27 de jul. de 2015

Turista duro que nem beira de sino.


Essa semana uma coisa me chamou a atenção aqui nesta parte ocidental do fim do mundo. Muitos portais e blogs repercutiram reclamações de turistas vindos das bandas de Teresina e que denunciaram a provável formação de cartel por parte de donos de postos de combustíveis e estariam cobrando um preço único, acima de três reais e uns quebrados.

Mas o que me chamou a atenção foi que a denúncia que tanto furor e receptividade causaram entre blogueiros famintos por escândalos não trazia o nome ou os nomes dos denunciantes e nem dava nome aos bois. Mais pareceu coisa plantada. Coisa tipo jogar uma pedra na verde pra derrubar a madura. Ou mais, se colar, colou. Porque está virando moda esse negócio de muita gente se meter a turista lá pras bandas da capital e dessas cidadezinhas mais próximas e vir descontar sua mesquinhez aqui na Parnaíba, Luiz Correia e Barra Grande.

Certo que em muitas das vezes a gente percebe e constata mesmo que há abusos em relação a preços de refeições, bebidas, acomodações e outros serviços que fazem a cadeia turística funcionar. O sujeito sai lá da aldeia dele se metendo a turista de primeira classe, enche o carro de gente e tudo o que é apetrecho e se manda no rumo da praia da Pedra do Sal e de Amarração ou Barra Grande. Percorre nessa brincadeira toda quase quatrocentos quilômetros e quer chegar ao seu destino e comprar gasolina a dois reais?
Vem no carro com a mulher e os meninos, parentes, amigos, amigos dos amigos, sogra, compadre, empregada e vai direto pra praia. Quer comer peixada. Geralmente pede uma cavala ou pescada amarela, o que há de melhor. Come, se lambuza todo de farofa, os meninos comendo churros e salgadinhos e bebendo Coca-Cola. Em muitas das vezes o idiota traz um litro de Old Par, White Horse ou Red Bull, Ron Montilla e fica tirando fotos com o celular pra quando voltar causar inveja nos abestados da terra dele.

Sabendo que está tomando uísque falsificado, feito com água da chuva ou de cacimba. E agora na hora de pagar a conta quer porque quer criar confusão. Diz que não é aquilo, que é roubo, que está sendo explorado. Abre a boca pra dizer que, se fosse nos Estados Unidos ou na Europa a coisa não era isso e mais aquilo. Como se algum dia ele e a família dele tenham atravessado a fronteira do Bom Princípio com o Cocal. O certo é que esse turista que infesta nossas praias ainda é aquele turista de quinta categoria, duro que nem beirada de sino ou que não gosta de abrir a burra.
Quer tudo de graça ou quase. É muito mal acostumado em vir pra praia se hospedar na casa de algum parente ou conhecido na Parnaíba ou Luiz Correia. Acha que o peixe servido à mesa dele veio assim sem mais nem menos e não teve nenhum custo pra o dono do restaurante. Quer que a mulher, a sogra e os filhos tomem água de coco ou refrigerante achando que o coco e o refrigerante vieram de graça, assim na melhor, pra ser servido. Quer tomar cerveja com uísque falsificado até ficar sem condições de encontrar a carteira ou abotoar a braguilha da bermuda e achando que o comerciante dono da barraca está roubando ele. Marmenino!
E que este comerciante não paga impostos, não tem obrigação de pagar a empresa que lhe vendeu a cerveja, o refrigerante e a água mineral. Que comprou gelo e tem de pagar energia elétrica que faz funcionar o freezer ou a geladeira e ainda pagar o funcionário. É um tipo de turista sem as mínimas condições de se dar a ele condições de conforto. Gosta de criar situações embaraçosas pra depois sair falando mal do estabelecimento e consequentemente da região.

Acha que turismo é coisa de sair de casa com um monte de sacolas, farofa de carne de sol, uísque falsificado e ocupar horas e horas as mesas dos restaurantes apenas com uma garrafa ou uma latinha de cerveja. Depois quer achar gasolina barata. Quer comer peixada da melhor qualidade e pagar um preço mínimo, bem abaixo do mercado. Pois que vá pra os Estados Unidos e a Europa, já que tem esses países como referência! Turismo é coisa cara. Sempre foi assim e sempre será assim em qualquer lugar. Não quer gastar dinheiro, não saia de casa.

Por Pádua Marques
Jornalista e Escritor

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