Eu bem que avisei que esse negócio de olimpíada no Brasil ainda haveria de dar em cabeça de gente. E deu. Deu pra coitada de uma onça que não tinha nada a ver com isso. Tirando as presepadas de meio de caminho, inclusive aqui em Parnaíba, essa viagem sem fim da tocha ainda vai dar em muito no que falar. E quem acompanha ou acompanhou a caravana até agora vai ter muita história pra contar quando a coisa acabar. Eu bem que avisei que esse negócio de levar aquela lamparina pra dentro do mato não iria acabar bem.
Ora, nem fechei a boca! Que é que tinham de levar a tocha pra perto de uma onça sabendo que onça não se dá bem com fogo? Que é que a bichinha estava fazendo naquele terror de sol e de calor, sem beber e sem comer, presa na coleira e segura por um soldado do Exército armado até os dentes? Não poderia dar noutra coisa se não numa tragédia daquelas! Aquela multidão, carros buzinando, os atletas, organizadores, pessoal da segurança e os batedores de palmas vindos no rumo da onça. Queriam o que, que ela achasse graça?
Ela, pelo que se conta e como diria o caboclo, deu de vançada no rumo do soldado justo na hora de voltar pra jaula depois de um dia inteiro no meio daquela aporrinhação. E onça, pelo que se conta, é bicho traiçoeiro quando está enfezado. Ela só queria uma coisinha, um pé de nada pra pular na garganta do soldado ou metido a valente. E pulo de onça é certeiro que nem tiro de fuzil. Pelo que se conta o soldado, na hora que viu que a onça ia comer ele, papocou um tiro de pistola na cabeça dela e deu por encerrada a festa de todo mundo.
Aí foi aquela comoção internacional. E dessa história toda a gente tira uma lição. Nunca queira fazer de bicho gente e nem gente de bicho. Onça é onça, veado sempre vai ser veado, macaco é macaco, jumento é jumento. Burro é filho de jumento com égua. A mãe do burro é uma égua e o burro é filho de uma égua e pronto. Esse negócio de andar dando beijo em boca de cachorro, vestindo gato com roupa de gente é coisa de quem não tem o que fazer ou perdeu a carrapeta da cabeça.
Mas desse infeliz ocorrido andaram já até dizendo que a crise no Brasil está tão brava que o Exército Brasileiro lá na selva amazônica anda matando até onça pra comer. Eu sinceramente não acredito numa besteira dessas. Aqui na chamada civilização a coisa anda é pior. É uns comendo os outros. Uns avançando na garganta dos outros, como diria Mongol, um amigo meu, em teme de causar desgraça entre as famílias! Mas é na política onde a coisa anda de causar estremecimento. Coisa de sujar o fundo da calça.
E agora saindo do distante e esquecido Amazonas e mudando aqui pra Parnaíba, trocando a rapidez e audácia da onça pintada pela lerdeza do jabuti e da preguiça, me lembro daquela música Triste Partida, letra antológica de Patativa de Assaré na voz de Luiz Gonzaga. Diz assim: “setembro passou, outubro e novembro. Já estamos em
dezembro, meu Deus o que é de nós?...”. Junho passou, julho começou e agosto está na alça de mira. Ninguém ouve ou se atreve a dizer quem será candidato da oposição nas eleições pra prefeito de Parnaíba. Pelo visto as oposições aqui estão feito jabuti passando em frente de onça. E briga de jabuti com onça é coisa difícil de engolir. Na Câmara Municipal o que mais aconteceu foi vereador trocando de partido.
Quando eu vejo esse negócio de político trocando de partido em meio de mandato ou próximo de eleição me ocorre imaginar que é o mesmo de quem troca de carro. Do melhor pro pior. Começa com uma Hillux e acaba num Fiat Uno. E eu sempre tive na ideia de que quando o político troca de partido como quem troca de carro é porque está perdendo votos.
Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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