Em
discurso de minha posse na Academia Parnaibana de Letras no dia 12 deste mês tratei
de um assunto espinhoso pra muitos e pra muita gente, a falta de mercado de
trabalho pra os profissionais da imprensa. Antes da cerimônia, quando dois
repórteres de televisão me entrevistaram perguntando sobre a sensação, a
alegria de estar prestes a me tornar imortal, disse que era antes tudo um
momento especial e ao mesmo tempo porque era a chegada a uma entidade de
cultura de um jornalista de carreira.
Realmente
as coisas estão preocupantes, quer dizer o mercado de trabalho pra os profissionais
de imprensa, não está sendo fácil em Parnaíba. Faz tempo que dezenas deles
estão sem dar um prego numa barra de sabão. Faz tempo que muitos deles não tem
como levar cinco reais de pão pra casa no final da tarde. Faz tempo que esta
categoria amarga as piores privações. Faz tempo que muitos e muitos de nós
deixaram de correr atrás desse negócio porque não tem pra onde correr.
Nesse
início de semana encontrei saindo da matriz de Nossa Senhora da Graça o meu
amigo de muitos anos Mário Meireles. Me dou com ele desde que cheguei em
Parnaíba no início da década de 1990. Como faz todo santo dia ele vai à igreja
rezar, pedir a Deus pela sua saúde e a de todos de sua família. Eu também faço
a mesma coisa. Depois das orações a quem tivemos direito entabulamos uma
conversa rápida, pois cada um tinha muito o que fazer. Falamos do calor que
está acabando com a gente e fazendo nascer muita muriçoca, da falta de dinheiro
na mão de todo mundo e da situação da Parnaíba.
Mário
Meireles está neste ramo cruel e difícil de fazer jornal e dito sem futuro há
sessenta anos. Já passou por poucas e boas. Não interessa questionar seu lado e preferência política. Viu
entrar e viu sair de seu escritório na Gervásio Sampaio muita gente cheia de
sonhos que chegou em Parnaíba pensando que era uma coisa e a coisa era outra.
Outros foram tantos que desistiram. Seguiram outro rumo e hoje estão bem de
vida. Fizeram concurso público pra Banco do Brasil, Caixa Econômica, Petrobrás,
Universidade Federal e empregos mais seguros e que dão sustento.
É
triste ver profissionais tarimbados da imprensa andando de cara pra cima pela
praça da Graça e redondezas tentando encontrar numa conversa um amigo que lhe
pague a passagem de volta pra casa. É triste encontrar profissionais de
imprensa, tanto de jornais quanto de rádio, tentando um bico no gabinete de
algum vereador. Correndo atrás de algum aceno quando alguém mostra interesse de
abrir uma emissora de rádio ou até mesmo nos dias atuais, um portal ou blog.
Nossa economia de tão fraca não permite que empresas, tanto as poucas
indústrias quanto comércio e serviços paguem anúncios na televisão que por isso
não tem condições de contratar profissionais experientes.
E
fica essa falta do que fazer, esse vazio no meio da gente. Cria uma
desconfiança entre a categoria até quando um companheiro de mais sorte arranja
um serviço aqui ou acolá. Vem logo a desconfiança de que se vendeu pra esse ou
aquele grupo político. Tudo isso é resultado de um período ruim de nossa cidade
com sua economia funcionando mal e rendendo na mão de pouquíssimos. Muitos sem
nenhuma visão empresarial. Se a Parnaíba tivesse uma economia forte, igual teve
no passado, como alardeiam alguns, a coisa seria outra. Porque uma economia
forte, com a iniciativa privada dando todo o gás, não há como se depender do
favor político.
Uma
economia forte, com mercado pra produção industrial, a presença e a sombra de
prefeitura ou de governo estadual ou federal é até mesmo ignorada. Lamentável
que minha geração, essa que está na casa dos sessenta anos de idade está
passando. E passando baixo, como diria meu pai. Mas vamos ter esperanças, pelo
menos pra quem está chegando. Paciência de gente velha é bicho que custa
acabar, feito perfume da Avon. Eu pelo menos ainda tenho um pouquinho guardado
pra usar em dia de festa.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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