Blog do Pessoa: A história se repete: Antonio Palocci. (13/10/2017)


13 de out. de 2017

A história se repete: Antonio Palocci. (13/10/2017)



Prof. Dr. Geraldo Filho (UFPI)

Os adeptos da teologia marxista, que orienta a esquerda socialista e comunista desde o século XIX (1801-1900), multiplicando por décadas os fieis, adoram repetir frase de Marx sobre a história: a de que ela se repete como farsa. Tolice! A história “parece” se repetir por que ela obedece à regularidade das instituições familiares, econômicas, políticas, religiosas e estéticas (a apreciação da arte do belo e do prazeroso) que são estruturas formadoras das sociedades – um filósofo diria imanentes às sociedades – que convergem para uma finalidade: a garantia de sua existência, provendo-lhes às necessidades de nutrição, produção e reprodução. 
Portanto, as relações humanas encenadas no palco social de cada uma daquelas instituições são muito semelhantes, mesmo que elas sejam dramatizadas numa sociedade tribal ou numa sociedade industrial complexa; numa favela miserável do Rio ou num bairro chique de Nova York; numa horda nômade caçadora coletora, há 200 mil anos, ou nas megalópoles contemporâneas! Não importa, modificam-se somente os cenários, porém o enredo das relações humanas é o mesmo. Eis porque elas são tão semelhantes, apesar de relativamente distantes no espaço e no tempo.
Isso provoca conclusão polêmica, que no limite pode levar ao desencanto das utopias (o que, adianto, é muito salutar, principalmente para os jovens!): não existe história, pois o que há de fato é a eterna repetição do mesmo, sob nova roupagem ou cenário, evidentemente! Adentrando o domínio da astrofísica (as leis físicas das macroescalas do universo que estudam os astros) e da mecânica quântica (o comportamento indefinível das microescalas do mundo infinitamente pequeno, difícil de ser expresso por leis) reforçarei essa conclusão polêmica reconhecendo que o tempo histórico não existe! Se a história for compreendida como a passagem do tempo, ela ficará praticamente anulada! Com efeito, a história apenas “é”, ela “não foi” e “nem será”!
Como exercício de amadurecimento intelectual para alunos na universidade, gosto de instiga-los a identificar no cotidiano permanências longínquas de tradições culturais remotas, travestidas com a roupa do presente. Assim, práticas religiosas como procissões e veneração aos santos; práticas estéticas como o culto ao corpo e a higiene; práticas políticas de conquista e manutenção do poder pela força ou pelo encantamento do povo (populismo); práticas morais em torno da família, etc., nitidamente trazem as marcas indeléveis do passado. Para ficar com dois breves exemplos: se uma máquina do tempo trouxesse do século I (1- 100) um cidadão romano ele não estranharia o hábito de parte dos brasileiros de frequentar academias de malhação, ou o costume de tomar banhos diários; ou ainda, não se surpreenderia com estátuas dos santos nas igrejas, talvez procurasse saber quais delas eram as de Júpiter, Juno, Venus, Minerva ou Marte.
Estas reflexões surgiram com a carta de Antônio Palocci, divulgada há duas semanas, na qual o ex-ministro dos governos Lula e Dilma reagiu contra o PT, apresentando a desfiliação do partido, depois que a direção abriu processo interno para expulsá-lo, decorrência das denúncias de corrupção contra Lula que ele fez ao juiz e procuradores federais da Operação Lava Jato, no Paraná.
Por absoluta coincidência, quando da divulgação da carta, havia acabado de ler um livro de 1946, de Arthur Koestler, chamado O Zero e o Infinito, que conta a trajetória de Nikolai Salmanovitch Rubachov, personagem fictícia, que retrata importante líder da Revolução Comunista Russa, de 1917, comissário do povo (uma espécie de ministro), braço direito de Vladimir Lênin, comandante de uma das Divisões do Exército do Povo (Exército Vermelho). As características físicas e a história pessoal descritas no livro inegavelmente remetem a Leon Trótsky, importante protagonista da Revolução, que ora completa 100 anos.
Nos anos 30, Rubachov foi vítima da feroz paranoia ditatorial de Josef Stalin (que subiu ao poder com a morte de Lênin, em 1924) e que por meio de acusações forjadas de traição à Revolução (atividades contrarrevolucionárias), denominadas Processos de Moscou, foi eliminando todas as lideranças políticas e militares que pudessem confronta-lo, os condenando a morte e ao esquecimento, apagando suas imagens das fotos oficiais e menções aos seus nomes nos jornais, revistas e livros.
