No cenário local, a falta de perspectiva que assola a maioria da população e o crescente índice de violência aliado ao tráfico e consumo de drogas, indicam que os conflitos e divisões da sociedade parnaibana ainda representam uma extensa sombra sobre o futuro desta cidade. Pertinente refletir qual o futuro que hoje se faz?! Por onde começar??? Onde a política pode contribuir ou influenciar nisso?
Partindo da premissa de que a decisão política interfere na vida cotidiana da gente, cabe-nos perguntar: quem está decidindo por nós? Qual a qualidade desta representação? Se nós é que escolhemos nossos representantes, onde está o erro? O que estamos fazendo para mudar este estado de coisas?!
O oprimido elege o opressor. As contradições deflagram algo de perigoso. Porém, refletir sobre tais fatos nos levam a compreensão do quanto o “sistema” político está eivado de vícios e que serve a poucos, com práticas corruptas abomináveis. Refletir já é um avanço! Mas é preciso reflexão-ação-reflexão!
O Brasil vive uma crise ética e moral deflagrada pelos casos de corrupção expostos pela operação “Lava a Jato”. A indignação que atinge a todos os brasileiros não é proporcional à manifestação dos cidadãos país afora. Se abomina a forma de poder que se apropriou do bem público em defesa de um projeto político, mas pouco se faz para exterminá-la. Muitas “firulas” sem um projeto de mudança coerente.
Quando se abre um jornal ou se vê o noticiário pela televisão é raro não nos defrontarmos com escândalos no mundo político. Casos de malversação de recursos públicos, uso indevido da máquina administrativa, redes de clientelas e tantas outras mazelas configuram uma sensação de mal-estar coletivo, em que sempre olhamos de modo muito cético os rumos que a política, no Brasil, tem tomado.
Em escala local não se percebe quase nenhum movimento de pessoas ou de organizações que se insurjam contra esta forma de poder que aqui também encontra abrigo. O “Fora Dilma” encabeçado pelo movimento “Vem Pra Rua” não consegue motivar e nem sensibilizar um contingente significativo. Estão insatisfeitos somente os poucos que vão para os manifestos? Não. E porque a inércia, tanta omissão?
O pensamento e a análise sobre o mundo moderno apresentado pela filósofa política Hannah Arendt contribui extraordinariamente para compreendermos tal complexidade. Em seus estudos – dos quais surgiram livros importantíssimos para análise da nossa realidade, como é o caso de “As Origens do Totalitarismo”, “A Condição Humana”, “Sobre a Violência” e “Entre o Passado e o Futuro” – Arendt, analisa o fenômeno da ruptura entre o passado e a época moderna, refletindo que a “crise no mundo atual é basicamente de natureza política”.
Em “Entre o Passado e o Futuro”, Arendt descreve as crises que a sociedade moderna enfrenta como resultado da perda de significado de palavras como justiça, razão, responsabilidade, virtude, glória. Depois mostra-nos como podemos voltar a pensar a essência vital destes conceitos tradicionais e como usá-los para avaliar a nossa situação presente, estabelecendo novos padrões de referência para o futuro
Há, no entanto, aspectos importantes do caráter problemático dessa questão que a ótica do poder exercido deixa na sombra. Somente a independência cultural e financeira é capaz de levar a sociedade à reflexão desse quadro complexo.
Desejável é o exercício do poder entendido como ingrediente necessário de qualquer esforço de coordenação das ações ou de organização que vise à realização de fins coletivos. Para tanto, é preciso cuidar da educação das elites políticas. E, nesse caso, não emprego “elite” no sentido miseravelmente deturpado por Lula e a escória de pensadores que o justificam.
A elite política nas três esferas de poder estão desgastadas. Um desgaste que mais mal faz à sociedade que a ela própria. É preciso uma intervenção maior da sociedade quanto às decisões políticas. Só com participação e controle social podemos minar o covil dos aproveitadores.
Assim, para uma coletividade dada, a questão de institucionalizar mecanismos de tomada de decisão coletiva representa um desafio e um problema não só no sentido de impedir que tais mecanismos redundem na sujeição de alguns homens a outros, mas também no de garantir que a atuação desses mecanismos possa ser eficaz no que concerne aos fins de qualquer natureza eventualmente perseguidos pela coletividade.
A perda do sentido político e a predominância do privado na vida pública fez com que o homem abrisse mão de sua liberdade em troca de ganhos sociais e econômicos, impedindo-os que se unam pela consciência de um interesse comum. A questão que surge é: se nós temos a “liberdade” de escolher nossos representantes porque escolhemos tão mal?
A dificuldade é que não basta uma mudança do aparato formal ou da máquina administrativa do município propriamente dita, mas reforçar os elementos de uma cultura política democrática que seja centrada no cidadão comum (feito de interesses, sentimentos e razão). A sombra do futuro e as sobras do passado assombram o presente!!!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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