30 de mai. de 2016

A gente não só quer comida, queremos diversão e arte!


Por: Fernando Gomes(*)
A recente disputa política em torno do fim ou não do Ministério da Cultura nos traz alguns elementos interessantes para se pensar como é conduzida esta política pública pelos governos nas três esferas de poder. Vamos pensar? Quais formas de cultura o poder público legitima como “cultura local”? Quais movimentos culturais são beneficiados pelas políticas de governo? Para quem a cultura é promovida? Como funciona o jogo do poder entre cultura e mercado?
A decisão do presidente em exercício Michel Temer de extinguir o Ministério da Cultura rendeu manifestações por todo o país. Com amplo apoio da grande mídia, repercutiu tanto que Temer resolveu voltar atrás da decisão, mantendo o Ministério. Ao refletir sobre este episódio, de cara, nos ocorre uma primeira constatação: a cultura nunca foi vista pelos governantes brasileiros como prioridade na agenda política. Um fato que corrobora esse entendimento é a criação do Ministério apenas em 1985, mesmo havendo políticas culturais desde os anos 1930. Isso demonstra um atraso na institucionalização dessa área na política pública pelo estado brasileiro. Segundo: os interesses do eixo Rio-São Paulo se sobressaem e definem os rumos da nação, inclusive como gastar o parco orçamento da pasta.
A Cultura de um País, além de sua identidade, é a sua alma. As pastas da Cultura (ministérios e secretarias) não devem ser um balcão de negócios. Nessa perspectiva, o Brasil, o Piauí e a Parnaíba precisam rever o seu papel enquanto indutores da política cultural e das próprias manifestações culturais, a partir de uma dinâmica que perceba a sociedade, nas suas mais diversas formas de expressão e contato social, como agente do campo da cultura e que se presta a manter vivo o discurso da memória, tradição e da própria identidade.
Enquanto política pública, a cultura deve ser pensada nas suas três dimensões, sem atribuir aqui uma escala de valor. A primeira é uma dimensão simbólica, sendo essencial da condição humana. A segunda como um direito. E a última, ganhando também destaque como uma economia estratégica para o desenvolvimento local.
A cidade de Parnaíba mesmo tendo uma cultura que é atraente e bastante diversificada carece de uma política pública que não ignore a sua importância social e econômica. A administração municipal exprime um déficit nesse conceito. De forma estreita credita à nossa cultura as resumidas manifestações carnavalescas e juninas (bois e quadrilhas) que, a despeito também de merecerem o devido apoio, ficam com a quase totalidade do orçamento anual estabelecido para o setor em detrimento do rol existente.
                                 São João da Parnaíba

Ainda assim, o carnaval e o São João da Parnaíba são mantidos muito mais pela abnegada força de vontade e determinação dos grupos culturais que fazem essas festas, posto que a prefeitura há muito os desvaloriza e maltrata, pagando as premiações estabelecidas em cada programação com muito atraso.
Depois de 21 anos de produção o espetáculo da Via Sacra “Um homem chamado Jesus” deixou de ser encenado em 2016 por falta do apoio prometido pela prefeitura e descartado em última hora.
No início da atual administração, Parnaíba, também teve sua Secretaria de Cultura extinta. Foi reduzida à Superintendência. Mas pior que perder o status é continuar sendo levada no faz de conta!
Já tivemos a Companhia de Dança Balé de Parnaíba, temos uma Concha Acústica obsoleta, quadras poliesportivas abandonadas, grupos culturais sem nenhum tipo de apoio, etc. Por outro lado, temos muito que celebrar! Os Museus: do Trem, da Caixeiral e Casa Simplício Dias; o maluco do idealizador da casa de cultura Teatro Saraiva; iniciativas culturais do SESC; a grandeza do grupo Raízes do Nordeste para exemplificar a luta árdua na defesa das artes cênicas sem apoio; o “Piagüi Culturalista”; os artistas das letras da geração de Assis Brasil a Diego Mendes; artes plásticas com F. Pedro e Paulo Gaspar; escultura nas mãos habilidosas de Guilherme; a luta de Dona Lozinha Bezerra no IHGGP; Benjamin Santos e o jornal “O Bembém”; Benedito dos Santos Lima e o “Almanaque da Parnaíba”; O jornal “Inovação” com Reginaldo Costa, Elmar Carvalho, Bernardo  Silva, Canindé Correia e Franzé Ribeiro; a musicalidade de Teófilo, Pituca (in memorian), Gregório e tantos artistas da cidade; o artesanato, as danças, a capoeira, o reizado, as comidas típicas e a arte cerâmica..., uma riqueza, uma beleza!
Destaque atual foi a iniciativa de ambientalistas que sugeriram ao Executivo a proposição de projeto de lei que torna tartarugas marinhas patrimônio natural do município de Parnaíba, visando fortalecer o trabalho de conservação da fauna marinha encontrada no Delta do Parnaíba, a exemplo de Cajueiro da Praia que tem a figura do Peixe-Boi Marinho.

                              Salão do Livro de Parnaíba

Também merecedor de destaque é a realização do Salão do Livro de Parnaíba (SALIPA) promovido pela Superintendência Municipal de Cultura, aqui se reconhece o esforço do jovem gestor desta pasta, Helder Souza. O SALIPA é um sucesso e no ano passado registrou a sua sexta versão, numa prova inconteste de que a sociedade não quer só comida, mas diversão e arte (Titãs). Você cidadão tem fome de quê? Você tem sede de quê?

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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