17 de mai. de 2017

Sobre a falta do que fazer em Parnaíba.


Em discurso de minha posse na Academia Parnaibana de Letras no dia 12 deste mês tratei de um assunto espinhoso pra muitos e pra muita gente, a falta de mercado de trabalho pra os profissionais da imprensa. Antes da cerimônia, quando dois repórteres de televisão me entrevistaram perguntando sobre a sensação, a alegria de estar prestes a me tornar imortal, disse que era antes tudo um momento especial e ao mesmo tempo porque era a chegada a uma entidade de cultura de um jornalista de carreira.
Realmente as coisas estão preocupantes, quer dizer o mercado de trabalho pra os profissionais de imprensa, não está sendo fácil em Parnaíba. Faz tempo que dezenas deles estão sem dar um prego numa barra de sabão. Faz tempo que muitos deles não tem como levar cinco reais de pão pra casa no final da tarde. Faz tempo que esta categoria amarga as piores privações. Faz tempo que muitos e muitos de nós deixaram de correr atrás desse negócio porque não tem pra onde correr.
Nesse início de semana encontrei saindo da matriz de Nossa Senhora da Graça o meu amigo de muitos anos Mário Meireles. Me dou com ele desde que cheguei em Parnaíba no início da década de 1990. Como faz todo santo dia ele vai à igreja rezar, pedir a Deus pela sua saúde e a de todos de sua família. Eu também faço a mesma coisa. Depois das orações a quem tivemos direito entabulamos uma conversa rápida, pois cada um tinha muito o que fazer. Falamos do calor que está acabando com a gente e fazendo nascer muita muriçoca, da falta de dinheiro na mão de todo mundo e da situação da Parnaíba.
Mário Meireles está neste ramo cruel e difícil de fazer jornal e dito sem futuro há sessenta anos. Já passou por poucas e boas. Não interessa  questionar seu lado e preferência política. Viu entrar e viu sair de seu escritório na Gervásio Sampaio muita gente cheia de sonhos que chegou em Parnaíba pensando que era uma coisa e a coisa era outra. Outros foram tantos que desistiram. Seguiram outro rumo e hoje estão bem de vida. Fizeram concurso público pra Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobrás, Universidade Federal e empregos mais seguros e que dão sustento.
É triste ver profissionais tarimbados da imprensa andando de cara pra cima pela praça da Graça e redondezas tentando encontrar numa conversa um amigo que lhe pague a passagem de volta pra casa. É triste encontrar profissionais de imprensa, tanto de jornais quanto de rádio, tentando um bico no gabinete de algum vereador. Correndo atrás de algum aceno quando alguém mostra interesse de abrir uma emissora de rádio ou até mesmo nos dias atuais, um portal ou blog. Nossa economia de tão fraca não permite que empresas, tanto as poucas indústrias quanto comércio e serviços paguem anúncios na televisão que por isso não tem condições de contratar profissionais experientes.
E fica essa falta do que fazer, esse vazio no meio da gente. Cria uma desconfiança entre a categoria até quando um companheiro de mais sorte arranja um serviço aqui ou acolá. Vem logo a desconfiança de que se vendeu pra esse ou aquele grupo político. Tudo isso é resultado de um período ruim de nossa cidade com sua economia funcionando mal e rendendo na mão de pouquíssimos. Muitos sem nenhuma visão empresarial. Se a Parnaíba tivesse uma economia forte, igual teve no passado, como alardeiam alguns, a coisa seria outra. Porque uma economia forte, com a iniciativa privada dando todo o gás, não há como se depender do favor político.

Uma economia forte, com mercado pra produção industrial, a presença e a sombra de prefeitura ou de governo estadual ou federal é até mesmo ignorada. Lamentável que minha geração, essa que está na casa dos sessenta anos de idade está passando. E passando baixo, como diria meu pai. Mas vamos ter esperanças, pelo menos pra quem está chegando. Paciência de gente velha é bicho que custa acabar, feito perfume da Avon. Eu pelo menos ainda tenho um pouquinho guardado pra usar em dia de festa. 

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor 

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