22 de abr. de 2017

A tragédia anunciada! (21/04/2017)


Prof. Dr. Geraldo Filho (UFPI)

Como a maioria, fiquei estarrecido com a divulgação dos vídeos contendo as delações dos executivos da Odebrecht! Sem dúvida, escandalosas, pois contam a promiscuidade entre o setor público e o privado no país, que caracteriza a formação do moderno capitalismo industrial brasileiro desde a fase inicial, com Vargas (a partir de 1930).

Não que isso fosse desconhecido para mim, meus alunos dos cursos de administração e contábeis sabem que uma das razões desse pecado é a mentalidade empresarial que nasceu com este tipo de capitalismo, imposto de cima para baixo, feito pelo Estado e não pelos empreendedores individuais, que começam com seus negócios na base da sociedade. Criou-se assim cultura organizacional dependente dos governos, avessa ao risco real de empreender no mercado de livre concorrência, por isso sempre disposta a contar com a ajuda protetora  dos governantes do momento (licitações fraudadas, políticas anticompetição externa, empréstimos subsidiados).

No entanto, gostaria de me ater a um período em particular que foi citado por Emílio Odebrecht. Segundo ele: o esquema de corrupção perpetrado pelas construtoras e os partidos políticos remontam há 30 anos, mas que depois de 2003 (governos do PT) se aprofundou significativamente!

Um breve exercício de subtração básica esclarece muita coisa! Como os depoimentos de delação devem ter ocorrido no final de 2016, ao recuar 30 anos se voltará para 1986, isto é, para o segundo ano do governo Sarney, ou segundo ano da Nova República, que começou com o final do Período Militar.

Usando um cálculo conservador para gerações (20 anos), 30 anos são uma geração e meia. Portanto, mais de uma geração que teve o cérebro bombardeado (e continua tendo!) por propaganda dos oportunistas de esquerda e de uma falsa direita (pois boa parte dos que se classificam como direita não sabem o que significa direita, ou são ingênuos, por isso manipulados pelos esquerdistas!), cujo objetivo sempre foi a tomada do poder do Estado, para consolidar visão de mundo autoritária e retrógrada, cujas raízes residem no socialismo soviético-chinês-cubano dos anos 60.

O discurso preferido dos esquerdistas e da falsa direita ignorante (o que coloca ambos no barco comum da corrupção!) é propagar que lutaram contra a “ditadura”, que a Nova República enterrou o chamado “entulho autoritário” dos governos militares, que a Constituição de 88 é a “Constituição Cidadã”, que falam em nome do direito do povo e da cidadania, etc. Ou seja, motivados pelo revanchismo com os militares, que impediram que esse projeto de poder (que reúne interesses aparentemente conflitantes) tomasse o Estado em 1964, soterraram tudo de positivo realizado entre 64/85, figurando como uma das vítimas o trato com o bem público!

Não sou “Alice no País das Maravilhas” para imaginar que não houve corrupção no Período Militar. Claro que houve, porém a corrupção aceitável do ponto de vista da fraqueza humana, ou seja, dentro dos limites que qualquer estado-nação do porte do Brasil convive e pune. Porém não se tem notícias de oficiais-generais das três forças, ou oficiais de estado-maior, que tenham enriquecido vertiginosamente após terem exercido cargos em qualquer esfera do Estado. De Castelo a Figueiredo, todos possuíram patrimônio condizente com os postos de oficiais-generais das forças armadas. Lembro do General Ernesto Geisel, lendário pela austeridade estoica de evangélico luterano. Lembro de João Figueiredo, depois da saída da presidência, colocando o sítio à venda, para custear o tratamento de câncer da esposa.

Os esquerdistas sofismam e dizem que não se tem notícia de corrupção porque era uma ditadura. Mentira! É um sofisma para justificar a corrupção sistêmica desvelada agora. É uma velha tática para dizer que todos são iguais no mesmo crime. Não são! Portanto, mentira mais uma vez! Se os governos militares tivessem sido corrompidos como se vê por último os números teriam vindo à tona, pois os executivos da época, os balanços das empresas, etc. haveriam de ser esmiuçados pelos pesquisadores. Os dados estão nos arquivos das estatais e dos bancos de desenvolvimento: BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Os governos militares fracassaram por outras razões, não pela corrupção! Fracassaram pelo ideário nacionalista e desenvolvimentista, que baseava o crescimento econômico no mercado local (proteção contra empresas estrangeiras para favorecer as nacionais); na manutenção e criação de empresas estatais; e no pesado endividamento público externo e interno, para financiar o processo de expansão (pois o país não tinha reservas em poupança para se autofinanciar). Tinha que dar errado, pois militar administra a guerra, não é preparado para administrar mercados em mutação constante! Porém ressalte-se: o país não sangrou com a corrupção.

