Ao falar para o público teresinense na noite deste sábado (27), o professor e filósofo Leandro Karnal, citou a Batalha do Jenipapo como força para fazer algo, reforçou a necessidade da ética, do sofrimento e criticou os excessos na internet.
Professor doutor da Universidade Estadual de Campinas (Unicam), Karnal tratou sobre conhecimento, trabalho e tempo no mundo contemporâneo. Ele deu palestra durante a 23ª Convenção Lojista realizada neste sábado (27). Segundo ele, os “covardes e os racistas se sentem seguros na internet”.
Em tempos de delações premiadas, Leandro Karnal mandou um recado: “As pessoas éticas têm amigos e os canalhas têm cúmplices e os cúmplices fazem delações premiadas. O prêmio que a vida oferece a uma pessoa com ética é ela ter amigos, o castigo do canalha é que ele só encontra gente como ele que um dia vai gravá-lo e vai guardar para usar na ocasião adequada”.
Karnal alertou sobre o uso do celular e a obsessão para mostrar na vida virtual o que não existe.
-Não tornem post em rede social foco de vida. Não fique fotografando tudo, mostrando tudo para todo mundo. Parem de postar a felicidade falsa. Parem de falar da vida perfeita que ninguém tem. Ninguém jamais postou a frase: brochei kakakaka”, disse e a plateia sorriu e aplaudiu o professor.
Ele citou o sociólogo italiano Domenico De Massi autor de “Ócio Criativo” e Paul Lafargue que escreveu “Direito à Preguiça” e destacou a importância de desintoxicar do trabalho.
“Todos os estudos laborais apontam que o emprego será muito melhor e o negócio prosperará, se o funcionário tiver boas pausas. Pausas que não é para ficar em frente ao mar e dizer: estou no mar kakakka. É deixar o mar entrar em você, enamorar-se. Isso é ócio criativo, afetivo. Esvaziamento da memória ram do cérebro”.
O filosofo ressaltou a necessidade do choro, da dor, do luto. Ele contou também que 75% das mortes no Everest, a montanha mais alta do planeta, ocorrem na descida. Ele mostra que as pessoas montam estratégia de subiu ao topo e esquecem à volta. Segundo ele, a vida também é assim.
Ele garantiu também que “todo problema humano, tem solução humana” e citou exemplo da aridez de parte da Califórnia e Espanha e que é mais seca que o sertão.
“Não existe o elemento Gabriela: eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou sempre assim”.
Citou Batalha do Jenipapo
Ao abordar sobre o “Construir-se”, o filósofo destacou a luta sangrenta da Batalha do Jenipapo.
“É preciso acreditar na capacidade de fazer algo. Acreditar como nossos ilustres ancestrais desse Estado que um dia, no interior do Piauí, olhando para a vastidão do império português poderoso fizeram na Batalha do Jenipapo e acreditaram no Brasil independente com menos recursos que nós, com menos esperança que nós”.
O Cidadeverde.com fez uma rápida entrevista com Karnal após a palestra. Veja aqui:
Porque o celular virou uma ferramenta da busca da felicidade?
Provavelmente porque elas interpretam que a exposição da felicidade é a felicidade em si. O nosso mundo hoje trouxe na exposição um elemento muito importante: as pessoas imaginam que de tanto postarem fotos felizes os outros vão interpretar que elas são felizes e hoje é uma moeda de troca. Uma pessoa infeliz não é nem admitida por um RH (recursos humanos). Você tem que ser feliz, profundamente feliz, você trabalha porque é feliz, porque sua família lhe faz feliz. Hoje não há espaço para o que a gente chama em filosofia da dimensão trágica da existência, ou seja, toda a vida humana comporta uma parte de dor e de infelicidade. O jogo da felicidade implica, traduz e agrega também a ideia de dor passageira.
O senhor ressaltou bastante em sua palestra a importância de combater o racismo. As pessoas se mostram racistas na rede social por que já são na vida real?
A rede social possibilita o que a gente poderia usar de capilarização ou atomização de tudo que o ser humano é, inclusive do preconceito. Como não tenho mais o risco e o ônus de colocar a minha cara a tapa através de um perfil falso ou mesmo não tendo a presença com a pessoa eu mesmo trazer à tona tudo que eu sou. O racismo sempre existiu no Brasil. Ele é criminalizado pela Constituição de 1988, foi tornado contravenção ainda na década de 50 pela lei Afonso Arinos, porém hoje as pessoas não têm mais o ônus da presença, então elas criam a coragem, os covardes e os racistas se sentem seguros na internet. Isso não aumentou, mas deu maior divulgação ao racismo.
Porque vivemos tempos tão luciferinos? (expressão que usa no seu livro Pecar e perdoar)
As pessoas imaginam que elas podem fazer tudo. Lúcifer como eu já ironizei uma vez numa entrevista foi o primeiro empreendedor de todos os tempos porque decidiu fazer uma empresa dele mesmo, fora de empresa divina, abriu seu próprio negócio, seduziu um terço dos funcionários da antiga empresa, então é uma brincadeira pra dizer que hoje nós achamos que todos poder fazer tudo. É importante dizer: todos tem potencial pra fazer tudo, nem todos devem fazer tudo e nem tudo deve ser feito.
Veja as principais frases ditas na palestra:- A vida ética é tranquila, não teme investigação
- As pessoas éticas têm amigos e os canalhas têm cúmplices e os cumplices fazem delações premiadas.
- Não é ético quem nunca erra
- escolhem as lutas e lutem muito por aquilo que vale a pena
- Não tornem post em rede social foco de vida
- Quem vive fazendo coisas, não tem ideia, vira um despachante. É preciso ter ócio criativo. Fazer pausas
- É preciso desintoxicar-se
- Quem ri o tempo todo está desesperado
- Ética e trabalho são como banhos
- os covardes e os racistas se sentem seguros na internet
- errar é humano
- As escolhas são livres, as consequências não
- Você é protagonista de tudo, inclusive dos seus fracassos
Veja mais:
Flash Yala Sena
yalasena@cidadeverde.com
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