Prof. Dr. Geraldo Filho
Poucos dias antes do 1º
Turno Eleitoral de 2016, em 28/9, participava como examinador de banca de tese
de doutorado na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Por coincidência,
a tese defendida por Sandoval Antunes abordava tema mais do que apropriado para
o momento em curso, tratava-se do fenômeno político do “siqueirismo” no
Tocantins, protagonizado por Siqueira Campos, cuja intensa ação parlamentar
levou à criação do estado em 1988.
No trabalho, o autor
argumentava que a personalidade carismática de Siqueira Campos é determinante
para explicar sua trajetória de sucesso, como liderança no velho norte de
Goiás, hoje Tocantins (vereador, deputado estadual, federal e governador),
capaz de influenciar a configuração política da região até hoje, elegendo
parentes e aliados, o que justificava o adjetivo “siqueirismo”.
Além disso, Sandoval
procurou fazer comparações com outros fenômenos de longevidade e dominância
política que apareceram em outros estados, como o “carlismo”, na Bahía, de
Antônio Carlos Magalhães; e o “sarneysismo”, no Maranhão, de José Sarney.
Nos debates, que foram
suscitados quando da arguição do doutorando, surgiu um consenso no âmbito da
banca, de que apesar das características carismáticas de um líder pavimentarem
muitas vezes seu sucesso ele também dependerá das oportunidades que o contexto
social, político e econômico da região lhe oferecerem.
Ademais, há duas
características comuns aos líderes carismáticos, a dificuldade de transferir
suas qualidades particulares (idiossincrasias, que por isso mesmo os tornam
carismáticos) aos sucessores, de sangue ou correligionários; e a dificuldade de
deixar nascer nos grupos que lideram “novas lideranças”, por temor ao risco de
ofuscamento de suas personalidades fortes.
Foi quando me lembrei de
minha cidade, Parnaíba-PI, e do que acontecia nos últimos dias que precediam a
votação (02/10). Dei o exemplo do Senador Francisco de Moraes Souza (Mão Santa)
como de uma liderança carismática regional que se enquadra com perfeição nas
análises desenvolvidas. O Senador Mão Santa foi subestimado pelas forças
políticas que governavam a cidade há 12 anos, apontavam as derrotas sucessivas
e dos parentes como sinal do fim de sua capacidade eleitoral. Porém,
esqueceram-se de combinar com o contexto histórico que o Brasil viveu nos 13,5
últimos anos!
O Senador Mão Santa foi
um dos poucos líderes regionais que cedo perceberam o projeto político de
dominação do Estado brasileiro arquitetado pelo PT, contra ele lutou bravamente
no Senado! Foi um dos líderes nacionais que ajudaram a por fim à CPMF,
conhecida como “imposto sobre o cheque” (na verdade incidia sobre qualquer
movimentação financeira). Lula empenhou-se pessoalmente para derrotá-lo quando
concorreu pela segunda vez ao senado, tal qual fez com Tasso Jereissati, no
Ceará, proeminente líder tucano. Conseguiu, venceu os dois (como fez com tantos
líderes estaduais que se opuseram ao seu projeto pessoal e partidário de poder),
porém foi uma das vitórias que agora lhe cobra o preço com o perigo iminente da
cadeia!
Uma frase cunhada pelo
Senador lhe deu projeção nacional, na banca de tese referida todos conheciam:
“Só três coisa se faz uma única vez na vida: nascer, morrer e votar no PT!”.
A corrosão nacional do PT
vem de longe. Começou com o “mensalão”; depois a queda de Antônio Palocci como
Ministro da Fazenda (que para ser justo, administrou a economia corretamente, como
um liberal!) substituído pelo incompetente e atrasado ideologicamente Guido
Mantega; o “petrolão”; a crise gerencial da economia perpetrada por Dilma, que
gerou 12 milhões de desempregados e o desmascaramento final de Lula. Todos esses
episódios construíram contexto histórico corrosivo para o PT e seu projeto de
dominação. Os números de perda de prefeituras e o fraquíssimo desempenho
eleitoral nas grandes capitais são eloquentes! No nosso estado, em Teresina,
sequer lançou candidato! E o que apoiou, um apresentador de televisão, amargou
um mísero 3º lugar.
