O último dos pescadores

Zé Buraco, único pescador de curral de Barra Grande, observa as mudanças com bons olhos

Zé Buraco, pescador de Barra Grande, litoral do Piauí. – Foto: Gabriel Tôrres/CT

BARRA GRANDE – Pesca artesanal com armadilhas de peixes em alto mar, é assim que o último pescador em curral de peixes, Zé Buraco, tira, desde os seus 15 anos de idade, o seu sustento na praia de Barra Grande, Cajueiro da Praia, litoral do Piauí.

Zé Buraco, hoje com 74 anos, é o único vaqueiro de curral, como são chamados esses pescadores, da região que ainda leva diariamente sua rede para alto mar. “Todos os outros pescadores já morreram. Fiquei só eu mesmo. Meus filhos não quiseram aprender o trabalho. Não é uma vida muito fácil, mas eu gosto”, conta.

Zé Buraco, observa a maré na praia de Barra Grande – Foto: Gabriel Tôrres/CT

Todas as manhãs, por volta das 10h, o pescador vai para a beira do mar observar a maré baixar para checar o seu equipamento e recolher os peixes que ficam presos no curral. “Dependendo da lua dá para ir a pé. A lua muda a maré. Qual está na cheia, a maré sobe e temos que ir de barco. As vezes passamos o dia em alto mar para pescar os peixes e ajeitar o curral para pegar mais”, explica.

Ainda jovem, Zé Buraco foi para Belém do Pará trabalhar na captura de camarão. O pescador foi para o norte do país em busca de uma vida melhor. Voltou 20 anos depois por estar “muito velho para trabalhar nas empresas” e começou a ver o desenvolvimento turístico e as mudanças na estrutura de sua cidade.

Zé Buraco volta de mais um dia de trabalho duro no seu curral – Foto: Gabriel Tôrres/CT

Crescimento de Barra Grande

“Antes tudo aqui era areal e casa de taipa. Hoje é tudo de tijolo”, descreve Zé Buraco ao ser questionado sobre o crescimento da cidade. Segundo o pescador, antes ali só haviam pescadores, hoje, todos os seus vizinhos são italianos e tem sempre gente de fora na pequena cidade.

Os peixes do curral que antes eram para consumo próprio e venda no Cajueiro da Praia, município do qual Barra Grande faz parte, atualmente são vendidos para turistas. Além da pesca, Zé Buraco aluga sua casa por temporada. “Aqui mudou muito e acabou mudando um pouco minha vida também. Eu gosto disso. Tem mais movimento e gente diferente”, finaliza.

Por: Claryanna Alves/Capital Teresina