Enquanto as montanhas sagram lamas pelos poros,
vomitando desesperança pelo vale, outrora verde, homens vestindo coragem
desafiam o próprio limite do corpo e da mente na tentativa de amenizar tamanha
dor e desilusão neste pedaço de Minas.
Desde cão Thor, policiais, civis voluntários e
bombeiros, principalmente. Esses últimos que não têm rosto e nem nome. Vestem
marrons e rastejam sobre a lama a procura de um sopro de vida, quando não, por
um corpo apenas que amenize a dor de uma família. Heróis cansáveis com suas
máscaras contra o mau cheiro. Eles choram de exaustão e dor diante da imensidão
de lama; diante do corpo humano desfigurado pela cobiça; diante do seu salário
parcelado em três vezes e seu 13º ainda sem previsão.
Esses heróis machucados e que sangram, mas esquecem
sua própria dor em prol da dor de outrem, diante do cenário desolador. Heróis
sem HQ e sem aplausos que tem sede de água e de justiça. Heróis que se
reconhecem na face enlameadas do seu próximo entre os galhos. Heróis que vibram
com o aceno de um resgatado, seja ele um homem ou um cão. Heróis que amam a
vida em sua mais ampla definição. Nem mil medalhas serão suficientes para
recompensar teus esforços nesses últimos dias e dos dias que ainda virão.
Bombeiros de Minas, Maranhão, São Paulo, Rio... Em
Brumadinho se tornam uma única corporação: Heróis de Minas e eles vestem a
esperança de um país que ainda mantém a fé em acreditar em dias melhores.
SILVA,
Marcello. 2019
Imagem:
Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
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