A sangria começou no período assinalado por Emílio Odebrecht, portanto quando da retomada dos governos civis, com a presidência de José Sarney. O modelo de negócio montado pelas empresas, dentre as quais as grandes empreiteiras como a Odebrecht, que contrataram obras com o Estado do Brasil nos três níveis (união, estados e municípios) tinha como objetivo: 1º burlar as licitações (escolhendo um vencedor prévio); 2º distorcer os preços de mercado, ao elevar artificialmente os custos, aumentando o valor final pago pela obra (em geral, executada com baixa qualidade de materiais e engenharia); 3º pagar os partidos (propina pessoal e “caixa 2” de campanha eleitoral) com percentual que incidia sobre o superfaturamento realizado (recorde-se, sobre o dinheiro público), pelo papel de “legitimar” o crime, que iniciava com a confecção dos editais “direcionados” de chamada para concorrência. 

A delação de Emílio Odebrecht ainda trouxe para mim (e acredito para os professores das universidades brasileiras que trabalham com administração e contábeis) outro constrangimento. De maneira absolutamente natural, afirmou candidamente: Todos os executivos da empresa fizeram treinamento e estágio no exterior, na Europa ou nos Estados Unidos, para aprenderem como um mercado capitalista realmente funciona, sem distorção no valor dos custos e sem “contabilidade negra” (rubrica de investimentos destinada à corrupção). Ora, foi o reconhecimento explícito de que o mercado brasileiro é uma farsa, uma ficção; e o completo desprezo pelo que os professores ensinam e os alunos aprendem nas universidades.

É muito difícil para professores sérios aplicarem dupla ética na sala de aula. Mostrarem a teoria, trabalharem os casos (“cases”) envolvendo organizações publicas ou privadas e depois dizerem: pessoal, isso só vale em tese para o Brasil, aqui, vocês, para sobreviverem como empresários ou executivos, têm de corromper ou se deixarem corromper; isso só vale lá para fora! É um dilema que me persegue, afinal para quem devo preparar os alunos, para o ideal que aqui não existe ou para a fria realidade corrompida do país?!

Quando se estuda genética das populações descobre-se que algumas características, dentre elas as comportamentais, por um mecanismo chamado “deriva genética” podem predominar totalmente ou desaparecer totalmente de um grupo populacional. Levando isto em consideração, a corrupção sistêmica que assola o Brasil há 30 anos é situação capaz de ser enquadrada por análise de “derivação genética”. Se tomarmos o caso da Odebrecht para o Brasil e de Sérgio Cabral para o Rio de Janeiro, pode-se aplicar a razão: “ a Odebrecht está para o Brasil assim como Cabral está para o Rio”. Nos dois casos, as instituições estatais foram contaminadas pela corrupção até a medula; o estágio seguinte seria a corrupção das instituições sociais, papel que o PT vinha desempenhando com denodo desde 2003 (como sinalizou Emílio Odebrecht), ao se infiltrar em todas as instancias da sociedade civil, principalmente na educação e no judiciário, até que a corrupção passasse a ser um estilo de vida “normal”, predominante na vida brasileira, e que ser honesto e correto fosse comportamento objeto de vergonha e escárnio, tendendo a desaparecer.   

Eles foram muito longe nisso, quase conseguiram! Durante os 13, 5 anos do PT a violência no país aumentou (60 mil homicídios/ano é número de pais em guerra), mas a propaganda petista louvava os direitos dos bandidos; a educação retrocedeu na qualidade, mas a propaganda petista falava de “pátria educadora”; a inflação voltou (sendo domada agora com Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn) e o desemprego bateu o recorde obsceno de 13 milhões, mas a propaganda petista falava do enriquecimento dos pobres; a corrupção alastrou-se por quase toda a sociedade, mas a propaganda petista falava do “partido da ética”. Ou seja, as bases de uma sociedade razoavelmente saudável foram sabotadas, não obstante a propaganda esquerdista continue a vender a ilusão de que o país havia sido refundado pelo “pai da pátria” Lula!

O sociólogo-cientista político argentino Eduardo Viola, que leciona no Brasil, em entrevista recente expressou o temor que aqui ocorresse o que aconteceu na Argentina, que de como um país rico e culto degradou-se em um país pobre e atrasado, pelo sequestro que o populismo de Juan Perón fez das mentes dos compatriotas, desde os anos 50 (com a velha demagogia de “pai dos pobres”, etc.). Segundo Viola: o peronismo, como forma de fazer política e pensar a sociedade, “entrou” na cabeça (mente) dos argentinos e lá permanece, arrasando a lucidez das mentes modernas, razão pela qual o presidente Macri sofre com tanta dificuldade para reerguer o país (não vou nem falar da degradação sofrida pela Venezuela, parasitada que foi pelas ideias bplivarianas). O Brasil chegou perto disso com o “lulopetismo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente essa postagem

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...