Faz coisa de uns dias, tão logo começaram estes Jogos Olímpicos Rio 2016, que o governo brasileiro teve que cumprir uma obrigação de aumentar os meios de controle e métodos de abordagem e revista de passageiros nos aeroportos por uma exigência de padrão internacional de segurança. Agora não vai ser fácil passar com qualquer objeto ou substância suspeita pelos equipamentos.
Eu ainda tenho uns irmãos que moram em São Paulo. Estão hoje na terceira geração. Estão todos bem, graças a Deus. Foram pra lá naquela época em que se achava que São Paulo era terra onde tinha muito serviço e corria dinheiro. Aqueles que tinham mais estudo iam trabalhar no Bradesco. Os mais grosseiros, de pouca caneta, na construção civil, carregando massa e tijolo. Foi realmente, não tenho dúvidas um tempo de muita esperança. Milhares de nordestinos foram pra lá e muitos se deram bem.
Outros se deram tão bem que depois de muitos e muitos anos se meteram nesse negócio de sindicato e depois na política e o resto todo mundo já sabe no que deu. Outros não.
Eu morei e trabalhei em São Paulo por vinte e poucos anos. E pra encurtar caminho, que o tempo é curto, sempre que podia vinha passar uns dias de férias com meus pais e meus irmãos que aqui ficaram nesse vale de lágrimas da Parnaíba. Eu, assim como tantos e tantos nordestinos e parnaibanos, viajava pela Itapemirim, empresa do Camilo Cola, de Cachoeiro do Itapemirim, terra de Roberto Carlos, no Espírito Santo. Uma viagem dos diabos, passando por cima de pau e de pedra, dormindo sentado e comendo frito de galinha. De lá até aqui.
Na volta pra São Paulo era hora de arranjar alguns agrados pra negrada que estava lá no trabalho. De coisa de comida iam na bagagem a farinha de puba, peixe seco ou sal preso, rapaduras, carne de sol, feijão quebra cadeira, goma de tapioca, castanha e doce de caju, azeite de coco, bolo manuê. Mamãe às vezes mandava a pedidos, algum remédio caseiro, tipo pílula contra, banha de galinha, casca de quina ou de imburana, folhas de eucalipto. Coisa desse tipo.
Eu agora passei a ficar preocupado com essas pessoas que vão daqui do Nordeste, da Parnaíba e vizinhança, viajando de avião pra São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Vai que de repente numa dessas revistas no aeroporto, o coitado do caboclo, desses que nunca viajou de avião, tem sua bagagem revistada e, justo na mala ele leva uma goma de tapioca e umas rapaduras pra dar de presente pros irmãos, parentes e aderentes?! Lá vai a confusão!
Até ele dizer mais de mil vezes praquele grandão de terno e gravata que o pacote de pó branco e aquele troço em forma de tijolo são, pela ordem, goma de tapioca e rapadura já tem levado é muito pescoção!
E quando me lembro de ter saído, quantas e quantas vezes de São Paulo com destino a Parnaíba na época do Natal, atravessando Minas, Bahia, Pernambuco e entrando no Piauí pelo fundo, naquela terra horrível de Picos. Trazia na bagagem, a maior novidade, o elepê do Roberto Carlos, lançado no final do ano, alguns presentes e essas quinquilharias que se comprava no Brás e que iriam causar admiração em todo mundo de casa e muita inveja na vizinhança. Viajando num ônibus cheio até a tampa. Gente de tudo quanto era procedência e que ia descendo pelo caminho.
Correndo o risco de ser roubado no meio do caminho. Eu vi coisa que até doutor se admira! Agora mais essa de tanto rigor nas revistas de aeroportos! Mas é sinal dos tempos. Pouco se tem notícia de gente da Parnaíba que viaja de ônibus pra São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Agora é todo mundo de avião. Até a Itapemirim acabou. Estamos mudando pra melhor, graças a Deus. Alguma coisa está acontecendo de bom nesse país. Ruim nessa história toda é essa suspeita com a goma e a pobre da rapadura!
Por Antônio de Pádua Marques
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