Bem que eu me lembre, nunca ouvi dizer e nunca fui de ver alguém levando do mercado da Quarenta ou da Caramuru, cordas e mais cordas de caranguejos todos soltos ou muito menos alguém andando pela praça da Graça ou na praça de Santo Antonio com alguma onça ou um leão sem coleira e fora de jaula. Digo isso e desse jeito pra alertar pra uma situação que acho estranha e mesmo sem sentido que está ocorrendo com a atividade policial em algumas ditas operações pelos bairros mais distantes e principalmente naqueles locais com histórico de violência.
Aqui em Parnaíba, todo mundo sabe de cor e salteado e eu nem preciso apontar o dedo, que os bairros mais barras pesadas são, o São Vicente de Paulo, Itapecerica, João XXIII, Alto de Santa Maria, Parque José Estêvão, Piauí, Broderville, Santa Luzia, Frei Higino, Morada da Universidade e Ceará. Talvez ou não nessa ordem, mas são os assim chamados, portas do inferno, terras de ninguém. Pindorama e Guarita já tiveram seus dias de glória e fama de reimosos. Mas hoje estão mais, vamos dizer assim, pacificados.
A Guarita foi muito afamada no tempo em que era a entrada de Parnaíba e tinha muito cabaré e mulher da vida pelo meio. Hoje mulher da vida é bicho em extinção. Não se encontra uma pra fazer remédio. O São Vicente de Paulo foi desmembrado em dois, o Itapecerica, antigo Cidade de Tromba e Cidade sem Deus. Nestes dois últimos, o que acontece hoje na Síria é coisa de menor porte em relação ao que ocorre e ocorria há uns quarenta anos nestes dois bairros da zona oeste de Parnaíba.
O bairro Piauí e adjacências já foi terra pra ninguém ir depois das oito da noite, mas até que andou melhorando. Mudou muito depois da entrada e instalação de dezenas de igrejas evangélicas. Essas igrejas, convenhamos, tiveram um papel importante na pacificação daquele bairro. A violência subiu pra os lados do Betânia e do Planalto Monserrate, Raul Bacellar até na fronteira com a hoje extinta lagoa do Portinho. Mole mesmo sempre foi o bairro de Fátima, antigo Macacau. De dia, muitos bêbados e desocupados perambulando pelo seu mercado. De noite é só escuridão e sapo cantando. Desde a avenida São Sebastião até o Laborão.
Mas eu fico intrigado mesmo e cá comigo me perguntando até hoje porque em algumas operações policiais nos bairros ditos mais pesados, quando os criminosos são capturados, são conduzidos naqueles veículos com caçamba como se fossem sacos de milho ou de cimento que estão sendo levados pra obra ou pra fazenda no final de semana. Até que ponto esse procedimento é legal e seguro tendo em vista que naquele momento estão ali dezenas de pessoas, mulheres, crianças, idosos, vizinhos, curiosos, mototaxistas, blogueiros, pessoal de televisão.
E todo mundo com celular fazendo fotos. Fazendo fotos e muitas das vezes interferindo na cena do crime. E se expondo a toda sorte de imprevistos. E a televisão não acha pouco aquele espetáculo e até pede pra que o criminoso dê entrevista. Como se fosse
uma autoridade pública falando sobre uma atitude de governo, explicações sobre essa ou aquela iniciativa ou alguém com uma descoberta científica sobre o vírus da zika. Depois vem a vez dos policiais darem suas opiniões sobre a operação, mas ao que parece estão mais é preocupados na projeção pela mídia. E até arriscam opiniões sobre as penas que a justiça deve aplicar pra aquele caso. Já imaginou numa hora dessas o criminoso tenta escapar, mesmo algemado? Já imaginou numa hora daquelas aquela população toda se acha no direito de agredir o preso?
Já imaginou uma situação de tentativa de resgate desses criminosos por parte de seus comparsas em meio a uma população toda exposta naquele momento? Mais parece aquelas cenas de filmes ou reportagens do Jornal Nacional mostrando as atividades da Al Qaeda ou do Estado Islâmico pelas ruas esburacadas e abandonadas de Damasco, quando os revoltosos saem com aquelas metralhadoras e fuzis dando tiros pro alto e levando seus reféns pra depois degolarem em praça pública. Realmente é uma cena deprimente e corriqueira na periferia de Parnaíba nos dias atuais. Igual tentar desembarcar pra o zoológico um monte de onças, todas soltas, no meio de uma procissão de São Francisco na avenida São Sebastião.
Por Pádua Marques
Jornalista e escritor
Edição Blog do Pessoa
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