7 de jul. de 2018

Baile à fantasia, por Lívia Pessoa.

Havia um certo charme em mascarar a tristeza. Era um tipo de solidariedade para aqueles que não estavam preparados para saber como o mundo realmente era, como ela realmente era.
Não sei do que chamar de fato, se era altruísmo ou alguma tentativa destrutiva; talvez um significado se misturasse no outro, e em meio a essa bagunça, ela se encaixasse e se perdesse.
Um soco no estômago e de repente o gosto salgado se abrigava a boca em meio a um sorriso interrompido; a alegria precipitada de um personagem ideal.
Eu fui quem esperavam? Eu me calei o suficiente? Eu dancei durante a festa? Eu sorri da piada que me transformaram?
Se não fui o que me desenharam para ser, quem era então?
Caí. Uma queda daquelas que os joelhos se ralam, os cotovelos sangram e o queixo treme. Chorei por bons anos até cada ferida parar de arder. Ainda dói, mas não me define mais. Sou mais que meus machucados, e definitivamente muito mais do que os que me feriram me definiram algum dia. Não sabiam um terço. Não sabia nem isso sobre a própria habitação. Hoje sei.
Aprendi na prática sobre o tóxico do ser humano. Sobre como inconscientemente, no camuflar de cada palavra felina, o ódio entra nas nossas cabeças. Finas como agulhas, duras como o aço moldado, afiadas como dentes.
Te manipulam tão facilmente. Acredite, tão fácil como respirar. Usam o amor como escudo enquanto te apunhalam. O tão singelo “cuidado” dos favoritos da tua rotina é banhado com cinismo e veneno, e sem percebermos estamos entorpecidos.
Não somos obrigados a aceitar o amor de qualquer jeito, de qualquer um. Amor é encomenda, presente, nunca foi e nunca será esmola. Não se culpe por não aceitar as facadas e em seguida os abraços. Não se culpe por partir.
Aprendi depois de olhar a olho nu, que a alma crua de muitos nomes, dos quais somei corações, nunca sequer cumprimentaram a minha. Cansei da tolice. Peguei minhas malas e as melhores histórias e fui embora dali. Entendo hoje que ser convidada a estar na vida de alguém nem sempre é ser bem-vinda, decidi, então, me ser morada.
Com amor, Lívia.
@_livia_pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente essa postagem

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...