Conheço Francisco
Ribeiro desde quando cheguei aqui há mais de vinte anos, embora já admirasse
seu trabalho como artista primitivo há mais tempo, sempre que vinha passar
férias em Parnaíba. E sempre fiquei impressionado como aquele homem tão
simples, tão humilde, de baixa estatura física, morador lá dos confins do
Broderville poderia ser se quisesse ser tão soberbo e caçador de fama se outro
fosse.
E quantas e quantas
vezes vi aquele mestre da arte santeira piauiense e dos famosos cachorros de
pau sentado na frente de um hotel na avenida Chagas Rodrigues com alguma peça
por perto. Uma Nossa Senhora de Fátima, um São Francisco, um cachorro de pau,
cabeça-de-cuia. Estava ali, não procurando fama, essa fama instantânea tão perseguida
por alguns medíocres. Estava ali Francisco Ribeiro tentando arranjar mercado
pras suas peças.
Ali sentado esperando
um futuro hóspede ele ficava ou ainda fica na humilde expectativa de que alguém
lhe comprasse ou compre a peça. De preferência americano, canadense, francês ou
alemão. Gente do estrangeiro ou de fora, Fortaleza, Brasília, Rio Grande do
Sul. Vem descendo do carro e vê aquela
peça, feita de madeira catada nas cercanias do Broderville. Só tem de ser gente
de fora. Porque muitos dessa gente da
Parnaíba gostam mesmo é de mangar. Nunca perderam essa mania miserável de
molecagem.
E as peças de “seu”
Francisco Ribeiro ganharam o mundo. Estão hoje sendo peças de decoração com
assinatura exclusiva em muitas casas de ricos fora do Piauí e do Brasil. Estão
no Japão, Canadá, Estados Unidos, Alemanha. Talvez até em galerias e museus
importantes. Certamente que Francisco Ribeiro, pelo que já vendeu, desde quando
o conheço, mal deu pra levar alguma coisinha pra colocar na panela nessas suas
viagens até o centro de Parnaíba e a porta do Hotel Cívico.
Conheço outros artistas
plásticos de Parnaíba tão bons e sublimes, mas tão humildes quanto é Francisco
Ribeiro. E entre eles falo agora de Juca Lima. Essa figura tão maravilhosa,
detentora de um estilo tão particular, mas esquecida pelos que estão embaixo do
cobertor do poder e até aqueles que tendo poder de falar e lhe dar projeção
colocam a mão na boca e tapam os ouvidos quando hoje se pronuncia seu nome.
Francisco Ribeiro, que
esteve quase cego, mas ajudado pela Rosário Barros, da Cooperativa Artesanal
Mista de Parnaíba, conseguiu sair de casa e ganhar novamente a projeção
merecida. Tardia. Tardia porque se olharmos pelo que fez em nos projetar lá
fora como mestre de arte primitiva, tanto quanto se vê e se sente em Zilda Vaz
com seus quadros, ele fez muito pela Parnaíba. E o Centro Cultural da União
Caixeiral lhe presta até setembro uma homenagem em vida com um documentário.
E agosto começa com
essa notícia tão boa. Eu em particular fico com o coração regozijado.
Finalmente alguém de fora vê aquilo que os de dentro nunca viram ou fizeram
questão de não ver.
Agosto começa com
muitas expectativas. De que vamos sair da crise. Não ainda hoje ou amanhã, mas
depois. Precisa a gente ter fé primeiro pra coisa dar certo. Agosto começa com
a intenção da prefeitura de Parnaíba em dar destino de um museu pra Casa Grande
de Simplício Dias. A gente sabe que todo esse processo de licitação,
desenvolvimento de projeto, execução de obras e finalmente a entrega, são
coisas de demora. Mas já é um começo. Melhor que ficar esperando que agosto
seja mais um mês de cachorro doido.
Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor
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