Com efeito, de pronto veio à mente a semelhança inevitável com Antônio Palocci, que ao lado de Lula e José Dirceu levou o PT à conquista do poder em 2002. Se Dirceu era o ideólogo da esquerda socialista e comunista dentro do Estado petista; Palocci era o político pragmático que conquistou a confiança do empresariado, acalmando os mercados na transição de Fernando Henrique para Lula ao aplicar, como surpreendente Ministro da Fazenda, uma eficiente receita liberal na condução da economia, consolidando o tripé da responsabilidade fiscal do governo anterior (Pedro Malan e Armínio Fraga): controle do déficit público; controle da inflação com juros declinantes; e taxa de câmbio flutuante, obedecendo à dinâmica das leis de mercado. Lula pôde comemorar o “grau de investimento” atribuído ao Brasil pelo sistema financeiro internacional, o que significava credibilidade e solidez do pais para receber investimentos externos, que geram riqueza e empregos, graças ao seu ministro Antônio Palocci!
Lembro que na época, em sala de aula, do Curso de Administração e de Economia, da UFPI, surpreso e encantado com o desempenho gerencial do ministro, o apontei como o potencial sucessor de Lula. Pois, convenhamos, se Lula tivesse abdicado da megalomania populista (que faz o sujeito pensar que é mais do que efetivamente ele é!) e indicado Antônio Palocci para o seu lugar, no segundo mandato, ao invés de ter concorrido como fez, a história econômica do país e do PT provavelmente teria sido outra.
Não entrarei no mérito da ética de Antônio Palocci e nos pecados que o levaram a cair no governo Lula (caso do caseiro piauiense Francinildo)! Pecadilhos, ante a competente tarefa de tornar um governo com ideias econômicas do século XIX num governo capitalista do século XXI. Alguns dirão que isso é cinismo, mas como cientista social “realista” tendo a conjecturar pelo lado do mal menor para a sociedade e da razão de Estado! Pensando então com a cabeça de Nicolau Maquiavel e a prática política de Leon Trótski, inspirador do grupo de esquerda do qual Palocci é originário (Libelu: Liberdade e Luta), antes do PT, compreendo perfeitamente o ministro e também a natureza falível do homem (o mundo é cinza, meus alunos conhecem essa frase!), mas não posso deixar de destacar e elogiar seu grande mérito, e a oportunidade que o Brasil perdeu, se ele tivesse virado presidente.
O que iria acontecer com Palocci, no processo interno que o PT moveria contra ele, para expulsá-lo, seria o mesmo que aconteceu com Nikolai Rubachov. Como este, Antonio Palocci fez parte da alta cúpula do partido, como braço direito do líder; como este, ajudou a conduzir o partido na conquista e manutenção do poder do Estado; como este, subestimou o envaidecimento e o embevecimento do líder com ele mesmo e o poder; como este, foi querido e incensado pelo líder e o partido até quando ficou calado a respeito da monstruosidade autoritária, criminosa e corrupta na qual a entidade se tornou; como este, seria descartado e humilhado publicamente como vingança do líder e da máquina partidária.
Porém, como bom trotskista que leu Leon (Liev) Davidovich Bronstein, não apenas a orelha dos livros, o ministro atirou primeiro! E revelou aquilo no qual a esquerda marxista e os partidos sob sua inspiração (os que não conseguiram se livrar de sua nefasta e parasitária influência!) se tornaram: uma seita! As palavras não são minhas, são de Palocci: “Até quando nós vamos acreditar na alma mais pura do Brasil?! Será que nós somos um partido formado por gente de carne e osso ou uma seita comanda por uma entidade semidivina?!”
Nikolai Rubachov foi executado, tal qual Leon Trótsky, em 1940, no México, onde se exilou, fugindo da perseguição de Stalin, mas sem êxito! Palocci seria executado moralmente, percebendo o que aconteceria roubou esse deleite dos algozes! Entre os antigos partidários e militantes, sua memória começou a ser apagada e seu nome execrado. Ironicamente, cabe a um liberal, tentar restituir-lhe a dignidade e avaliar seu valor.

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