6 de fev. de 2018

O PIAGUÍ - Tia Zezé: Um Exemplo de Amor à Vida e à Educação!

A pequenina gigante contra os terríveis olhos de desprezo…
Escondida do mundo… Ela assim pensava, porém por debaixo da mesa estava… A imaginar mil e uma histórias, no intuito de escapar do tédio que era estar ali. Entre um curiar e outro, tentava entender como poderia existir, gente de toda sorte e vaidade, alguns carregando olhos de sinceridade, outros, uma terrível face de desprezo… E ela ali, pequenina (desencontrada), em meio àquela sala, que ouvia, vez por outra, alguém dizer que era de aula… Mas que nem por um momento, até então, acalentava o seu mais que inquieto coração.
    Apenas ir, comer, fingir e partir. Era assim no colégio, ao menos até os nove. Até que um dia (e que dia!), uma mulher revestida de coragem e paciência resolveu fazer mais que sua obrigação… Mergulhou fundo nas águas geladas, sem tanque de oxigênio e sem temer os perigos que pudesse haver em território tão obscuro, à procura daquela menina… Na verdade não se tratava de rio, e nem lago, mas o velho esconderijo, debaixo da mesa… O fato é que ela foi encontrada, e de lá, resgatada. Conheceu pela primeira vez, uma aula de verdade. Uma aula com amor.
    A partir daquele dia a escola passou a ter cor, a fazer sentido, até mesmo sabor, quem diria… Não o suficiente para fazer os problemas do dia desaparecerem, mas agora ela sentia que dava pra resolvê-los… Mesmo que demorasse e assim custasse inúmeras gotas de suor e criatividade. Ela passou a enfrentar o mundo, do seu jeito. E enfrentar para ela sempre foi lembrar de uma inspiração eterna, que mesmo o tempo (por vezes vilão) não apagou… A lembrança da adorada mãe, que sozinha criou seis e mais essa pequenina (traquina), que gostava de observá-la, educando e cuidando de todos, sem distinção ou crueldade, apenas a realidade, exposta a cada um e antes de dormir, as histórias de trancoso, para aguçar ainda mais a curiosidade, enquanto divertia e a fazia esquecer a infância pobre, porém honesta.
    E de histórias que existiam e outras nem tanto, a juventude chegou, e com ela, outros dilemas… Fosse no bairro de origem, ou por outros que morou, passou dias, ou até horas, vez por outra tropeçando, caindo, sem saúde, sem chão e ainda assim, a contragosto daqueles mais desumanos, lembrando do quanto é forte, e se reerguendo, ficando de pé, e ensinando, aprendendo, vencendo, se formando… E tendo a noção, desde sempre, que é preciso de alegria, muita alegria (mesmo na dor) para derrotar o cruel inimigo preconceito… Tendo a força da lembrança da mãe, e de todos aqueles que já apoiaram e a acompanham como combustível… E inspirada naquela professora, que um dia mergulhou, sem pestanejar, fazendo ela ver que também poderia resgatar tantos outros meninos e meninas, que a vida tratou de magoar (a vida não, os seres com olhos de desprezo) e que escondidos estão, estes meninos e meninas, à espera, mesmo sem saber, de alguém grandioso como ela, que um dia pode chegar, com uma bolsa carregada de sonhos e um punhado de esperança. E os salvar.
Claucio Ciarlini (2017)
IMG-20170211-WA0025Nota: Maria José Veras Ferreira, mais conhecida como Tia Zezé ou a pequenina gigante deste breve conto inspirado em sua vida, enfrentou preconceitos, obstáculos e pedras no caminho… Superou todos!  E é um exemplo para quem já fez parte de sua história (os que possuem coração). Nasceu em 10 de abril de 1965, é parnaibana e residiu boa parte de sua vida no Bairro São José, tendo morado também em outros lugares e hoje no Bairro Pindorama. É graduada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil, tendo atuado em várias escolas e faculdades (tanto públicas, como particulares) sempre com o mesmo empenho e entrega, a citar o Colégio Nossa Senhora das Graças, onde lecionou por 25 anos. É referência na área de educação e cultura de Parnaíba, também é poetisa, roteirista, escreveu e dirigiu várias peças em escolas. O nome da professora que a resgatou e lhe serviu de inspiração é Ana Teles e o nome de sua mãe: Teresinha de Jesus Pascoal Veras. Os irmãos: Francisca, Socorro, Antônia Maria, Maria Ozanete, Regina Célia e José Carlos. Os filhos: Darcon e Dalila. Sua caminhada pessoal e profissional, que tive o privilégio de conhecer através de nossas conversas (que muito me emocionaram), é uma grande lição de resiliência e de amor à sua cidade e à Educação, numa linda e vibrante trajetória que precisaria de inúmeras páginas… Um livro! E que livro seria… Quem sabe um dia!

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