Por:Pádua Marques(*)
Alguém já me falou que na Parnaíba as coisas deixam de acontecer devido a uma mania muito peculiar de se viver o presente. Eu já estou há mais de vinte anos e confesso que nunca me acostumei e certamente não vou me acostumar nunca com essa coisa de tudo aqui ser o contrário da lógica. Aqui as coisas e as pessoas que tem poder de alguma coisa adoram fazer tudo pra dificultar a fila, atrasar a saída do ônibus, criar obstáculos na catraca do cinema, enfim, deixam como está pra ver como é que fica parado o trem.
Esta semana chegaram em nossa casa, pra passar férias, meu irmão mais velho, Raimundo, sua mulher Luzia, sua filha e minha sobrinha Cristina e a única neta do casal, Beatriz, uma mocinha de uns quatorze anos de idade, filha de meu sobrinho Ricardo. Meu irmão mora há mais de quarenta anos em São Paulo. Dois dias após a chegada deles eu ensaiei um passeio pelo centro velho de Parnaíba onde me atrevia mostrar pra eles as novidades. Principalmente pra minhas sobrinhas.
Nas nossas conversas sobre a velha e a nova Parnaíba lhes falei muito e bem de alguns equipamentos, tipo Centro Cultural União Caixeiral, praça da Graça, praça Antonio do Monte, Parnaíba Shopping, na avenida São Sebastião, Casarão Simplício Dias e por aí vai. Eles ficaram assim como outros parnaibanos que moram fora há muitos anos e raramente pendem pra estes lados, de boca aberta, de tão admirados com tantas novidades. Dois dias depois eu e meu irmão fomos ao centro da cidade pra que eu lhe mostrasse alguns desses ditos melhoramentos.
Nossa primeira parada seria no Centro Cultural da União Caixeiral, esse que no dizer dos mais entusiasmados, é um brinco, mas pra mim, não assenta na orelha da Parnaíba. Eu disse, seria, porque pra meu irmão foi frustrante e pra mim, uma vergonha desse tamanho. Batemos com a cara na porta. O centro cultural estava fechado. Seguimos em frente. Depois de visitar, mesmo em obras, o Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, onde fomos recebidos pelo presidente Reginaldo Júnior, tocamos no rumo da Casa Grande de Simplício Dias, na avenida Presidente Getúlio Vargas.
Outra decepção. Não havia nada no salão onde raramente tem alguma coisa exposta. Havia era um funcionário com a cara enfiada num telefone celular e que nem procurou saber quem era eu, quem deixou de ser meu irmão, o que a gente queria e pra onde a gente estava indo. Subimos as escadas e eu, morto de vergonha, fui mostrar a meu irmão a única coisa digna de justificar a restauração daquele prédio pelo IPHAN, uma sala onde estão muito mal acomodados alguns livros, o fardão e outros objetos do escritor Humberto de Campos.
Entramos e saímos do casarão e o rapaz da portaria permaneceu com a cara enfiada no celular. Mal respondeu ao nosso agradecimento. Outros lugares que eu julgava importantes de mostrar pra meu irmão fizeram foi com que desistisse. Realmente
ninguém leva o patrimônio cultural em Parnaíba como ingrediente pra desenvolver o turismo. Eu fiquei uma manhã inteira na praça da Graça e não enxerguei um grupo ou um turista sequer visitando as igrejas, monumentos, fotografando, pedindo informações. Nada. Não dei conta de alguém procurando por um balcão de informações turísticas, comprando algum livro.
E muito menos vi nenhuma propaganda sobre este ou aquele evento promovido pela prefeitura ou pelo governo estadual pra este período de final de ano e a temporada de verão na nossa região de praias. Eu ficaria aqui o dia inteiro enumerando falhas sobre esta situação de Parnaíba não querer acompanhar o mundo.
E agora me lembro de minha mãe Carmezina, mulher com uma sabedoria fabulosa. Ela não suportava ver um de nós que fosse, por descuido ou pela pressa de sair pra brincadeira ou à escola, vestido, fosse o calção ou a camisa, pelo lado do avesso. Eu gostaria que a Parnaíba tivesse tido uma mãe igual a minha. Pra chamar a atenção, puxar a orelha, passar carão, brigar mesmo por a Parnaíba insistir de sempre estar vestindo a camisa pelo lado do avesso. De sempre estar contrariando a ordem natural das coisas. Sinceramente eu não me acostumo nunca com esse desleixo que a Parnaíba tem consigo mesma. Será que é pra ira passando sem ser notada ou, como se diz hoje, dar na vista?
(*)Pádua Marques é jornalista e escritor
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