4 de jan. de 2016

O discurso raso da sucessão 2016: desapontamento e esperança! (*)

O ano inicia e com ele os desafios que cada indivíduo carrega, seus sonhos e projetos, suas angústias e medos. A vida que segue! Com ele começa a jornada humana em busca de dias melhores: menos intolerância, egoísmo, violência e desonestidade. A história que escreveremos em 2016 pode ser melhor, basta que tenhamos isso como propósito. Mas que caminho trilhar diante tanta obscuridade?!
Particularmente inicio 2016 desapontado e esperançoso. É do campo da política que vem todo o meu desapontamento. Tenho repetido que não sou melhor que ninguém, mas por acreditar que dá para fazer diferente andei me isolando por onde circulei politicamente até aqui. O errado sou eu? Questiono-me. Quero compartilhar com você a minha angústia...
Logo mais teremos uma eleição municipal e qual o pano de fundo da disputa eleitoral? De um lado, a busca da popularidade perdida parece ser a tônica em desespero; o sentido do poder exercido não está em consonância com o bem-estar social; a lógica de quem está no poder é a de que a “máquina” fará, como sempre fez, a grande diferença. De outro, a política não é tratada como refinamento de ideias, com isso uma dificuldade de enxergar o que está acontecendo no meio em que vivemos e muito menos no que há por vir; o contra ponto existente é frágil, revela-se uma oposição igualmente insensível e medíocre.
Mas a esperança não está perdida! Como diz Mário Sérgio Cortella nunca devemos perder a esperança, mas esperança do verbo “esperançar” e não de “esperar”! Ele nos diz: “Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”.
A rigor, estamos inseridos em uma sociedade repleta de pessoas fazendo “mais do mesmo”. Na gestão e fora dela. Poucos são os que tem a coragem de bater de frente com esse sistema que nos entorpece e nos deixa inertes. O enfrentamento aos erros da gestão só ocorre na eleição, eivado de vícios. Nós deixamos tudo para “os outros”, nos isentando da responsabilidade pelo todo. Assim as pessoas estão perdendo a capacidade de acreditar em si mesmo. O oposto da coragem é a conformidade!
Quero aproveitar para me incluir nesta discussão. Eu procuro ser parte e reconhecer as minhas falhas e faltas. Eu também em muitas ocasiões espero do verbo esperar em vez de esperançar, e tenho estado assim principalmente quanto à política. Tenho que admitir que atualmente está complicado ter esperança, mas precisamos desenvolvê-la, mesmo em meio a tanto descaso e falcatruas. O que muitos políticos mais querem é que a população se torne apática e ache que “as coisas não têm mais jeito”. Desejam ainda que não desperte na sociedade o poder que ela tem e delega descuidadamente a outrem... Este ao exercer o poder delegado exacerba e desconhece aqueles que lhe confiaram o mandato. O poder legítimo é aquele conquistado e mantido com fidelidade a princípios éticos e morais!
O Mestre Dali Lama nos adverte: “Acredito que o poder genuíno vem do respeito que as pessoas têm por você. Poder de verdade tem a ver com a capacidade de influenciar os corações e a mente dos outros”. O poder que se baseia na “máquina” é artificial, superficial e não dura. Respeitam seu cargo, não você; então, se você perde o cargo, o poder e o respeito desaparecem. É como o poder de alguém com uma arma na mão: assim que baixa a arma, a pessoa perde o poder e o respeito.
O poder deve ser exercido para a promoção do bem estar social. O ciclo da gestão só se completa quando alcança as pessoas! Parnaíba da periferia não experimenta os “avanços”, nem a “decoração” da Av. São Sebastião. Temos uma administração que se auto proclama a mais competente da história, mesmo sem resultados efetivos. Há um complexo jogo de interesses que muitas vezes nem percebemos. Já o empoderado tem a impressão de ser indestrutível, imagina-se como um gladiador, quase Deus, mas não percebe que seu poder está único e exclusivamente no cargo e é efêmero.
Minha esperança é que no momento das discussões sobre a sucessão o foco seja um projeto político emancipatório, includente e participativo. E, que a população passe a acompanhar o processo político. Se o “sistema” é corrupto, cabe ao eleitor acompanhar, ver como está o trabalho dos gestores, cobrar racionalidade, fiscalizar o abuso do poder econômico e pedir medidas de modernização do sistema, garantindo transparência e maior controle democrático. Dá para ter esperança ou vamos esperar mais?!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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