12 de mai. de 2018

A luta pela preservação da Lagoa do Portinho

A Barragem do Dendê, impedia o curso do Rio Marruás que despeja suas águas na Lagoa do Portinho. A luta pela preservação da Lagoa do Portinho passa primeiro pela preservação dos rios que despejam suas águas nela.
Barragem do Dendê no curso do Rio Marruás, mesmo depois da abertura do paredão no dia 02 de abril, ainda tem muita água.
Foi iniciada em janeiro de 1916 a construção da Estrada de Ferro Central do Piauí e no dia 13 de maio de 1922 foi inaugurado o primeiro trecho de 191 km ligando Luís Correia a Piripiri. Nos 37 km que ligam Parnaíba a Bom Princípio, em determinado ponto da estrada, no km 29, num vale por onde passa o Rio Marruás, foi necessário construir um aterro e uma galeria para que o rio Marruás, afluente do rio Portinho, passasse por baixo. 

Um proprietário de um imóvel rural, aproveitando-se deste paredão de aproximadamente 8 metros de altura, por onde antigamente passava o trem, fez uma barragem, a que deu o nome de “Barragem do Dendê” impedindo que as águas do Rio Marruás chegassem até a galeria e seguisse seu curso normal até chegar a Lagoa do Portinho.
Com a retirada de parte do paredão da Barragem do Dendê no dia 02 de abril, as águas do Rio Marruás passaram a correr em direção ao rio Portinho e consequentemente chegando a Lagoa do Portinho.
Os órgãos públicos encarregados de impedir que um rio público fosse barrado no seu leito, nada fizeram contra este crime ambiental que matava um rio e acabava com uma das mais belos cartões postais do Piauí,

O advogado Tibério Nunes, indignado com falta de ação dos órgãos que deveriam fazer algo para salvar a Lagos do Portinho e vendo sua agonia que se agravava a cada dia, iniciou por conta própria uma série de tentativas, sem êxito, de levar água para encher a lagoa.
Pontilhão feito para passar as águas do Rio Marruás. Em cima do paredão passava os trilhos da Estrada de Ferro Central do Piauí inaugurado em 13 de maio de 1922.
Quando o excelente inverno deste ano de 2018 chegou trouxe novas esperanças, mas apesar das fortes chuvas, no final do mês de março a Lagoa do Portinho continuava com muito pouca água. Foi ai que o Tibério Nunes resolveu mais uma vez percorrer o leito dos rios Marruás e Portinho, desta vez com ajuda de um drone para filmar alguns locais de difícil acesso e depois analisar as imagens. Além das barragens já conhecidas, Tibério encontrou mais quatro, sendo a maior delas a Barragem do Dendê que represava o Rio Marruás inundando cerca de 6 quilômetros de extensão com uma largura entre 250 a 300 metros e uma profundidade de aproximadamente 6 metros na parte mais funda.

Depois de alguns dias de trabalho com vários homens trabalhando para cortar o mato e com pás, picaretas, enxada para abrir o paredão da Barragem do Dendê feita com areia e cascalho, no dia 2 de abril de 2018 as águas do Rio Marruás começaram a seguir seu curso em direção a Lagoa do Portinho. Mais a frente, em seu caminho rumo a lagoa ainda existe uma barragem feita de concreto que impedem a passagem das águas, mas com a abertura da Barragem do Dendê foi suficiente para ela encher e sagrar. Acreditamos que somente no verão ela deixará de correr por conta desta barragem de concreto ainda existente.
Pontilhão por onde passam as águas do Rio Marruás construído no Km 29 da Estrada de Ferro Central do Piauí. As águas do Marruás estavam impedidas de passar pelo pontilhão por conta da Barragem do Dendê que foi construída se aproveitando do paredão da estrada.
Tibério continua sua luta diária para salvar a Lagoa do Portinho, para isto ele percorre quase todos os dias uma parte do Rio Marruás para medir a vazão da água, mesmo que visualmente. Sempre que preciso, leva homens para retirar a areia do leito do rio. Tudo feito de forma manual para preservar a mata ciliar para que o rio Marruás continue vivo e salve a lagoa.

A maioria dos proprietários de imóveis ao longo do Rio Marruás já aderiu a esta luta pela sua preservação, mas inda existem alguns que resistem e além de não preservar o rio ainda atrapalham com suas barragens.
Águas do Rio Marruás segundo seu curso depois de feito uma passagem na parede da Barragem do Dendê
O Rio Marruás, juntamente com outros pequenos riachos juntam suas águas e formam o Rio Portinho, este nasce próximo a Serra de Santa Rosa no maciço Serra Grande. Outros dois riachos temporários se unem na localidade Marruás da antiga linha férrea que ligava Parnaíba a Bom Princípio. Ao longo do funil de encontro desses riachos, recebe o nome de Rio Portinho, cuja denominação nos idos de 1800 era Rio do Funil. Outros pequenos riachos temporários como o Cadoz, Braz e Capoeiras, lançam suas águas no leito do Rio Portinho que tem 60 km de extensão até a sua foz no Rio Igaraçu, que fica logo após as pontes que ligam o município de Parnaíba a Luiz Correia no lugar denominado Bela Mina.
Neste ponto, no Km 29 da Estrada de Ferro Central do Piauí, por ser um baixão foi construído um paredão para passar a estrada e um pontilhão por baixo para passar as águas do Rio Marruás. A barragem do Dendê, impedindo a passagem do rio foi construída a direita do paredão.
A luta pela preservação da Lagoa do Portinho passa pela preservação da bacia do Rio Portinho, da nascente a sua foz e somente com a conscientização do homem é que poderemos alcançar esta vitória.


Com auxílio de um drone, Tibério Nunes localizou mais outras três pequenas barragens no leito do rio Marruás, mas que já estão sangrando por conta do excelente inverno.
Além da Barragem do Dendê, Tibério Nunes localizou outras três pequenas barragens de menor importância, mas a que mais atrapalha o curso do Rio Marruás é uma que é feita de cimento, que passou a sangrar logo depois que a barragem do Dendê foi aberta.


Barragem do Dendê chegou a ter 6 metros de profundidade na parte mais funda antes de ser feita a abertura de um canal para as águas do Rio Marruás poder passar.




Rio Marruás no Km 29 da antiga Estrada de Ferro Central do Piauí


O Rio Marruás despeja suas águas na Lagoa do Portinho.


Neste local foi feita a abertura no dia 2 de abril para que o Rio Marruás pudesse correr normalmente para o pontilhão.








Tibério Nunes no local onde cobria um homem antes da abertura da Barragem do Dendê.


O mato  de dentro da barragem está morto porque estava submerso 



Antiga Estrada de Ferro Central do Piauí, os trilhos foram retirados, mas os dormentes ainda estão em baixo da terra.





Por José Wilson | Jornal da Parnaíba

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