Por:Pádua Marques(*)
Digo isso pra lembrar de meus tempos de infância quando eu e meu irmão Zezinho acompanhávamos nosso pai ao mercado público de Parnaíba. O mercado público ficava na praça Coronel Jonas, esse que hoje passa por obras de restauração pela prefeitura. Naquele tempo ainda não havia os mercados da Guarita, o do bairro de Fátima e muito menos estes dois últimos, o da Caramuru e o da Quarenta, que somente vieram a ser construídos e instalados há menos de vinte anos naquela queda de braço entre o Paulo Eudes e o Mão Santa.
Eu sempre gostei de, mesmo sendo um menino silencioso e tímido, ficar observando tudo e vendo como essa gente humilde toma certas atitudes pra ir tocando a vida e se salvando das armadilhas. Eu ficava ali perto de meu pai olhando os vendedores de verduras e legumes vindos das profundezas da Ilha Grande Santa Isabel, das brenhas dos Morros da Mariana ou do Catanduvas. Aqueles homens vendendo carne ou peixe. Sujos, suados e alguns com o maldito cigarro no canto da boca e com os dentes estragados. Outros com as camisas rasgadas ou gastas e exalando bafo de tiquira vinda do Magu.
E toda aquela gente ali rodeando as pedras do mercado dos peixes e da carne em meio daquela confusão toda. Uns rindo, outros conversando animados. Outros mais à frente tristes ou reclamando de alguma decisão do governo. E meu pai ali no meio deles arriscando o preço da carne ou do peixe baixar. Eu e meu irmão Zezinho entretidos no meio de todos aquelas pessoas adultas ou de algumas crianças. Muitas dessas crianças obrigadas a serem adultas antes do tempo, levadas pela necessidade de no final da manhã levarem algum dinheiro pra casa.
Tudo naquele mercado me fascinava. As frutas sempre arrumadas e coloridas. Mangas, bananas, laranjas, melancias, cajus vindos do Labino. Tomates, cheiro verde, quiabos, pimentões, maxixes, milho verde, cajás, jacas vindas da serra de Viçosa no Ceará. Na parte de fora estavam aqueles vendedores de galinhas, porcos, carneiros, bodes. Mais lá na frente os vendedores de farinha, arroz, feijão, farinha de puba, goma de tapioca. E os homens gritando pra venderem seus produtos no meio de todo aquele inferno de gente e de coisas.
Mas ficou gravado em mim uma situação vista e sentida. Homens ou mulheres em frente às bancas de peixes. Chegavam, olhavam, enfiavam o dedo testando a rigidez ou arregalando os olhos dos coitados dos mandis, piaus, serras, traíras, piranhas, pargos, cações, pintados. Naquele tempo a maior parte do peixe encontrado nos mercados era de água doce. Manjubas, bagres, surubins. Peixes que nem sempre encontravam mercado devido ao forte cheiro. E quando vão ficando de passados pra podres ficam piores ainda. Não tem diabo que queira. O vendedor tem que encher de sal por cima e por dentro.
E aquela gente humilde e suada pelo sol a pino, de tanto ficar escolhendo, remexendo, cutucando, arregalando os olhos e as guelras dos pobres peixes mortos sabe lá há quantos dias pescados, passava um tempo danada só pra pagar mais barato. Mas acabava comprando peixe podre. E me lembro dessa passagem de minha infância de uma situação que está ocorrendo agora neste instante em Parnaíba. Não mais nos mercados públicos onde se vendem peixes, carnes, frutas, verduras e farinhas. Mas o momento político. Só ouço falar que as oposições estão conversando, cochichando, se juntando pra decidirem um nome que vai concorrer nas eleições de outubro com o Florentino Neto, que até onde alcança meu conhecimento de política não declarou ser candidato. Mas deve ser. É um direito dele.
O tempo está passando e o sol a pino ardendo no coco da cabeça. E essas oposições ainda não se decidiram que peixe vão comprar. Vem um entendido e cutuca na barriga desse ou daquele peixe ali na frente. Vem outro, olha e sai tapando o nariz. Tem cheiro forte demais. E as chuvas de março já começam a escassear e estas oposições ainda estão feito gente mesquinha em meio de feira, com a mão segurando o dinheiro dentro da burra. Pelo visto vamos passar da Semana Santa e do feriado de Corpus Christi lá em maio e estas oposições da Parnaíba ainda vão deixar o peixe ficar podre.
(*)Pádua Marques é jornalista e professor
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