Zika vírus continua causando problemas, espalhando-se rapidamente por toda a região do Pacífico, principalmente no Brasil.
O temor do vírus envolve, além das potenciais consequências físicas, a relação com a crescente epidemia de uma desordem cerebral em recém-nascidos, chamada de microcefalia. Ainda não há tratamento ou vacina disponíveis, e dado o tempo que leva para desenvolver essas intervenções, serão necessários anos de estudo antes que algo seja lançado como forma de combate. Porém, pode haver uma solução: mosquitos geneticamente modificados.
O Zika vírus é espalhado pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito responsável pela dengue, além de outra doença chamada Chikungunya. Cientistas no Reino Unido desenvolveram, e estão implementando, uma forma eficaz de reduzir as populações da espécie, através de manipulação genética e programas de liberação controlada de insetos.
Criado pela empresa de biotecnologia Oxitec, o OX513A – apelidado de “mosquito amigável” -, possui um gene que faz com que sua prole morra antes de atingir a idade reprodutiva. Assim, quando os machos são libertados em áreas onde os mosquitos são comuns, eles competem – com sucesso – pelos exemplares femininos, conduzindo a uma redução no número da prole, sem a necessidade de pesticidas. Porém, ainda não foi possível erradicar a população de mosquitos.
“Quando se elimina este mosquito, você também acaba com todas as doenças que ele transporta. É por isso que esta abordagem é tão poderosa, mesmo sem prejudicar outras espécies”, disse o gerente de comunicações da Oxitec, Chris Creese, em entrevista à IFLS Science.
Na sequência de extensas avaliações de segurança e de desempenho, os mosquitos passaram com sucesso em vários países da América Latina e Ásia. No Brasil, por exemplo, os resultados foram tão animadores que o projeto foi expandido na cidade de Piracicaba, onde, em apenas nove meses, a quantidade das larvas de mosquitos diminuiu em 82%, no bairro CECAP/Eldorado. Além disso, provocou um impacto considerável sobre as taxas de doenças.
“É importante lembrar que, em 2014/15, CECAP/Eldorado teve 133 casos de dengue, a maior incidência na cidade de Piracicaba. Em 2015/2016, após o início do projeto do ‘mosquito amigável’,tivemos apenas um caso”, disse Pedro Mello, secretário de saúde de Piracicaba.
O Programa de Piracicaba oferecia cobertura para 5.000 pessoas, e agora foi prorrogado por mais um ano. Além disso, um decreto assinado deseja expandir a cobertura para até 60.000 moradores. A ação poderá ser colocada em prática para que, em um determinado momento, até 300.000 moradores sejam agraciados. “O bairro CECAP/Eldorado teve a maior incidência de dengue, por isso foi o primeiro alvo. Agora, na sequência de uma redução dos mosquitos e casos de dengue, a continuidade e a expansão do projeto devem evitar, além da dengue, Chikungunya e Zika vírus, barrando uma epidemia”, disse Creese.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, emitiu orientações para conter a propagação do Zika, e alguns países estão recomendando até que mulheres evitem engravidar devido a um aumento aparente em defeitos congênitos associados. Porém, Creese diz que estas não são soluções a longo prazo, por isso a importância do projeto.
Os resultados destes programas de mosquitos modificados são positivos e podem incentivar outros países a seguir o modelo que o Brasil começou a abraçar. Seria uma forma sustentável e eficaz de combater as doenças transmitidas por insetos.
Fonte Jornal Ciência
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