Parnaíba não está fora do
Brasil! Esta lição, alguns parnaibanos que se dizem “entendedores” de política
precisam aprender, antes de dizerem bobagens do tipo: “os escândalos nacionais
dos governos Lula/Dilma e do PT não atingem a eleição local”! Desconsiderando
que a onda de rejeição a esses personagens e seu partido também não quebrasse
na cidade. Tal qual pelo menos outros 5 bilhões de habitantes do planeta, os
cidadãos daqui estão interligados ao mundo virtual por meio das redes sociais.
Assim, não considerar a integração do global com o local é de um amadorismo
ingênuo! Recordo de um comentário que ouvi nas rodas em torno da Banca do Louro
(na Praça de NSª da Graça, centro da cidade) que dizia que o atual prefeito
ganharia de todos os demais candidatos com um “pé nas costas”! De fato, é não
saber ler os sinais emitidos pela realidade...
Outra influência nacional
também impactou decisivamente nas eleições locais, por uma razão que se liga a
uma outra que logo apresentarei. Devido à proibição da doação das empresas para
os partidos, as campanhas por todo o Brasil foram pobres! Nada de “showmícios”
ou propagandas superproduzidas no horário eleitoral da TV. Assim, as campanhas
foram pedestres, com muita distribuição de “santinho” e muita caminhada, o que
implica contato direto com os eleitores, sobretudo aqueles que compõem os
segmentos pobres.
Ora, esse tipo de
campanha favorece líderes carismáticos, que têm presença de espírito e
desenvoltura suficiente para se comunicar com facilidade nas diversas situações
que o contato direto com a população produz. Eis a razão que foi turbinada pela
proibição da doação das empresas. O Senador Mão Santa é um mestre no contato
direto e franco com a população, além de ter uma resistência para caminhadas
invejável, do alto de seus mais de 70 anos, que deixa muitos que o tentam
acompanhar no chinelo!
Assim, claramente, o
contexto nacional imbricou-se com o local, o que possibilitou que o excesso de
carisma de um lado e a escassez do outro encontrasse a oportunidade ideal para
levar o Senador Mão Santa à vitória nas urnas.
A referência que indicou
com surpreendente precisão a mudança na tendência eleitoral que pairava no ar
foi o resultado da votação na urna da Banca do Louro, realizada no sábado
(24/09), cujo resultado foi conhecido no domingo. Naquele final de semana e nos
dias anteriores os comentários eram de que o favoritismo do prefeito atual
estava sendo pulverizado pelo Senador Mão Santa. E estavam certos!
Como sociólogo, e
dominando conhecimentos de ciência política, comparei os resultados da urna da
Banca do Louro com os resultados oficiais do TRE-PI. Em termos proporcionais, a
Banca do Louro antecipou com precisão estatística o resultado final das
eleições na cidade.
Banca do Louro
Total de votos: 267
Votos válidos (menos
brancos e nulos): 252
Mão Santa: 116 (46,03%)
Florentino: 114 (45,23%)
TRE
Total de votos: 85979
Votos válidos (menos
brancos e nulos): 78161
Mão Santa: 35585 (45,53%)
Florentino: 34462
(44,09%)
A diferença entre os
valores percentuais da Banca do Louro e do TRE são absolutamente irrisórias e
aceitáveis em termos estatísticos: 0,5% no caso de Mão Santa; e 1,14% no caso
de Florentino.
Portanto, nas próximas
eleições, os candidatos majoritários devem levar muito a sério suas
possibilidades eleitorais observando seu desempenho no sufrágio promovido com
uma semana de antecedência na Banca do Louro! Tomara que algum chato não vá
reclamar à Justiça Eleitoral, caso sua performance seja desfavorável, com o
intuito de barrar a expressão livre de cidadãos em exercício pleno do direito
de sua liberdade.
Matéria para o Blog do Pessoa
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