Por: Pádua Marques(*)
Quando a gente estava se levantando da cadeira em frente da televisão depois de ter assistido por meses e meses pelo Jornal Nacional a queda anunciada da presidente Dilma Rousseff, lá vem outra notícia paralisante numa manhã de uma segunda-feira: a morte de Cauby Peixoto, um dos maiores intérpretes da música popular brasileira no entremeio da primeira pra segunda metade do século XX.
Sobre ele, homem e artista, sua performance no palco, as amizades de décadas e os poucos fãs sobreviventes, os críticos ainda vão levar uma pá de tempo pra entenderem como foi criado e como se manteve. O Cauby Peixoto artista nasceu e se projetou no cenário musical brasileiro ainda na época do rádio e de rádio só mesmo o Jaime Lins pra esmiuçar a vida desse pessoal como ninguém soube fazer até hoje.
Cauby era um dos últimos sobreviventes da geração oitentona que ainda vive se metendo na mídia moderna sabendo que não lhe dão a mínima oportunidade porque até os fãs somam hoje poucos exemplares vivos. Desta geração de artistas coberta pela poeira do esquecimento e deixada pra trás numa estação de trens da Sorocabana ainda permanecem na ativa o Agnaldo Timóteo, Agnaldo Rayol, Moacir Franco e a Ângela Maria. Outros como Sílvio Caldas e Nelson Gonçalves, como diria meu amigo Daniel Santos, desceram nas cordas faz um bom tempo.
Este artista da música popular brasileira que gostava e até exagerava na roupa de palco, deixou marcante a interpretação de “Conceição”, que segundo consta, vivia no morro a sonhar com coisas que o morro não tinha. Foi então que apareceu por lá um alguém que lhe cochichou no pé do ouvido e a sorrir que descendo a cidade ela iria subir. E subiu. E subiu. Todo mundo viu a Conceição subindo. Subiu mais que o Sete Estrelas. Mudou até de nome, andou e atravessou por caminhos estranhos e se juntou com gente mais estranha ainda.
A vida da estudante, ativista política, economista e finalmente presidente Dilma Rousseff é a materialização mais real dessa Conceição com apenas alguns pontos de diferença. A Conceição, interpretada na voz inconfundível do cantor niteroiense, pelo que descreve a letra, é uma moça favelada, analfabeta, sem cobertura do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida. Mas se ilude com o que lhe acena lá embaixo no asfalto a vida de fama e fortuna.
Dilma Rousseff foi diferente. Mas até que seguiu rente à letra do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Menina nascida numa família de classe média em Belo Horizonte, filha de um escritor, gente mais ou menos. Na faculdade se envolve com o movimento estudantil e parte pra militância. Vai presa, entra no camburão, toca piano na delegacia, é torturada no pau de arara, sofre o diabo! Com a queda do regime militar retoma sua vida. Mais lá na frente conhece o Lula e o PT. Foi a sopa no mel! Dilma se encantou com toda aquela conversa de poder e com tudo aquilo que dá pra fazer com ele. Agora depois da queda daria um milhão pra ser outra vez igual a essa tal de Conceição.
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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