21 de mai. de 2018

OPINIÃO - Policial " Atirar na Perna"

Para conhecimento de alguns cidadãos, membros do Poder Judiciário e Ministério Público, Defensores, Direitos Humanos, Políticos e a quem mais interessar possa, sobre o CORRETO uso da ARMA DE FOGO em uma AÇÃO POLICIAL.
ATIRAR NA PERNA?
"Atirar na perna ? Como, se o alvo que eu treinei nem perna tinha ?
A pergunta soa tendenciosa, pois dá a impressão que o policial atira para matar quando deveria fazer apenas para ferir.
Refleti um pouco sobre isso e resolvi escrever rapidamente algumas linhas...
1. Policial não atira para matar ou ferir. Policial atira para neutralizar a ameaça, isto é, fazer cessar uma agressão contra a sua própria vida ou a vida de terceiros;
2. Se já é difícil acertar no tórax, o que dirá em pernas ou braços. Ainda mais durante um confronto;
3. Policial não é super homem! Ele também tem medo de morrer, ele também está sujeito aos efeitos da adrenalina (aceleração de batimentos, sudorese, visão de túnel, perda auditiva, alteração respiratória, etc.), o que inviabiliza a concentração e tranquilidade para se mirar na perna ou no braço;
4. Em um confronto armado o policial realizará disparos chamados de "tiro instintivo", que são tiros nos quais não se faz enquadramento de alça e massa. É impossível se deparar com alguém armado a sua frente, atirando contra você, e pensar em focar no aparelho de pontaria. Repito, IMPOSSÍVEL!!!;
5. O policial em situação de confronto armado precisa neutralizar a ameaça, o que ocorre basicamente por meio da hemorragia causada pelos ferimentos nos órgãos. E o local de maior concentração de órgãos é no tórax.
Se o policial não cessar a agressão ele estará colocando a sua vida em risco ao dar oportunidade para que o agressor possa atingi-lo durante o confronto;
6. Atirar na perna ou no braço não é garantia de preservação da vida. São áreas vascularizadas e que possuem artérias (femural e braquial) que, se atingidas, levarão a óbito em poucos minutos;
7. Se o policial precisou sacar e acionar o gatilho é porque a situação exigiu, isto é, existe uma vida em risco, ou a do próprio policial ou de terceiros;
8. Pensar no uso da arma de fogo como instrumento de menor potencial ofensivo é um erro. Para casos dessa natureza existem equipamentos próprios (pistola elétrica, spray pimenta, tonfa, bastão, técnicas de domínio, etc);
Enfim, se a situação exige o emprego da arma de fogo, esta deve ser usada de forma eficiente para cessar a ameaça e, nesse sentido, os disparos são no tórax. Não se pode exigir outra conduta do policial.
Ademais, não existe doutrina no meio policial de disparos na perna durante uma troca de tiros.
Quem pensa diferente não tem a verdadeira percepção de um confronto armado e, certamente deve acreditar que, diante de uma ameaça à sua vida, é possível, além de mirar na perna, contar os disparos, conversar com o parceiro, não perder visão periférica, dentre outras coisas.
Não criemos um padrão de exigência que parece simples no conforto do ar condicionado, mas que é impraticável quando se está no "olho do furacão".
Raphael de Mello.
Agente de Polícia Federal.
Instrutor de armamento e tiro.

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