15 de out. de 2016

Eleições em Parnaíba: a vitória do carisma! (15/10/2016)


Prof. Dr. Geraldo Filho

Poucos dias antes do 1º Turno Eleitoral de 2016, em 28/9, participava como examinador de banca de tese de doutorado na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Por coincidência, a tese defendida por Sandoval Antunes abordava tema mais do que apropriado para o momento em curso, tratava-se do fenômeno político do “siqueirismo” no Tocantins, protagonizado por Siqueira Campos, cuja intensa ação parlamentar levou à criação do estado em 1988.
No trabalho, o autor argumentava que a personalidade carismática de Siqueira Campos é determinante para explicar sua trajetória de sucesso, como liderança no velho norte de Goiás, hoje Tocantins (vereador, deputado estadual, federal e governador), capaz de influenciar a configuração política da região até hoje, elegendo parentes e aliados, o que justificava o adjetivo “siqueirismo”.
Além disso, Sandoval procurou fazer comparações com outros fenômenos de longevidade e dominância política que apareceram em outros estados, como o “carlismo”, na Bahía, de Antônio Carlos Magalhães; e o “sarneysismo”, no Maranhão, de José Sarney.
Nos debates, que foram suscitados quando da arguição do doutorando, surgiu um consenso no âmbito da banca, de que apesar das características carismáticas de um líder pavimentarem muitas vezes seu sucesso ele também dependerá das oportunidades que o contexto social, político e econômico da região lhe oferecerem.
Ademais, há duas características comuns aos líderes carismáticos, a dificuldade de transferir suas qualidades particulares (idiossincrasias, que por isso mesmo os tornam carismáticos) aos sucessores, de sangue ou correligionários; e a dificuldade de deixar nascer nos grupos que lideram “novas lideranças”, por temor ao risco de ofuscamento de suas personalidades fortes.
Foi quando me lembrei de minha cidade, Parnaíba-PI, e do que acontecia nos últimos dias que precediam a votação (02/10). Dei o exemplo do Senador Francisco de Moraes Souza (Mão Santa) como de uma liderança carismática regional que se enquadra com perfeição nas análises desenvolvidas. O Senador Mão Santa foi subestimado pelas forças políticas que governavam a cidade há 12 anos, apontavam as derrotas sucessivas e dos parentes como sinal do fim de sua capacidade eleitoral. Porém, esqueceram-se de combinar com o contexto histórico que o Brasil viveu nos 13,5 últimos anos!
O Senador Mão Santa foi um dos poucos líderes regionais que cedo perceberam o projeto político de dominação do Estado brasileiro arquitetado pelo PT, contra ele lutou bravamente no Senado! Foi um dos líderes nacionais que ajudaram a por fim à CPMF, conhecida como “imposto sobre o cheque” (na verdade incidia sobre qualquer movimentação financeira). Lula empenhou-se pessoalmente para derrotá-lo quando concorreu pela segunda vez ao senado, tal qual fez com Tasso Jereissati, no Ceará, proeminente líder tucano. Conseguiu, venceu os dois (como fez com tantos líderes estaduais que se opuseram ao seu projeto pessoal e partidário de poder), porém foi uma das vitórias que agora lhe cobra o preço com o perigo iminente da cadeia!
Uma frase cunhada pelo Senador lhe deu projeção nacional, na banca de tese referida todos conheciam: “Só três coisa se faz uma única vez na vida: nascer, morrer e votar no PT!”.
A corrosão nacional do PT vem de longe. Começou com o “mensalão”; depois a queda de Antônio Palocci como Ministro da Fazenda (que para ser justo, administrou a economia corretamente, como um liberal!) substituído pelo incompetente e atrasado ideologicamente Guido Mantega; o “petrolão”; a crise gerencial da economia perpetrada por Dilma, que gerou 12 milhões de desempregados e o desmascaramento final de Lula. Todos esses episódios construíram contexto histórico corrosivo para o PT e seu projeto de dominação. Os números de perda de prefeituras e o fraquíssimo desempenho eleitoral nas grandes capitais são eloquentes! No nosso estado, em Teresina, sequer lançou candidato! E o que apoiou, um apresentador de televisão, amargou um mísero 3º lugar.
