25 de set. de 2015

Por uma Política de Desenvolvimento para o Estado

Por Roger C. Jacob
A história nos mostra que o caminho para o desenvolvimento passa necessariamente pelo processo de industrialização. Durante muitas décadas houve um consenso sobre esse fato e entre os anos 30 e 80 o Brasil foi um dos países de maior crescimento no mundo, tendo enfrentado o desafio de se industrializar como um projeto nacional.
Nas três décadas a partir dos anos 80, o país aceitou a diminuição persistente de sua base industrial, construída com esforço de gerações de brasileiros, chegando ao ponto de hoje a participação da indústria no PIB ser equivalente ao que era em 1957. Voltamos a ser meros exportadores de commodities, submetidos ao sabor das cotações internacionais que decidem se teremos prosperidade ou pobreza.
No Piauí, estamos a reboque das políticas nacionais, e o desenvolvimento econômico é visto como uma coisa exógena, mais relacionado à atração de empresas de fora, do que ao esforço do estado e do povo piauiense. Sem dúvida, atrair capitais de fora é muito bom, o Piauí é uma terra de excelentes oportunidades e somos sempre acolhedores aos que aqui chegam para compartilhar de nosso destino. Mas, em um estado que tem o tamanho da Itália, 12ª maior economia mundial, seria correto entender que esse seria nosso único caminho?
Temos orgulho de nossas escolas, que são nacionalmente reconhecidas, mesmo algumas públicas; temos alguns nichos de excelência em nossas universidades, mas será através dos investimentos em Ciência e Tecnologia que esses jovens poderão realizar seus potenciais e será da indústria que surgir daí que mudará a realidade de nosso estado! A Educação muda o mundo, mas suas ferramentas de ação são C&T e Indústria. Sem isso, continuaremos mandando nossos jovens talentos para outros estados e aceitando nosso subdesenvolvimento.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos entenderam que ciência e tecnologia era o instrumento que preservaria a proeminência norte-americana no cenário mundial. Dessa forma, montaram um aparato de C&T gigantesco, espalhado em diversas agências e universidades. Todo esse desenvolvimento tecnológico que vemos como uma coisa espontânea do capitalismo americano, na verdade é fruto de uma política consistente e continuada de fortalecer o poderio nacional através de ciência e tecnologia.
Entender que o investimento em ciência e tecnologia é o elemento de “virada de jogo” que pode construir uma economia e um estado fortes é fundamental para o Piauí. Para isso precisamos lidar com “política de ciência, tecnologia e inovação” e com “política industrial” de maneira proficiente, estabelecendo um compromisso que vá além dos ciclos eleitorais.
Perdemos a oportunidade da época de grandes investimentos nacionais para implantar as infraestruturas tecnológicas e de logística que seriam necessárias para viabilizar um desenvolvimento econômico robusto por muitos anos. Devemos, pois, priorizar a criação de produtos de alto valor agregado e de grande conteúdo tecnológico, que possam superar as barreiras da logística deficiente e servir como força motriz do desenvolvimento econômico durante os próximos anos.
Mas precisamos de infraestrutura tecnológica: nossas universidades carecem de laboratórios e, apesar de termos um bom volume de PhD´s, ainda é menor que a média de doutores per capita do Nordeste. Portanto, seria essencial direcionar recursos de emendas individuais para a UESPI, de maneira continuada, para poder dar o mínimo de capacidade de trabalho nessa universidade. As emendas de bancada deveriam financiar também a construção de laboratórios na UFPI e no IFPI.
Precisamos fazer um planejamento articulado de C&T e de Indústria do estado e nele inserir as questões da Indústria 4.0 (sistemas ciber-físicos), com a crescente necessidade de sensores e de produtos oriundos da nano e da nano-biotecnologia. Devemos considerar nossa capacidade já existente nos produtos tradicionais da indústria local e integrar com essas fronteiras tecnológicas. Chama atenção que carnaúba, babaçu, mel e caju não tenham pesquisas que qualifiquem esses produtos para continuarem sendo força pujante em nossa economia. Aliar esses produtos à nano tecnologia, pesquisar processos extrativos mais modernos e estudar melhor os potenciais dessas plantas por inteiro, parece-me algo que pode oferecer retornos rápido ao estado.
No cenário provável de recursos limitados, projetos com maior integração com o parque industrial e com maior potencial transformador tenderão a serem mais competitivos na captação de recursos de P&D. Logo, é necessário concentrar esforços estabelecendo prioridades estaduais para pesquisa e trabalhar a integração dessas pesquisas com a produção.
Na área de química e farmacêutica o estado possui algumas empresas de bom padrão tecnológico, mas que não possuem a habilidade institucional para captar as verbas públicas federais para P, D & I, estas devem ser apoiadas pelo aparato estatal nesse intento. Porém, a grande maioria das empresas industriais do estado está em nível tecnológico primário e promover essas empresas é um desafio que deve ser enfrentado, a FIEPI e o SEBRAE têm muito a oferecer em articulação com o Governo do Estado.
Por fim, é preciso lembrar a todos que investimentos em C&T necessitam de tempo para maturar e de um fluxo constante e confiável de dinheiro para não interromper as pesquisas e as implantações. Além de tudo, C&T é algo dinâmico e tempo é uma variável importante, o equipamento de ponta hoje estará superado em 2 anos, se muito. Editais e licitações bem feitos, que previnam a judicialização, são fundamentais.
Devemos acreditar em um Piauí forte, desenvolvido, e temos de assumir a responsabilidade por fazê-lo assim e não delegar nosso futuro às empresas que poderão vir se instalar aqui. Não conseguiremos sucesso no enfrentamento desse desafio sem considerar a ciência e a indústria como nossas grandes ferramentas.
Roger C. Jacob é economista pela PUC-RIO, especialista em Políticas e Estratégias de Defesa pela Escola Superior de Guerra. Empresário, Presidente do Sindicato da Indústria Química e Farmacêutica do Piauí e Diretor Comercial da Companhia Administradora da Zona de Processamento de Exportações de Parnaíba, S.A..
Fonte: Tudo Econômico

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