29 de jul. de 2016

GILBERTO ESCÓRCIO DUARTE- AMADO MESTRE

Por:Benedito Gomes(*)

Como já declarei aqui neste blog, desembarquei em Parnaíba em 1966, por coincidência ano em que o Professor Gilberto assumia a Diretoria da União Caixeiral. 
Em Brejo-MA, eu tinha feito o ginásio e aqui ia cursar o cientifico, o mais alto grau de ensino em Parnaíba na época. Bati de porta em porta e arrumei um emprego na firma Ranulpho Torres Raposo, outro grande homem que Parnaíba teve. O assunto no escritório era contabilidade. Tirar nota fiscal, registrar entrada de mercadorias, baixa no estoque etc... gostei tanto do trabalho que deixei o velho Miranda Osório e fui para Caixeiral, estudar contabilidade. 
Em 01 de março de 1968 lá estava eu para subir pela primeira vez a escada da Caixeiral. 50 anos depois que os primeiros alunos tinham realizado este desejo, localizei minha sala, cumprimentei os colegas, boa noite aqui, boa noite ali e fomos nos enturmando. Mais tarde já estávamos liberados, afinal, o primeiro dia de aula sempre é para conferir a chamada, conhecer os professores, certo que fui embora e não conheci o Diretor. 
Noite seguinte, ai sim, mal nos sentamos o Diretor entrou na sala. Não falou nada, apenas olhou de ponta a ponta, viu que tinha um banco mais ou menos dez centímetros fora do alinhamento, foi lá lentamente, colocou no lugar, foi embora e pronto. Meses foram passando e aquele Diretor que parecia um homem grosso, bruto e zangado, nada disso, era apenas um homem serio, correto, exigente para que tudo desse certo e muito amigo dos alunos e professores. A distância entre a casa de Gilberto e a Caixeiral, é mais ou menos uns duzentos metros. Este percurso o mestre Gilberto percorreu aproximadamente durante 50 anos, ou seja, duzentos mil e duzentos e cinquenta dias, seis caminhadas por dia, imagine o total de passos. 
Nas férias Gilberto não descansava, era o período de pintar a Caixeiral. A gente passava na rua, estavam os pintores com lixas, escadas, baldes de tinta e o Mestre olhando e balançando a cabeça em sinal negativo. Mas no final dizia “é, tá bom”.
Estudei na Caixeiral de 1968 a 1970. Eu e milhares de outros alunos pagávamos nossa mensalidade até o dia cinco de cada mês. Depois as coisas foram ficando diferentes: os alunos não honravam seus compromissos, a Caixeiral não tinha dinheiro para pagar a folha e terminou por fechar as portas.
Mesmo com toda a tristeza o Professor continuou indo ao Estádio, indo à Praça da Graça, conversar com os amigos. Era cumprimentado por todos aqueles que por ali passavam. A gente via no seu rosto, no seu discreto sorriso e na sua voz já bastante lenta, que o tempo estava passando, a idade aumentando e a saúde diminuindo.

                              Professor Gilberto Escórcio Duarte

Dia 26 de julho de 2016, a cidade amanheceu dizendo: Gilberto Escórcio Duarte morreu. Pouca gente sabia quem era. Quando você dizia Professor Gilberto ou Gilberto da Caixeiral, ai todos conheciam e lamentavam.
O professor voltou às origens , ao desconhecido onde tudo começa, lá de onde não se traz nada e para onde nada se leva. O Professor deve ter sido recebido por Anjos, Arcanjos e centenas de ex-alunos da Caixeiral vestidos de azul e branco, aplaudindo sua chegada, sabendo que irá juntar-se a milhares de outros benfeitores da humanidade que já o aguardavam.
Mestre, nos aguarde! Com certeza lhe seguiremos. Quando eu for, quero levar para o senhor boas noticias. Quero dizer, para lhe encher de alegria, que o Parnahyba foi campeão da séria A; que nossos políticos criaram vergonha; que a corrupção foi extinta no Brasil. Isso quer dizer, Professor, que ainda demorarei muito a chegar por ai.
Como hoje não podemos mais lhe dizer bom dia, boa tarde ou boa noite, nós seus ex-alunos, lhes desejamos uma Boa Eternidade.

(*)Benedito Gomes
Contador (UFPI)

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