Parnaíba não está fora do Brasil! Esta lição, alguns parnaibanos que se dizem “entendedores” de política precisam aprender, antes de dizerem bobagens do tipo: “os escândalos nacionais dos governos Lula/Dilma e do PT não atingem a eleição local”! Desconsiderando que a onda de rejeição a esses personagens e seu partido também não quebrasse na cidade. Tal qual pelo menos outros 5 bilhões de habitantes do planeta, os cidadãos daqui estão interligados ao mundo virtual por meio das redes sociais. Assim, não considerar a integração do global com o local é de um amadorismo ingênuo! Recordo de um comentário que ouvi nas rodas em torno da Banca do Louro (na Praça de NSª da Graça, centro da cidade) que dizia que o atual prefeito ganharia de todos os demais candidatos com um “pé nas costas”! De fato, é não saber ler os sinais emitidos pela realidade...
Outra influência nacional também impactou decisivamente nas eleições locais, por uma razão que se liga a uma outra que logo apresentarei. Devido à proibição da doação das empresas para os partidos, as campanhas por todo o Brasil foram pobres! Nada de “showmícios” ou propagandas superproduzidas no horário eleitoral da TV. Assim, as campanhas foram pedestres, com muita distribuição de “santinho” e muita caminhada, o que implica contato direto com os eleitores, sobretudo aqueles que compõem os segmentos pobres.
Ora, esse tipo de campanha favorece líderes carismáticos, que têm presença de espírito e desenvoltura suficiente para se comunicar com facilidade nas diversas situações que o contato direto com a população produz. Eis a razão que foi turbinada pela proibição da doação das empresas. O Senador Mão Santa é um mestre no contato direto e franco com a população, além de ter uma resistência para caminhadas invejável, do alto de seus mais de 70 anos, que deixa muitos que o tentam acompanhar no chinelo!
Assim, claramente, o contexto nacional imbricou-se com o local, o que possibilitou que o excesso de carisma de um lado e a escassez do outro encontrasse a oportunidade ideal para levar o Senador Mão Santa à vitória nas urnas.
A referência que indicou com surpreendente precisão a mudança na tendência eleitoral que pairava no ar foi o resultado da votação na urna da Banca do Louro, realizada no sábado (24/09), cujo resultado foi conhecido no domingo. Naquele final de semana e nos dias anteriores os comentários eram de que o favoritismo do prefeito atual estava sendo pulverizado pelo Senador Mão Santa. E estavam certos!
Como sociólogo, e dominando conhecimentos de ciência política, comparei os resultados da urna da Banca do Louro com os resultados oficiais do TRE-PI. Em termos proporcionais, a Banca do Louro antecipou com precisão estatística o resultado final das eleições na cidade. 


Banca do Louro
Total de votos: 267
Votos válidos (menos brancos e nulos): 252
Mão Santa: 116 (46,03%)
Florentino: 114 (45,23%)
TRE
Total de votos: 85979
Votos válidos (menos brancos e nulos): 78161
Mão Santa: 35585 (45,53%)
Florentino: 34462 (44,09%)
A diferença entre os valores percentuais da Banca do Louro e do TRE são absolutamente irrisórias e aceitáveis em termos estatísticos: 0,5% no caso de Mão Santa; e 1,14% no caso de Florentino.



Portanto, nas próximas eleições, os candidatos majoritários devem levar muito a sério suas possibilidades eleitorais observando seu desempenho no sufrágio promovido com uma semana de antecedência na Banca do Louro! Tomara que algum chato não vá reclamar à Justiça Eleitoral, caso sua performance seja desfavorável, com o intuito de barrar a expressão livre de cidadãos em exercício pleno do direito de sua liberdade.


Matéria para o Blog do Pessoa

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