnaibana de Letras, através do casal de intelectuais Pádua Santos/ Maria do Amparo, adquiriram, com o apoio do então prefeito José Hamilton, todo o acervo do escritor maranhense, inclusive o seu fardão da Academia Brasileira de Letras. Nunca se deu o destaque devido, porque foi entregue para a prefeitura e vivia jogado numa sala do Casarão Simplício Dias, até que o Academia readquiriu e devolve-o a uma sala em sua sede, onde igualmente se encontra jogado.
Esta semana o vereador Irmão Marquinhos apresentou requerimento, aprovado na Câmara, pedindo a atenção do Poder Público, placas indicativas de que o Cajueiro ainda existe, e que poderia, sim, ser um atrativo turístico, se no Piauí se levasse o turismo a sério. “As pessoas não sabem, desconhecem o local do Cajueiro. É preciso que os piauienses conheçam a maravilha que é o cajueiro”, disse o vereador.
O Cajueiro só não está totalmente no esquecimento porque todos os anos as casas espíritas de Parnaíba realizam a Semana Espírita Humberto de Campos e programam para lá uma atividade cultural. E só!
Para quem, como eu, fez o exame de admissão, fez o 5º ano primário, por certo conhece a crônica Meu Cajueiro, de Humberto de Campos, que imortalizou a herança que o escritor nos deixou, no tempo em que residiu em Parnaíba
MEU CAJUEIRO –Um amigo de Infância
“Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
– Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças…”
Recebendo a carta de minha mãe, choro sozinho. Choro, pela delicadeza de sua ideia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para não me afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos crescido juntos, da terra em que eu, ignorando o que era, havia sido feliz?
Blog do Bsilva
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