Nesses dias entre o feriado
da Independência do Brasil e de muito trabalho pela organização das
comemorações da Semana da Imprensa e outras tantas atividades eu resolvi fazer,
como sempre faço, uma visita à despensa de minha casa. Aquela visita em que,
entre não ter coisa nenhuma pra fazer naquele momento e descobrir no meio dos
suprimentos alguma coisa interessante eu acabei achando mais do que estava
procurando.
Na verdade essa minha
visita à despensa tinha uma segunda intenção, a de descobrir naquele armário
tão limpo e tão bem organizado pelas minhas irmãs, algum produto fabricado no
Piauí, desses produtos que formam a chamada cesta básica de qualquer família,
os conhecidos suprimentos secos, arroz, feijão, farinha de mandioca, açúcar. Me
surpreendi e decepcionei com a excursão naquele armário da despensa de minha
casa.
Realmente, como diria
mãe Mina, o Piauí não planta aquilo que come e nem muito menos costura a roupa
que veste. O arroz e a farinha de mandioca são trazidos de milhares de léguas
de distância, de bem longe, mas longe mesmo, de Goiás. A farinha é a mesma
coisa ou até de mais longe, do Pará e do Paraná. O feijão vem da Paraíba, do
Rio Grande do Norte. A goma de mandioca, aquela mesma com a qual se faz a
tapioca pra o café das três, vem da Bahia. Vez por outra a gente ainda encontra
uma coisinha aqui e ali. Uma cajuína, uma peta, mas não é coisa de muita
admiração.
De frutas nem se fala.
Laranjas, abacaxis, jacas, atas, bacuris, abacates, tudo vem da serra da
Ibiapaba, aqui no vizinho Ceará. Aqui tem dado mal o caju. Mangas até no meu
tempo de menino vinham do Maranhão, aqui dessa região de após a ponte do
Jandira, Canabrava, Novo Horizonte, do Magu e redondezas. E passei a procurar
agora entre os produtos pra limpeza algum de fabricação aqui do Piauí.
Nem sabão de barra ou
em pó, muito menos creolina, nem vassoura de piaçava, nem saco de estopa pra
limpar merda de menino, um espanador, coisa assim. Coisa nenhuma. Nada. E tem
um negócio de um tal de Tabuleiros Litorâneos que até hoje é mais segredo do
que o que tem embaixo das pirâmides do Egito.
Fechei a despensa e fui
passear na geladeira. Coisa pior me esperava. Carne de gado vem de longe.
Porque outra coisa que sempre me deixou com uma dúvida enorme e nunca ninguém,
por mais que eu pergunte nunca me respondeu, de quantas cabeças se constitui nosso
rebanho bovino, pra corte e pra leite? Aliás, a carne de gado que aparece nos
mercados públicos e nas feiras, essa certamente vem de bem longe porque ninguém
descobriu onde fica essa moita. Mas a gente imagina que seja nalgum complexo
agropecuário muito importante lá pras bandas do Sabiazal.
Calcule outros produtos
mais difíceis, os ditos exóticos. Desses que a gente apenas sabe que existem
pela televisão e que nem vou falar os nomes com medo de passar vergonha. E eu
fiquei cá comigo me perguntando como é que um estado do Piauí desses vive em
cima da terra. Não produz nada. Compra praticamente tudo que consome. E me
admira que logo que cheguei a Parnaíba fui apresentado a um empresário da
região da Coroa de São Remígio, em Buriti dos Lopes. Estava ele abrindo uma
fábrica de farinha de mandioca. Pelo visto a coisa não andou e, como os
entendidos falam, a farinha embolou o caroço. Foi pra frente não.
E me causa estranheza mais
ainda essa coisa de se importar arroz se essa mesma região de Buriti dos Lopes
é grande produtora. Pelo menos é o que alguns dizem. Mas onde a gente pode
encontrar esse produto tão precioso, esse arroz produzido no vale do Pirangi?
Como é que não pode ser
caro tudo dentro de um supermercado nessa Parnaíba se tudo vem de fora? Até
água mineral pra molhar os beiços vem de fontes daqui dessa região do
Maranhão?! Tinha fábrica de sabão rajado em barra, fechou o Moraes. Tinha
fábrica de óleo de cozinha, fechou o Moraes. Pelo visto esse tal de Moraes
fechou foi a Parnaíba. Tinha fabrica de Guaraná Nordeste, acabou. Ficava atrás
da Santa Casa. Tinha fábrica de vinagre, acabou. Tinha uma cooperativa de
laticínios, chamada Delta, acabou porque tinha muita confusão entre os sócios.
Alguém aí se lembra de mais alguma?
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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