Depois de condenar e prender Lula por corrupção, cujo processo tirou o ex-presidente da sucessão presidencial deste ano, o juiz federal Sergio Moro aceitou nesta quinta-feira 1 o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para transformar-se em superministro do novo governo. Moro não será apenas ministro da Justiça, mas terá sob seu comando a Segurança Pública, a Polícia Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o temido Coaf, que monitora toda a movimentação financeira suspeita. A Transparência e a Controladoria-Geral da União estão em negociação. Com esse poder todo, o juiz, de 46 anos, torna-se o xerife do Brasil, a quem estarão subordinados todoas os órgãos de combate à corrupção.
Moro já vinha sendo sondado por Bolsonaro ainda no segundo turno. Em meados de outubro, o economista Paulo Guedes, que também será superministro da Economia, foi a Curitiba e reuniu-se com o juiz. Moro gostou da idéia, embora tenha deixado claro que preferia ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). No início de 2020, o ministro Celso de Mello completará 75 anos e terá que se aposentar. Moro chegou a pensar em transmitir a Bolsonaro que a prioridade era o STF, mas depois de falar com amigos concluiu que uma coisa não descartava a outra. “O Ministério da Justiça poderá ser o caminho para chegar ao STF”, disse Moro à ISTOÉ. Guedes levou essa expectativa a Bolsonaro. Na segunda-feira 29, um dia após vencer a eleição, o novo presidente tornou público o convite, por meio de uma entrevista ao Jornal Nacional. Moro levou dois dias refletindo sobre a proposta e, na quarta à noite, resolveu aceitar. Na quinta-feira 1, o martelo foi batido.
O combate à corrupção continua
Depois de duas horas de conversas na casa de Bolsonaro no Rio, em que o juiz voltou a falar de sua pretensão para ocupar uma das 11 vagas no STF, Moro confirmou a ida para o Ministério da Justiça. Disse que a audiência foi um misto de tristeza e alegria. Lamentou por ter de deixar a Justiça Federal, depois de 22 anos, mas ficou envaidecido por poder continuar a exercer na nova função a missão de combate à corrupção. “A perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, levaram-me a tomar esta decisão. Ela consolida os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afasta riscos de retrocessos por um bem maior”, disse Moro, numa nota oficial que ele escreveu ainda dentro do carro da PF que o transportou da casa de Bolsonaro ao aeroporto. Ele não conseguiu falar com os jornalistas que se aglomeravam na porta do condomínio, pois uma pequena multidão de seguidores se juntou aos repórteres. Ele dará uma entrevista coletiva na terça-feira 6.
“Aceitei o convite porque, apesar de todos os esforços feitos pela Lava Jato, a corrupção ainda não acabou”Sergio Moro, juiz federal
“Aceitei o convite porque apesar de todos os esforços feitos pela Lava Jato, a corrupção ainda não acabou. Precisamos aprimorar dispositivos que reduzam ainda mais essa prática lamentável”, acrescentou Moro à ISTOÉ. Em quatro anos à frente da Lava Jato, Moro proferiu 215 condenações, contra 140 pessoas, entre elas o ex-presidente Lula. Como ele garante que já se afastou de todos os casos que vem tocando, caberá à juíza Gabriela Hardt, sua substituta na 13ª Vara Federal do Paraná, proferir a nova sentença contra Lula no caso de favores que ele recebeu da Odebrecht para a compra de um duplex no prédio onde mora e de um terreno para o Instituto Lula. Ela também irá conduzir o interrogatório do ex-presidente no próximo dia 14 para tratar do Sítio de Atibaia. Moro não atuará mais na Justiça Federal, pois não quer ser chamado de parcial. Afinal, seus detratores vem acusando-o de ter feito o que fez nas ações de combate à corrupção apenas por perseguição política ao PT. Moro deseja preservar sua credibilidade. Até porque a grande maioria das pessoas o identifica como responsável pela maior operação de limpeza ética já feita no País.
Uma juíza durona
Com a decisão do juiz Sergio Moro de aceitar o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para comandar o Ministério da Justiça, quem assumirá os processos da Operação Lava Jato, pelo menos interinamente, é a juíza substituta Gabriela Hardt. Não será a primeira vez que ela encara a empreitada. Em outras ocasiões, quando Moro saiu de férias ou viajou ao exterior, ela se mostrou tão rigorosa quanto ele. Em maio deste ano, quando o juiz estava ausente, ela mandou prender o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que posteriormente obteve um habeas corpus no STF. Gabriela nasceu em Curitiba e chegou a cursar dois anos de engenharia química, mesma profissão do pai, antes de optar pelo Direito. Prestou concurso para juíza em 2007 e foi transferida algumas vezes para cidades do interior do Paraná antes de retornar à Curitiba em 2014 para assumir a posição de juíza substituta na 13ª Vara Federal. Em 2015, ao substituir Sérgio Moro pela primeira vez, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de José Dirceu. No ano seguinte, determinou que o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira indicasse um imóvel como garantia para a fiança estabelecida por Moro. Em suas redes sociais, Gabriela Hardt costuma compartilhar fotos das competições de natação das quais participa e mensagens de apoio à Lava Jato, a policiais federais e outros magistrados.
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